Parte II - O que pode ser pior do que isso?

179 20 26
                                    


  "As almas mais escuras não são aquelas que escolhem existir no inferno do abismo, mais sim aquelas que escolhem se libertar do abismo e circular silenciosamente entre nós. "

-Halloween – O Início. 



Do outro lado da rua, havia uma cerca de arame farpado, com uma parte caída. João Pedro, líder da expedição, foi o primeiro a ultrapassá-la, seguido de Lara e Marcelo. Um ao lado do outro, rumaram pela trilha larga que cortava o pasto. João olhou para o lado, tampando os olhos com uma das mãos por causa do sol que ainda ardia no céu. Lá longe, conseguiu ver a árvore solitária, com as duas casas logo atrás. Distante, pareciam de brinquedo.

Lara olhou na mesma direção.

– Tem certeza de que vai dar tempo de voltarmos? – Lara indagou o irmão mais velho, pois, olhando daquela distância, a árvore não parecia estar tão perto como João falara.

João pensou, e desviou os olhos, continuando a andar.

– Vai dar tempo – ele disse, ajeitando a mochila nos ombros – acho que você está com medo, Larinha – zombou.

– Não estou – a menina retrucou.

– Vocês acham que a história é verdadeira? – Marcelo inquiriu, sem tirar os olhos da árvore – acham que vamos ver algo macabro?

– Isso é só lenda da vó – João falou.

O dia estava quente, e os três suavam. Depois de alguns minutos, o pasto aberto ficou para trás e eles entraram em uma trilha de terra batida, mais estreita, a qual os obrigaram a andar em fila indiana. O vento soprava de vez em quando, mais forte, o que fazia nuvens de poeira subir.

– A vó vai matar a gente – Lara resmungou, notando que sua camiseta branca começava a ficar encardida – vai nos fazer esfregar as roupas até ficarem transparentes.

– Ninguém mandou você colocar essa camiseta, sabendo que ia entrar no meio do mato – João comentou.

Lara pegou uma pedrinha no chão e jogou na nuca do irmão, que nem se moveu.

Continuaram andando. Aos poucos, os sons da cidade foram ficando totalmente para trás. Os ruídos da natureza começaram a inundar o ambiente. O vento sibilando nos ouvidos, o cricrilar dos grilos, o som das folhas secas abaixo dos pés. O pio de um pássaro fez um eco alto, dissipando-se pelo ar e fazendo Lara estremecer.

Uma corrente elétrica subiu pela coluna da menina, passando por seus braços e obrigando-a a esfregar as mãos. Lara teve a sensação de que alguém andava ao seu lado, como quando estamos sozinhos em casa e temos a impressão de que, no fundo, não estamos. Começamos a ver coisas que não estão ali, como alguém passando pela janela, ou tocando-lhe os cabelos. Coisas que nos obrigam a acender a luz.

Viraram na trilha e começaram a se embrenhar em um caminho diagonal. Ali, as árvores eram maiores e maior quantidade, o que deixava o caminho mais escuro a medida em que o adentravam mais. Marcelo olhou para trás. Não havia mais sinal de casas. Foi naquele momento, quando ele já não conseguia ver o telhado da casa dos avós, que notou o quão longe tinham ido.

– Acho melhor voltarmos – Marcelo murmurou, olhando para o céu, que começava a escurecer.

João bufou, parando de repente e fazendo os outros dois esbarrarem nele.

– Olho só – João esbravejou – se quiserem voltar, podem ir. Eu vou continuar.

Virando-se, ele recomeçou a andar. Lara e Marcelo se entreolharam e, em silêncio, concordaram em seguir o irmão mais velho. Apesar de estarem com medo, a curiosidade era ainda maior.

A árvore que chora - Projeto Lendas UrbanasWhere stories live. Discover now