Capítulo 7

568 45 2
                                    



O Sal' s era um restaurante italiano medíocre, que as pessoas continuavam frequentando mais por hábito do que por desejo real pela comida típica.

Tecidos verdes e vermelhos cobriam uma enorme mesa, onde era servido um belíssimo bufê de saladas que Sal instalara quando Anahí e Alfonso e a maioria dos fregueses eram os rebeldes de seus dezoito ou dezenove anos.

Aquela fora a última mudança ou reforma que Sal fizera em sua cantina. Anahí se recordava de ir àquele estabelecimento quando era ainda criança, e tinha absoluta certeza de que, exceto pelos preços do cardápio, nada muito significativo mudara por ali.

As crianças adoravam aquele lugar, sobretudo porque as mesas eram cobertas de fórmica de lousa branca e a garçonete sempre levava lápis de cera de dúzias de cores diferentes para que elas pudessem pintar e se divertir enquanto esperavam a refeição chegar, além de ganharem bexigas e pirulitos dos mais variados formatos.

Anahí fez questão de ir àquele restaurante em particular por muitos motivos, porém acima de tudo porque o Sal's fecharia em poucos anos. Ela sabia disso e gostaria de prevenir o bom e velho Sal, avisando-o de que, de alguma maneira, os filhos dele não manteriam o controle do negócio e o venderiam num dos leilões mais famosos do país: o Centro Médico Holístico Nova Era.

Quando adentrou o recinto com sua família, o desgastado esta­belecimento pareceu-lhe como um pedacinho do paraíso. Genaro, o filho mais velho de Sal, estava no caixa, e Anahí ficou muito tentada a se aproximar do rapaz e ter com ele uma conversa séria sobre família e tradição, mas deteve-se quando viu-lhe o rosto. O rapaz parecia tão infeliz, com bolsas escuras e inchadas embaixo dos olhos e tantas rugas de expressão que nem a medicina mais holística do planeta seria capaz de dar um jeito.

Genaro parecia um homem vivendo os últimos dias antes de cumprir uma sentença de morte. Engraçado, mas, nas lembranças de Anahí, o Sal's era sempre um lugar muito alegre, onde tanto os donos como os garçons eram sempre sorridentes e atenciosos.

Como para não contrariar a verdade, quando Genaro os avistou, abriu um sorriso simpático e saiu de imediato de trás do balcão para ir recepcioná-los e lhes dar as boas-vindas de um modo que os fez sentirem-se como se não tivessem sido esquecidos.

Por mais que o garoto estivesse sofrendo, e Anahí tinha cons­ciência de que estava, fazia o possível para disfarçar e fazer justiça à fama de ser aquele um local que sabia como recepcionar seus clientes.

Foi quando Anahí se deu conta de que não poderia prevenir Sal sobre o futuro. De repente, entendeu, por uma forte intuição inexplicada, que não tinha nada a ver com aquilo, que o tema não lhe dizia respeito de forma alguma. Era como se uma pequena voz interior a estivesse avisando de que retornara para mudar o próprio destino e o destino de seus entes queridos, e não o de outras pessoas também.

- É bom estar de volta aqui, Genaro. - Ao sorrir, Anahí se comprazeu com a sinceridade da frase.

- O prazer é todo nosso - afirmou o filho de Sal, sempre muito educado.

Genaro os conduziu até uma mesa grande, e todos se sentaram: Anahí, Justin e Mary de um lado, Alfonso e Zack do outro.

Alfonso não olhara para ela a noite inteira, não emitira um único comentário sobre a maquiagem que ela tão raramente fazia, mas na qual, para aquele passeio, caprichara bastante, gastando muito tempo na frente do espelho numa aplicação cuidadosa. Assim como, pelo visto, não notara o vestido preto bonito e discreto que ela só colocava em ocasiões muito especiais.

- Já sei o que vou querer - disse Alfonso, recusando o cardápio que a garçonete lhe entregava.

- Eu quero um cachorro-quente! - exclamou Justin, com re­beldia.

Lição de Vida - AyAOnde histórias criam vida. Descubra agora