Alice e Hugo

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Brasil, 1852

Alice Hamilton estava para completar 20 anos quando seu melhor amigo, Hugo Borges, partiu para a Inglaterra a pedido de seu pai para passar uma curta temporada na propriedade dos tios. O rapaz foi contra sua vontade, triste por ter deixado Alice e por não poder estar com ela no dia de seu aniversário. O máximo que Hugo pode fazer foi lhe mandar uma carta.

Querida Alice,

Primeiramente, desejo-lhe feliz aniversário e que muitos anos de vida ainda estejam por vir! Sinto muitíssimo que não possa estar aí para abraçá-la e dizer isso pessoalmente, mas prometo que voltarei logo. Daqui algumas semanas. E tem mais, estou levando seu presente, algo que vai adorar, garanto!

Bath não tem a mesma energia sem você, Alice. Lembra quando seus pais deixaram você acompanhar minha família até aqui no verão de 1845? Você e eu exploramos cada canto da casa de meus tios. Foi realmente empolgante, mas agora, sem você, aqui está chato. Nem os mais animados bailes conseguem me animar. Prometa que virá comigo da próxima vez! Há muitas festas que você adoraria! Você seria a mais encantadora dama de todas. E não estou falando isso apenas por ser seu amigo.

Espero vê-la em breve. Parabéns mais uma vez e é bom que não tenha feito outro melhor amigo.

Afetuosamente,
Hugo Borges.

Alice leu a carta enquanto caminhava pelo jardim da propriedade de sua família e sorriu para o papel em suas mãos. Ela e Hugo não se desgrudavam desde que nasceram, mas após a maior idade, ambos passaram a ter compromissos e viagens diferentes, e isso a preocupava imensamente. Alice temia que com o tempo a amizade dos dois se desgastasse e eles esquecessem um do outro. E agora que estavam na época de casar e construir suas famílias, Alice ficava ainda mais apreensiva quanto a isso.

Durante o jantar, Alice remexia em seu prato com o garfo e não prestava atenção a uma só palavra que o pai falava. Ela acreditava que se ficasse quieta, ninguém a incomodaria.

- Alice, não está com fome? - perguntou Anabete Hamilton para a filha, mas ela não respondeu. Ainda continuava com a mania de nunca ouvir o que a mãe falava. - Alice?

- Mamãe está falando com você. - sua irmã caçula, Catarina, cutucou seu braço e a moça finalmente despertou.

- Perdoe-me. O que disse, mamãe?

- Mal tocou em seu prato.

- Ah, estou sem fome. - deu de ombros.

- Está doente? - foi a vez de seu pai, Robert Hamilton, indagar.

- Não. Estou muito bem de saúde, papai. - assegurou.

- Só há uma razão para estar com essa cara, minha irmã. - Danilo sorriu para irritá-la. - É saudade de Hugo, aquela vareta gigante. - apesar de ter apenas 16 anos, o garoto conhecia muito bem a irmã.

- Pare de chamar Hugo assim! - Alice o repreendeu. - Está com inveja por ele ser um cavalheiro alto e bonito, e você não passar de um garoto com espinhas!

- Sem brigar à mesa, por favor! - o Sr. Hamilton exigiu. - A hora do jantar deve ser sagrada e em família. Nada de discussões.

- Perdão, papai. - disseram Alice e Danilo em uníssono.

Todos ficaram em silêncio por um longo tempo, até que Mariane, sua irmã de 15 anos, decidiu falar:

- Quando ele estará de volta?

- Daqui alguns dias. - respondeu mesmo sabendo das intenções da menina perante ao Sr. Borges.

Mariane nutria uma paixão secreta por Hugo, bom, pelo menos para ela era secreta, pois realmente acreditava que ninguém desconfiava de seus sentimentos pelo rapaz. Porém, qualquer um a quilômetros de distância poderia notar que Mariane caía de amores pelo melhor amigo da irmã.

Qualquer Negócio ✓Where stories live. Discover now