Para Quem Sobreviveu

2.5K 190 94
                                    

Prólogo

Meu nome é Elizabeth Harlow.

Sou uma sobrevivente do advento epidêmico que atingiu as metrópoles globais no dia 04 de Junho de 2023, às 02:16am, horário de Washington... Há seis meses atrás.

E vai ter que me desculpar se você descreveria o dia em que o mundo desabou de um jeito diferente. Não sei de que outra forma colocar. Não fiquei sabendo qual foi o termo noticiado; ou mesmo o termo que não foi noticiado - Eu não estava aqui em cima quando aconteceu.

No entanto, era assim que minha mãe chamava: Reinitiate Program Outbreak. A catástrofe RPO. O que não é mais tão importante agora...

Venho de Denton, Texas; e hoje, faço dezoito anos.

Comigo, nesse momento, não tenho nada além de uma mochila de escalada, um arco e flecha improvisado, e uma faca de caça; na beira de um rio qualquer, no meio do nada; sozinha a ponto de achar que só eu sobrei. Mas se está lendo isso... Obrigada e meus parabéns. Bem vindo ao clube de merda minúsculo dos sobreviventes de merda dessa terra de merda - E aproveite enquanto pode antes que sua hora chegue também.

Se não se importa, vou te dar umas dicas de como fazer isso... Porque afinal, ninguém me disse. E descobrir tudo por conta própria, na base do cometer erros e se ferrar por isso, foi... Muito estressante, para dizer o mínimo. Então, antes de qualquer coisa, deixa eu te ajudar a garantir mais uns dias de vida.

Fique longe das cidades - Fique longe de qualquer lugar que tivesse movimento antes do surto, inclusive. Aqueles porcarias quase sempre andam juntos, em hordas de 20, 50, ou mais. Muito mais. Adicione isso ao fato de que correm feito cães raivosos e suas chances de escapar sem arranhões dentro de um ninho são nulas. A propósito, é assim que eu chamo as antigas áreas urbanas. Ninhos. Porque são deles agora.

Faça silêncio - Eles escutam muito bem; pelo menos três vezes mais do que eu e você juntos; e quando acontece, se amontoam como formigas em torno de vespas mortas. Então nem pense em ser confiante o suficiente para achar que pode cruzar o caminho deles sem fazer barulho. Porque você vai fazer barulho. E vai morrer por isso.

Proteja seus braços e pernas; pescoço e rosto - O vírus se espalha através do contato contato deles com o seu sangue; e seu sangue é tudo o que eles querem. Esse é o objetivo.

Por último, esteja armado. O tempo inteiro, sem pausas, sem descanso. Mesmo quando achar que está totalmente seguro, pense de novo. Você não está. Nunca mais vai estar, não importa para onde for, ou onde se esconda.

É o fim.

O fim de tudo.

E quanto antes aceitarmos melhor.

Mas sinceramente, espero que a sua situação esteja menos lamentável que a minha. Menos lamentável, no sentido de você não estar enviando uma carta sem destino dentro de uma garrafa como o máximo de interação a se dar ao luxo; ou de você não estar convivendo com a dúvida se realmente existe um outro"você" para encontrar mensagens como esta.

Não sei se está aí. Não sei se por um feliz acaso orquestrado pelo universo você decidiu beber água nesse rio e encontrou minha garrafa a milhares de quilômetros de distância de onde eu estou. Mas se a vida decidiu me dar uma minúscula dose de importância que seja, pelo motivo que for, e você realmente encontrou minha carta, só deixe eu te desejar a boa sorte que eu não tive.

Deixe eu imaginar que essa mensagem foi para tão longe que chegou num território livre de hospedeiros e assassinos, onde as pessoas ainda vão ao cinema, à livraria, e jogam futebol no fim de semana. Onde não há fome, não já frio, não há cansaço... Pelo menos não no nível que é capaz de minar a vida de absolutamente todo mundo, bem lentamente, até não restar ninguém.

Se esse for o caso, venha me buscar.

Venha me tirar dessa maldita floresta antes que ela me engula.

Meu nome é Elizabeth Harlow, não se esqueça.

Ainda não morri.

Ainda não.

Polaris - Sobreviva ConoscoWhere stories live. Discover now