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Foi jantando com a equipe no Florenza, um restaurante com clima bada-lado da avenida Armando Lombardi, depois de doze horas de plantão, que ouvi a sugestão de redigir minhas memórias. Não sei se por causa de minha maneira de narrar, mas com certeza por minha bagagem de casos que tive a oportuni-dade de trabalhar nesses anos todos de Divisão de Homicídios, o que num só livro não se acomodaria. Contava aos calouros o caso Caixa Postal, em que a vítima teve partes do corpo mutiladas e endereçadas em sacos plásticos a várias pessoas, e descrevia meu empreendimento em atinar o verdadeiro remetente, ou seja, o assassino, quando o papiloscopista Guilherme insinuou-me lançar um volume com todos os meus casos. Realmente não existe muitas obras sobre o trabalho dos profissionais da polícia científica brasileira. Por isso essa sugestão ficou na minha cabeça. Só nós sabemos do nosso labor. O que somos sujeitos a passar e ver em serviço da sociedade. Uma atividade imprescindível à justiça e à manutenção das leis.

Meu brio é monumental quando falo sobre meu ofício, mas textualizar em livro, com todas as regras de concordâncias da nossa norma culta, para leitores, pessoas que não vemos os olhos, só as letras são neles refletidas, veio como um desafio para mim. E como sempre me dei com desafios, levei a sugestão a sério. Em meu antecedente literário só irá ser constatado o manejo em redigir relatórios para o judiciário e já adianto que é inevitável tal influência de estilo. E aqui está o resultado, com o inicial intuito de valorizar os investigadores criminais do Brasil e situar qualquer cidadão sobre o que realizamos.

Preludiando, o inquérito todo dos casos leva tempo e pode ser tedioso, o que contrapõem às produções hollywoodianas, mas os contarei também de uma forma aprazivelmente possível, passando longe qualquer infidelidade ao ofício. Acho que será ótimo para os aspirantes à ciência forense e investigação, sem precisar desviar dos amantes de literatura policial. Começo com esse caso de 2009 que aconteceu no seio da socialite carioca, especialmente por ter nele co-nhecido minha esplêndida mulher. Na época, deu muita repercussão popular e ela foi a responsável pela tal. A seguir estão expostos os fatos de forma ordenada e cronológica.

Estava na sala da Permanência vendo o noticiário do final da tarde na TV. "[...] A Petrobrás fechou hoje um contrato de licitação com a Construvix para a obra que irá construir uma unidade de tratamento de gás no Rio de Janeiro. A empreiteira apresentou o menor preço entre seis concorrentes [...]", dizia a re-pórter quando o telefone tocou. Olhei meu relógio de punho, 18h10. Atendi.

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— Divisão de Homicídios, boa noite. Sim... Certo. Valeu, estamos indo. — Desliguei pegando minha pistola e a chave da viatura de cima da mesa. — Pes-soal! Ocorrência no Leblon!

Com a equipe reunida, dei as instruções prévias. Como os agentes da PM já estavam no local a ser investigado atuando na preservação, só iria comigo os peritos, ou como alguns chamam, a equipe nerd. Segundo as informações preli-minares, era necessário a companhia de Augusto, o Guto, especialista em TI. Iria conosco também a fotógrafa Larissa e o muito experiente Dr. Edson Waldock. Só no currículo ele possui doutorado em medicina, é biólogo e psicologista gra-duado e seu hobby é experimentos químicos. Em todos os meus anos de traba-lho, tive a honra de resolver mais da metade dos meus casos com ele. Atual-mente estou há mais de uma década na divisão da capital e quando cheguei na equipe ele já era o perito chefe. Resolvi homicídios com o pessoal da baixada fluminense, da grande São Paulo e outras partes do país, mas, para mim, esse homem é o melhor cientista forense que conheço.

"A criminalística não se restringe apenas em coletar evidências físicas, ela é o ponto de encontro entre a ciência, a lógica e a lei. Onde, quando e como, fazem parte das questões que o perito precisa responder, mas traçar o perfil do delinquente é essencial. Observar as provas faz-nos traduzi-las ao ocorrido na cena do crime. Com isso, podemos revelar características que, consequente-mente, leva-nos ao seu autor. Como função; fato por execução, sendo que a última variável é refletida ao executante. 'Dê-me o que foi criado que eu te dou o criador', como René Descartes costumava dizer quando criou o plano cartesiano. A prova física é somente parte da equação. O objetivo final é a condenação do criminoso". Isso é o que ele diz nas palestras que é convidado periodicamente a dar por tão bem entender do assunto.

CSI: BRASIL - CASO: OLHO DE DIAMANTEWhere stories live. Discover now