Capítulo 3 - A Justiça de Deus

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Se pudéssemos registrar em ordem cronológica as atribuições ou qualificações de Deus, certamente teríamos de considerar, em primeiro lugar, Deus, o Senhor da Justiça. A própria Escritura aponta a base do Seu Trono de:"Justiça e direito são o fundamento do teu trono; graça e verdade Te precedem" (Salmos 89.14).

Todo aquele que leu ou lê a Bíblia Sagrada, de Gênesis a Apocalipse, pode sentir a maneira pela qual Deus faz o Seu julgamento, ou seja, como Ele opera nas Suas ações e reações para com a Sua criatura, e em tudo isso pode-se constatar um Senhor perfeitamente justo na Sua maneira de ser e agir. 

Ele é um Deus justo e, por isso mesmo, odeia a injustiça, assim também como nós a odiamos. Aliás, no plano amoroso de Deus, acreditamos ser esta a razão principal por que muitos têm a oportunidade de serem salvos. Devido ao fato de Deus odiar a injustiça, e de ter fome e sede de justiça, o Senhor Jesus disse: "Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça,porque serão fartos " (Mateus 5.6). 

Somente aqueles que têm o caráter voltado à justiça é que são fartos, e esta fartura é exatamente a salvação pela fé no Senhor Jesus Cristo.

A JUSTIÇA DE DEUS ATRAVÉS DOS TEMPOS

Deus é justo, e é isto que o povo de Israel compreendia como a Sua maior diferença em relação aos falsos deuses dos outros povos. E Ele sempre usou homens cheios de fé, tementes e corretos no seu caráter, para manifestar a Sua justiça para com eles. Depois da morte de Josué, durante os primeiros 300 anos em Israel, Deus suscitou cerca de 13 juízes para julgarem o Seu povo, porque "Naqueles dias, não havia rei em Israel: cada um fazia o que achava mais reto" (Juízes 21.25). Estes juízes eram ungidos para fazer justiça e, assim, promover entre o povo judeu um caráter disciplinado e o respeito mútuo entre os cidadãos e suas tribos, com a finalidade de encaminhá-los a Deus. 

Aqui vemos uma característica importante da verdadeira justiça: a aplicação de uma disciplina que reflita o caráter divino. Depois vieram os reis que, também ungidos, eram considerados juízes de toda a nação de Israel. Dentre eles se destaca Davi, um homem "segundo o coração de Deus" (Atos 13.22).

Hoje, Deus tem também os Seus juízes na Terra, os quais, imbuídos de autoridade pelo próprio Senhor Jesus, e ungidos pelo Espírito Santo, procuram levar aos povos a Sua justiça, através da fé, de acordo com a Palavra de Deus.O apóstolo Paulo, escrevendo aos cristãos da cidade de Corinto, explicou de que maneira o Senhor agiu, com vistas à implantação do Seu Reino entre os homens: "A uns estabeleceu Deus na igreja, primeiramente, apóstolos; em segundo lugar profetas; em terceiro lugar, mestres; depois operadores de milagres; depois, dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas" (1 Coríntios 12.28).

COMO SE APLICA A JUSTIÇA DE DEUS NO CRISTÃO

Este é um dos pontos mais controvertidos na vida cristã, não porque Deus Se mantenha omisso em relação às injustiças promovidas contra o Seu povo, por parte dos não cristãos ou dos próprios cristãos, absolutamente. A verdade é que ao se ver injustiçado, o cristão, se ele não tem o caráter de Cristo, logo procura, pelos seus próprios meios ou recursos, tomar atitudes concernentes ao seu próprio caráter, isto é, defendendo-se "com unhas e dentes", observando sua própria justiça, ou, pior ainda, pagando a injustiça com a injustiça. 

Ora, o Senhor Jesus nos ensinou: "Eu, porém, vos digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra; e ao que quer demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa. Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas" (Mateus 5.39-41).

E o que significa isto senão que devemos compreender as injustiças, uma vez que é nelas, e por meio delas, que sofremos e somos provados? Se desejamos conhecer o caráter verdadeiro de uma pessoa, devemos lhe observar, cuidadosamente, nos momentos da provação. O rei Davi disse: "Fira-me o justo, será isso mercê; repreenda-me, será como óleo sobre a minha cabeça, a qual não há de rejeitá-lo. Continuarei a orar enquanto os perversos praticam maldade" (Salmos 141.5).

Se quisermos ter um caráter de acordo com o de Davi, "o homem segundo o coração de Deus", então aprendamos esta lição: a nossa causa esteve, está e sempre estará diante dos olhos do Deus Justo. Se alguém cometer alguma injustiça conosco, por mais cruel que ela seja, devemos confiar no nosso Justo Juiz, que mais cedo ou mais tarde fará com que a injustiça cometida contra nós se torne em justiça, e esta dará a vez ao gozo e à alegria de termos passado na provação.

Portanto, jamais devemos nos defender com nossas próprias forças mediante qualquer ofensa; pelo contrário: devemos nos humilhar, confiando que o Justo Juiz defenderá a nossa causa e nos dará a vitória.

Se procurarmos nos defender, não só estaremos deixando de lado o nosso Justo Juiz, mas também incorreremos no grande erro de manifestar o velho homem, corrupto e destinado ao fracasso total na vida cristã. Para o homem natural, é impossível ceder às injustiças cometidas contra ele, e até existem aqueles que afirmam categoricamente: "Pelos meus direitos eu vou até as últimas consequências."

É por isso mesmo que os cemitérios estão cheios! Quantos não perderam suas vidas defendendo seus direitos? O Senhor Jesus disse: "Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus"(Mateus 5.20). 

Ora, não é a nossa justiça a própria justiça de Deus? Não é o caráter divino que tem que fluir através de nós? Não somos o bom perfume de Cristo (2 Coríntios 2.15)? A luz do mundo (Mateus 5.14)? O sal da terra (Mateus 5.13?

Então, como poderemos nos permitir perder a chance de fazer exercer em muito a justiça que vem do Senhor, diante dos escribas e fariseus? Sabemos de muitos cristãos, e até ministros de Deus, cujas, vidas jamais podem expressar o caráter do Senhor Jesus Cristo.

Isto porque jamais admitem perder, e não podendo agredir fisicamente quem os ofendeu, então o fazem com a língua; não podendo fazer pessoalmente, fazem pelas costas, criando assim animosidade na própria igreja. Para estes está escrito:

"Eu, porém, vos digo que todo aquele que sem motivo se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem proferir um insulto a seu irmão estará sujeito a julgamento do tribunal; e quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao inferno de fogo" (Mateus 5.22).

Finalmente, aprendamos que "...a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: 0 justo viverá por fé" (Romanos 1.17), e "todavia, o meu justo viverá pela fé; e: Se retroceder, nele não se compraz a Minha alma" (Hebreus 10.38).

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