Prólogo

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A noite começava a surgir e o sol se escondia por detrás das nuvens. A lua já brilhava ao céu e junto a ela as estrelas, suas fiéis escudeiras. O som dos carros diminuía conforme a noite se aprofundava e as pessoas se afundavam em suas camas e descansavam, aprontando-se para mais um dia de trabalho e estudos. Nem todos, porém, se davam ao trabalho de ter vidas concretas, fazendo sempre as mesmas coisas. Sem inovar, sem tentar. Eles eram livres, de certo modo.

Uma dessas pessoas era Tarik, um garoto por volta dos seus vinte e um anos, que aprendeu a curtir a vida do jeito que ela é. Vestia-se animado, ao som de uma música eletrônica que soava em alto volume por todo o seu quarto. Em seu jeans em um perfeito estado e sua blusa não muito bem passada, o garoto dançava enquanto ajeitava seu cabelo em frente ao espelho. Seu pé tilintava ao chão na batida da música e sua boca se movia, repassando seus passos.

Supostamente livre - este rótulo denominado por si próprio, é claro -, o garoto se preparava para mais uma habitual noite, a qual ele iria para a balada e voltaria apenas no dia seguinte, ao horário de almoço. Gostava de seu hábito. Um circulo vicioso, ao qual ele sempre estava na balada, ou na cama de alguma menina que ele não sabia ao menos o nome, e quando elas acordavam ele não estava mais lá. Sempre a mesma coisa, todos os dias da semana.

A diferença entre todos os outros dias e este, era que desta vez ele tinha um plano. Sabia exatamente quem queria encontrar, quem iria encontrar. Ela era uma menina exemplar, ou quase. Passava todos os dias estudando, tanto na faculdade de medicina quanto em casa. Sempre estava disposta a ajudar, apesar de ter seus dias corridos, misturando seus estudos com seu trabalho. Seus pais lhe confiavam a vida e, infelizmente, não deviam. Toda segunda-feira à noite a garota pulava discretamente a janela de seu quarto e ia para a Purple Neon Dance, a balada mais conhecida da cidade. E os planos de Tarik eram encontrar com esta menina, e ele pretendia tê-la. Ele queria Amanda tanto e talvez mais do que qualquer outra pessoa queria qualquer outra coisa no mundo.

Enquanto o animado e dançante Tarik se arrumava em seu quarto, Mikhael estava deitado do outro lado da cidade, em sua macia e confortável cama, aproveitando sua apetitosa série e sua mais apetitosa ainda janta. Desfrutava de cada fala, cada personagem, cada ação. Gostava de seu tempo livre, o qual ele raramente tinha nos últimos tempos. Mas no dia anterior, havia finalmente mudado para seu novo apartamento. Sozinho e livre. Terminava um episódio quando a porta se abriu e a televisão desligou sozinha. Olhou para trás, vendo seu melhor amigo com o controle na mão e um sorriso perturbador no rosto.

Não sabia como Felipe tinha entrado, não sabia como ele tinha seu novo endereço, mas sabia o que ele queria. Tinha visto todas as suas inúmeras mensagens, e sabia que não conseguiria se livrar do amigo. Rendeu-se, levantando-se e indo se arrumar. Seu jeans não muito novo mostrava o quão contrariado ele estava, mas seu topete muito bem ajeitado mostrava que ele sabia bem o que estava fazendo. A Boate ficava à quase uma hora dali, mas valia a pena. Sempre valia a pena.

Os dois garotos saiam da casa do moreno e o mesmo dirigia em direção ao local. O loiro sorria, desviando o olhar para o amigo a cada segundo. Tudo parecia se encaixar em seu lugar. Enquanto isso Tarik aproveitava para dar uma última olhada em seu cabelo, para passar mais perfume e para conferir o branco dos dentes. Levaria cerca de vinte minutos caminhando da sua casa para seu destino, mas ele iria em seu luxuoso carro. Entrou no mesmo e dirigiu, parando em sua vaga marcada, em frente ao local. Por ser sócio do clube, ele poderia entrar sem sua identidade, apenas mostrando seu cartão prioritário.

O cheiro de bebida invadiu o nariz dos garotos, apesar de terem entrado por locais diferentes. O mais velho, Tarik, se dirigiu ao local que sempre fica, onde encontrou seus amigos Thiago, Matheus e Lange. Pegou uma dose de vodka, virando de uma vez em sua garganta. Passou os olhos pela multidão, procurando por seu alvo. Os cabelos loiros estavam ali, balançando no meio da multidão. O mais novo, Mikhael, entrou junto com Felipe. Caminharam até o bar, encontrando Rafael. Cada um pediu uma dose, e o moreno sabia que não deveria.

O de cabelo azul mal sabia o que estava fazendo quando se levantou e caminhou em direção à pista de dança. O loiro foi ao banheiro com alguma menina que havia encontrado, e não voltaria tão cedo. Já estava amanhecendo, e o garoto queria ir embora. Levantou-se, procurando a saída. Estava zonzo de tanto beber. Observou cada ser, tentando saber o que o fazia estar ali. Não se encaixava ali. Não se encaixava com aquelas pessoas. Viu quando Tarik saiu da pista de dança, se dirigindo até uma mesa, a qual mais um menino e uma menina estavam sentados, tomou alguma bebida que o mais alto não percebeu qual era. Em seguida, pôs uma das mãos nas costas do garoto em um forte tapa, gritando em uma altura que fez Mikhael entender perfeitamente sua fala:

"Eu tô loucão!"

Just One NightWhere stories live. Discover now