Capítulo 31

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Os joelhos de Clary estavam doloridos na parte inferior, assim como as panturrilhas, os braços e todo o resto. Havia sido submetida a uma árdua sessão de tortura pela Srta. Walters. Dançou tanto durante a manhã, que mal conseguia tocar nas pontas dos dedos dos pés sem soltar um gritinho. Boatos de que a testa de sua professora havia sido enfeitada no dia em que faria um ano de namoro corriam soltos pelos corredores do castelo. Podia até ser justificável procurar algo para descontar sua frustação, mas Clary não estava nada conformada em ser o alvo de uma mulher traída.

Ao deixar o estúdio de balé, ela resolveu ver sua mãe para discutir alguns detalhes de sua festa. Bella estava na biblioteca principal do castelo, sentada sobre a mesma poltrona favorita de seu pai. Os pés estavam descalços, apoiados sobre um pufe, seus sapatos jogados de qualquer jeito aos pés da poltrona. Tinha um livro apoiado sobre o antebraço e lia tão concentradamente, que não percebeu a presença de Clary até que ela falou.

- Deixa eu advinhar... - Clary tombou a cabeça para o lado para mostrar que estava pensando. - O bom e velho Orgulho e Preconceito.

- Você é muito perspicaz. - Bella sorriu.

Clary já tinha perdido as contas de quantas vezes pegara a mãe escondida da caótica rotina, lendo aquele mesmo livro, naquela mesma posição em que estava agora. Parecia fasciná-la mais e mais a cada nova releitura. Cada um em sua família tinha sua própria forma de refúgio, Bella gostava de livros e aventurava-se na pintura.

- Posso conversar com você um pouquinho? - Clary perguntou, aproximando-se da poltrona da mãe. - É sobre a festa.

Bella largou o livro ao seu lado, ajeitando um pouco o cabelo que estivera esmagado pelo acolchoado da poltrona. Seus pés derraparam para o chão, e o vestido foi alisado. Quando se era da realeza, era meio que um reflexo tentar se recompor quando alguém aparecia, mesmo se o alguém fosse da família.

- Eu estava mesmo querendo falar sobre isso com você. - Disse Bella, gesticulando com as mãos para Clary sentar-se em uma cadeira. - Seus tios virão para o seu aniversário. Preciso que os receba.

Clary decidiu sentar em um pufe, dobrando os joelhos para que se sentisse mais à vontade.

- Os irmãos do papai? Por que a senhora mesma não os recebe?

- Tenho uma reunião com a Liga de Apoio à vítima. Não estarei aqui para recepcioná-los.

- Aquela instituição que você criou para cuidar de mulheres vítimas de violência domiciliar?

- Isso.

- Tudo bem, eu os recebo. - Clary deu de ombros, desconfortável. Não lidava bem com reuniões em família. - Quero falar sobre a lista de convidados. Dias atrás, o príncipe Henry da Inglaterra me chamou para um jantar. Fiquei enrolando, você sabe como odeio esses jantares chatos, onde a única conversa envolve política. Já que furei com o coitado, achei adequado convidá-lo para o meu aniversário. O que acha?

- Soa bem, embora eu deva chamar sua atenção. Que falta de consideração com o pobre príncipe, Clarissa!

- Eu sei, eu sei. - Clary revirou os olhos. - Com o convite, creio que devo recompensá-lo de alguma forma.

- Bem, é um começo.

Bella recolocou seus sapatos, e afofou os cabelos irritantemente loiros de um lado da cabeça. Voltou a ser a rainha, deixou a mãe de família cansada e espontânea para trás. A mulher que se exilava de tudo para mergulhar em uma bela estória de amor.

Ocorreu a Clary de aproveitar a deixa e perguntar algo que estava martelando em sua cabeça já tinha dias.

- Mãe, o que acha da Sophie?

A Seleção - O Chamado Para a RealezaWhere stories live. Discover now