9. gray areas and expectations, but i'm not the one if we're honest

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Mesmo que algum dia chegasse a se tornar um doutor e ser bem mais do que apenas um garoto de bairro, Michael tinha certeza de que nunca abandonaria seu pequeno espaço, naquela rua vazia; quer dizer, continuaria ali até o momento em que o meio fio da rua de sua casa deixasse de ser um lugar seguro para se ficar sentado, à toa. Pela movimentação de carros que aumentava gradativamente, ele suspeitava que  logo isso pudesse acontecer e ele não conseguiria mais ficar ali.

Ainda era difícil acreditar que em poucos meses ele estaria num continente totalmente diferente, morando lá e estudando em um curso que era de alto nível mundial

Michael achava totalmente normal ele estar escutando música em um de seus lugares favoritos, em plena tarde de sexta-feira, enquanto ele assimilava os acontecimentos de sua vida e ficava agradecido.

Ele também agradecia o fato de o sol estar fraco, mesmo que aquecesse, já que dessa maneira ele poderia receber sua dose de vitamina D e não morrer de insolação ou coisa do tipo.

Cantando junto com a canção que tocava em seus fones de ouvido, daquela vez um cover que falava sobre deixar a pessoa ir e tudo mais, Michael ouvia muito pouco os movimentos em volta de si; somente enxergava de relance os acontecimentos e pessoas que passavam por ali. E, mesmo não prestando tanta atenção, não foi uma surpresa sentir a presença de alguém sentando ao seu lado, tampouco um susto, já que esperava aquilo, desde a mensagem que recebera de manhã.

Michael virou seu rosto e olhou para o lado, encontrando Luke ali, que olhou para ele e sorriu levemente.

O mais velho assentiu em resposta ao cumprimento em forma de sorriso, e voltou a olhar para sua frente, para a rua vazia.

Ele não se lembrava mais de como era estar com Luke e aquilo não parecer... estranho. A dor da rejeição não havia desaparecido totalmente, isso era óbvio, mas naquele momento ele simplesmente se sentia... entorpecido. A presença de Luke era real, mas ela não parecia atingir Michael com tanta força como antes.

Ele estava magoado, mas a raiva que sentira no começo já não tomava conta dele. Michael achava que aquilo só fazia mal a ele mesmo, e ficava contente de ter conseguido controlar um pouco de seus sentimentos em relação a isso.

O resultado de tudo que aconteceu ainda doía, mas Michael teve tempo para perceber que nem sempre as coisas aconteciam porque as pessoas gostavam de fazer mal de propósito. Nem sempre se precisava achar um culpado para tudo, ou culpar-se a si mesmo por algo que dera errado.

Ambos, Michael e Luke, estavam mais uma vez ali, naquela beira de calçada, depois de tanto tempo. Era engraçado como aquele lugar parecia ser sempre compartilhado pelos dois em momentos importantes de suas vidas.

Michael se perguntava se Luke sabia que ele iria embora em pouco tempo, e se por isso decidiu que queria falar com ele, depois de tanto tempo.

"E aí," Luke disse em uma voz baixa.

"Oi," Michael respondeu, simples, terminando de retirar seus fones de seu ouvido, logo que havia parado a música. Ele sabia que a intenção de Luke era provavelmente conversar, já que o havia chamado ali, mas ele não sabia muito bem o que ele mesmo iria responder.

"Obrigado por ter vindo," Luke disse em um tom que parecia genuíno. "Achei que talvez você não fosse aparecer depois de tudo que aconteceu..."

Michael pensou em dizer para Luke que havia sido o loiro mesmo que o evitara durante muito tempo, e que sumira, mas pensou melhor e decidiu não fazê-lo. Não havia sentido em querer atacar o loiro por ter feito o que ele achava que era melhor para ele.

Mesmo que isso tenha machucado Michael – um bom tanto, para ser sincero – ele também sabia que, às vezes, as pessoas achavam que fugir era a melhor solução para tudo. Reconhecer isso em si mesmo e nos outros fazia Michael se sentir um pouco mais adulto do que o normal. Era estranho.

talk me down ➸ mukeDove le storie prendono vita. Scoprilo ora