Surpreendente - 8

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Pássaros - A Alma

"A humanidade sempre se surpreendeu com os pássaros: têm duas pernas como os homens, mas voam como os deuses! Por isso, eles - como todo ser alado - eram tidos como almas de mortos, encarnação de deuses e um símbolo de espiritualização ou alma, desde o Antigo Egito. De todas as criaturas voadoras, os pássaros são os mais notáveis e impressionantes. Quando voam até desaparecerem nas nuvens, são associados ao Sol, às estrelas, aos poderes do clima e aos deuses que residem nas alturas.

Os pássaros, ao que parece, sempre foram reconhecidos como colaboradores inteligentes da humanidade e está universalmente disseminado o mito que sugere os pássaros como grandes demiurgos dos primitivos portadores de poderes celestes e criadores do mundo inferior. Referências mais antigas e significativas envolvendo os pássaros são aqueles mitos que colocam o mundo nascendo de um ovo. Histórias nessa linha são comuns em todos os cantos do planeta. De acordo com um mito egípcio, o deus Khnum fez o ovo cósmico com a lama do Nilo. Mas, na versão de outro mito, o Sol era o ovo de um grande tipo de ganso. O conceito de mundo-ovo, formulado pelo escritor cretense Epimenides (em 600 a.C.) propagou-se, mais tarde, por toda a Grécia. Na antiga tradição Peruana, a ordem social deriva das diferentes "qualidades" de ovos de que se originam as pessoas: os ovos de ouro geram reis; os de prata, os nobres e os de cobre, a plebe. No Havaí, conforme certa lenda, emerge do mar quando uma divindade desceu e pôs um ovo. Na Índia, no Norte da Ásia e entre algumas tribos da América do Norte, várias versões do mito envolvendo aves em busca de terra para construir o mundo, lembram remotamente a narrativa bíblica da Arca de Noé – que teria enviado primeiro um corvo e, depois, uma pomba em busca de terra seca..."

Ao dar início á elaboração do trabalho semestral pedido pela professora Denise, da disciplina de Memória e Imaginário I, Eliza já tinha tudo em mente. Á priori, a professora havia feito uma enquete com a turma a respeito do tema – depois de amplamente discutido, as aves venceram; além de ser mais simples, não fica difícil imaginar o porquê. Os temas concorrentes eram assuntos a serem abordados durante o ano e iam desde os Australopithecus - hominídeos extintos; e suscitaria uma enorme controvérsia em torno do esqueleto de Lucy (3,2 milhões de anos), chamado assim por causa da canção "Lucy in the Sky with Diamonds" dos 'Beatles' e por terem a definido como uma fêmea – ao Archaeopteryx - o mais antigo fóssil conhecido, espécie de ave primitiva que preserva características típicas dos dinossauros, datando 150-145 milhões de anos atrás, do período Jurássico – outra controvérsia; uma nova descoberta chinesa, batizada como Anchiornis huxleyi, fazia com que o Arqueopterix se tornasse um menininho.

Denise lecionava na maioria das vezes sorrindo e brincando, mas fazia a turma ficar em silêncio sem maior esforço. Estatura mediana, magra, pele muito branca e os olhos violetas, parecia um anjo – podia muito bem passar por uma aluna mais velha. No trabalho a ser desenvolvido, ela deixara boa margem de liberdade a cada aluno.

–Isso vai ajudá-los também em relação às disciplinas de Pesquisa Histórica e Produção Textual. – Explicara satisfeita.

-Como as aves voam professora? – perguntara Cássia por debaixo das lentes grossas, sentada na carteira da frente. -Desculpe a pergunta, mas eu queria uma explicação científica para o fato.

-Uma ave, para voar – respondeu Denise - usa os mesmos princípios aerodinâmicos do avião. Uma ave – ela gostava de repetir as palavras - é capaz de voar principalmente porque a pressão do ar acima das asas é menor que a pressão debaixo delas; a pressão é menor por causa dessa diferença na velocidade do ar. Além de terem adquirido características essenciais no seu caminho evolutivo, como o corpo leve e aerodinâmico e os ossos pneumáticos, não maciços.

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