Capítulo 03 - Razão, Emoção.

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Dizem que quando você está prestes a morrer... sua vida passa diante de seus olhos.

— Então, você encontrou o que queria?

A voz, sabia bem de quem a pertencia. Seus olhos estavam fixos em um DVD; O Enigma de Outro Mundo, de 1982, dirigido por John Carpenter. Era uma informação desnecessária, sabia que se dissesse a ela, talvez achasse estranho. Ele achou melhor guardá-la para si mesmo.

— Sim — sua voz soou em baixo tom, enquanto ele se virava.

"Quer sair comigo?", foi o que sua mente processou, mas seus lábios travaram. Nesse instante, Lessie Campbell prendeu uma mecha de cabelo por trás da orelha e estendeu a mão, sabendo que o cliente levaria o DVD para casa.

— Deu 2 dólares; a cada dia, a taxa de aluguel aumenta em 1 dólar e assim por diante.. blá, blá, blá... você sabe como funciona! Posso te ajudar em algo mais?

"Sim, me dê seu número", queria dizer. "Você não tem coragem de pedir". "Desista, você não vai chegar a lugar algum".

— Acho que não...

— Ótimo, menos trabalho pra mim — disse Lessie, pondo o DVD dentro de uma sacola. — Prontinho, aqui está.

Seus olhos fitaram a sacola. Ele a pegou, segurando sem vontade. Lessie começou a contar os dólares do caixa, fazendo o registro. Sabia que não estava ali por filmes, ou clássicos. Já havia visto aquele filme, diversas vezes, veria mais uma vez; mas não estava ali por isso... nesse momento, seu coração começou a bater mais rápido; a ansiedade tomando conta do seu corpo, fazendo-o suar e raciocinar menos; não havia razão, apenas emoção.

— Há um filme que vai estrear. Dentro de uma semana — sua fala era rápida e confusa.

Lessie Campbell parou de contar as cédulas e voltou-se ao Garoto, que mantinha-se sério; parecia irritado com algo, ou alguém... ela precisou repetir a pergunta em sua mente algumas vezes, na tentativa de tentar entender o que havia acontecido ali. "Filme, semana...?", "Ele quer saber quais filmes chegam na locadora próxima semana?"

— Hã? Pode repetir... por fa?

— Quer sair comigo?

Dessa vez o tom havia sido alto e claro. Sequer se conheciam. Ele era mais alto; ela gostava disso. Mas não sabia o seu nome, nem o que fazia. Quem era ele?

— Qual o seu nome? — ela perguntava.

[...]

Havia um garoto naquele quarto; entediado, cansado. Era o "Restaurante no Fim do Universo", uma das peças para encontrar a resposta do Número 42. Mas qual era a pergunta? Ele marcou a página e pós o livro de lado. De pé, o sangue espalhou-se pelo seu corpo, promovendo-o uma leve tontura momentânea, de quando passamos muito tempo sentados, sem fazer nada. "Não tem nada pra fazer". Ou "O que tem pra fazer?", eram as duas coisas que mais passavam pela sua mente. Já havia zerado todos os jogos que estavam disponíveis e não havia nenhum lugar para sair. E caso houvesse, estava cansado de ir sozinho. Como passaria os próximos anos? Será que conseguiria encontrar alguém? Será que alcançaria algum sucesso na vida? Incógnita.

Ninguém sabia o que esperar do futuro, nem mesmo, Oliver Baker.

[...]

Um momento que eu ainda não vivi. Uma sirene. A mais alta que havia ouvido. Dejavu.

O painel da nave piscava como uma árvore de natal, enquanto um vazio tempestuoso, sugava e consumia tudo à sua frente. A ordem era utilizar os PODS de emergência; estavam tentando dar um jeito nisso, o convés tornava-se cada vez mais íngreme, à medida que avançavam até a Baia de Lançamento da Everdream. Estava escuro para enxergar, mas seu corpo movia-se com dificuldade, devido a ausência de exercícios físicos.

Ofegante, sentia-se cansado.

Sua mente queria apenas desistir de tudo aquilo, mas seu corpo anseiava pelo desejo de sobreviver; era instintivo. Tentaria de tudo para viver, precisava tentar... conseguia avançar pelo convés. Os incentivos o ajudavam um pouco, mas quando um destroço atinge sua nave, você não tem outra escolha.

É preciso aceitar.

Suas costas atingiram o painel da nave, que começou a rachar, como uma teia de arenha. Estava preso; seu corpo dóia, sua tosse espirrava sangue. Ele conseguia ver Sophie, relutante, decidida a não deixá-lo para trás, mas era tarde demais; tudo havia sido perdido. O último POD zarpou para longe; as naves que estavam seguras, assistiam aquela cena, atônitos, em choque. A Everdream havia sido levada através de um vazio, assim, desaparecendo.

— É minha culpa — dizia Sophie Wallenstain, jogando-se no braço de uma tripulante. — Oliver, ele...

— Não é sua culpa! — ela a abraçava de volta. — Ninguém tem culpa... aconteceu.

— Mas fui eu que insisti para ele vir... e agora ele... — havia lágrimas em seu rosto, de joelhos, ela chorava como uma criança, depois de ser agredida pelos pais.

Eu era incapaz de mudar meu próprio destino. 

Só mais uma peça, um mero peão, incapaz de voltar à casa anterior.

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⏰ Última atualização: Dec 21, 2021 ⏰

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