Os Anos Depois

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1945

Nos três anos em que a guerra durou, Quinn não viu Rachel nenhuma vez. Nem um vislumbre, nem uma palavra sobre uma judia foragida em Strausberg, nada. Não era como Quinn quisesse procurá-la. Com a Alemanha caindo aos poucos, os militares eram os mais atingidos, não importasse se estivessem aposentados como Sam ou não.

Sam sugeriu que os dois se mudassem de volta para Berlim no início de 1945, prevendo que a guerra já estava perdida. Os bombardeios foram mais intensos entre fevereiro e abril, quando finalmente a notícia de que Hitler tinha se matado esteve em todos os jornais por uma semana, e em seguida a rendição da Alemanha. Foram dias tensos, tendo sua casa inspecionada por russos, estadunidenses e ingleses, mas Sam ofereceu tudo o que sabia sobre o exército alemão aos Aliados em troca de manter o clube anti-Hitler e as Fabray a salvo (os crimes de Russell eram graves demais para que Sam pudesse livrá-lo).

— Precisamos convencer sua mãe a mudar para cá — disse seriamente Sam, dias depois que a rendição da Alemanha tinha sido declarada e os Aliados desfilavam por Berlim. — O país será dividido. Metade para os capitalistas e outra para os russos.

Quinn franziu o cenho.

— Como sabe disso? — ela perguntou, desconfiada. — É impossível que aqueles soldados saibam o que vai acontecer a partir de agora.

— Espólio de guerra, Quinn — disse Sam. — Nós perdemos, nosso país será dividido. Por mais que Hitler fosse ruim, os russos serão piores. Eu não estou dizendo que os EUA são melhores, mas a liberdade que eles nos darão é bem melhor que a dos soviéticos.

Quinn assentiu, preocupada. Na semana seguinte, Judy, Frannie e Chloë se mudaram para a casa simples de Sam e Quinn, nada comparada à mansão Fabray, que agora vinha sendo usada como hospital temporário para os feridos soviéticos.

— Seu pai está preso — Judy informou à filha mais nova, como se ela não soubesse. — Dizem que irão julgá-lo em Nuremberg. Não faço ideia como e nem por que! O que está acontecendo com a nossa família, Quinnie?

Quinn preferiu não responder à mãe. Sam não contara dos crimes que seu pai cometera nos últimos anos, mas Quinn tinha uma ideia do que seria. Russell era contador e deveria ter financiado a construção de campos de concentração em vários lugares da Europa dominada por Hitler.

Entre os meses de abril e agosto, Quinn não se preocupou em procurar Rachel em cada esquina toda vez que saía de casa. A cidade estava destruída, tanto seus habitantes quanto seus prédios. Levaria um tempo, talvez anos, até que Berlim estivesse em seus novos dias de glória, assim como estivera naquele verão de 1936, quando Quinn fora nas aberturas das Olimpíadas. Ela estava feliz pela derrota alemã, mas triste por ver a cidade em que crescera daquela forma.

A guerra ainda acontecia no Atlântico em agosto.

O clima quente da cidade só piorava e Quinn estava louca para ir com Sam e a família para um clube que sobrevivera aos ataques Aliados e voltaria a abrir naquela semana. No entanto, ao escutar o locutor de uma rádio do governo anunciar o uso da primeira bomba atômica no Japão, ela perdeu completamente o humor para um bom banho de piscina.

Três dias depois, outra notícia de outra bomba atômica em outra cidade japonesa. Truman está louco, afirmou Dieter, que os visitava no dia com Ágata. Quinn não fez nada além de concordar. Como alguém teria coragem de matar milhares de inocentes apenas para provar sua força para o mundo? Se o capitalismo era uma solução melhor que o socialismo, o que ela e a família estavam fazendo do lado Aliado de Berlim?

— Isso é o início de uma nova era de pavor — comentou Ágata. Chorava, pois, assim como Quinn, presumia que o mundo estaria de novo em paz com a morte de Hitler.

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