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- CHEGA JADE! EU NÃO AGUENTO MAIS! - Gritava a minha mãe. Aparentemente irritada comigo novamente. Ops!

- Fala sério, Regina, você sempre diz isso! Quem não aguenta mais aqui é eu. - Falei me jogando no sofá.

- Ok, você pediu. - Falou enquanto pegava o celular da mesa.

?

- Henrique? ... É a Jade ... Sim ... É ... Ok ... Também não queria que fosse assim. - e desligou.

Henrique é meu pai.

- Mãe? ... Do que vocês falaram? - Perguntei me levantando devagar do sofá.

Eu estava nervosa, sim. Da última vez que a gente brigou pra valer ela tentou me colocar em um internato. Cheguei agora no ensino médio e até fiz algumas amizades o que é bem difícil quando se é eu. Fui expulsa 4 vezes de colégios que não eram bons o suficiente pra minha pessoa. Quem garante que esse internato é realmente bom pra mim?

- Sinto muito... É melhor ir arrumar suas coisas pois as aulas no internato Floriano Matos começam mês que vem. - disse minha mãe fingindo estar triste por se livrar de mim.

- O que? - Falei com a voz falha.

Corri pro quarto, me tranquei, coloquei qualquer música de K-pop pra tocar nos fones de ouvido enquanto pensava na ideia absurda de me mandarem para um internato em outro bairro. OUTRO BAIRRO! Já foi difícil o suficiente pra eu me socializar nesse aqui e olha que eu passei todos os meus 17 anos morando aqui. Só conheço a senhora que mora do lado da minha casa e a Letícia... uma menina que brincava comigo quando eu tinha 6 anos. Hoje em dia tá uma vadia. Enfim, parando bem pra pensar, o que eu tenho a perder se for pra essa tal de Floriano Matos? Eu não tenho nada aqui mesmo. E eu até conseguiria me livrar da Regina e essa atuação boba de quem se importa com a filha. Que ridículo. O meu pai? A última vez que ficamos mais de 1 hora juntos foi no meu aniversário do ano passado e ele ficava falando no telefone praticamente o tempo todo. Então, o que eu perderia se fosse? Urg. Vou arrumar a merda da minha mala.

♢•♢•♢•♢

- É só isso, minha filha? - Perguntou meu pai segurando minhas malas.

Não, tem mais alí em Nárnia, bora pegar.

- É. Vamos logo, por favor.

1 mês já tinha se passado. Era final de fevereiro e adivinha? Aula no colégio interno! Iupi!!

- Até mais, Jade! - Regina falou da porta. Meu pai ia me levar até lá de carro.

Dei um sorrisinho forçado pra ela enquanto entrava no carro e ligava o rádio na Mix. Tava tocando i hate u, i love u - gnash.

- I hate you, I love you, I hate that, I want you... - cantava baixinho olhando pela janela a cena do bairro onde passei a minha vida inteira ficando cada vez mais longe de mim. Acho que acabei me apegando demais a esse lugar.

- Então? Ansiosa, filha? - meu pai perguntou, sorridente olhando pra estrada.

- Nossa, muito! Você nem faz ideia do quanto, paizinho! - falei com minha voz de cínica.

- Poxa, Jade, por que não conseguimos ter uma conversa de pai pra filha? Por que não podemos ter uma conversa sem ironias? Eu sempre tento-

- Sempre tenta, pai? Você fala como se sempre estivesse aqui, né? Eu sinto sua falta, poxa! E você? Por acaso se importa? É claro que não. Sabe, eu quero que você é a Regina dêem as mãos e vão pra p-

- A Regina é sua mãe, Jade. E agora entendo o porquê do internato. - Falou ele me interrompendo.

Desliguei o rádio e coloquei os fones o ignorando.

Passamos o tempo todo em silêncio.

Jade. [PARADA]Where stories live. Discover now