"As almas mais escuras não são aquelas que escolhem existir no inferno do abismo, mais sim aquelas que escolhem se libertar do abismo e circular silenciosamente entre nós. "
-Halloween – O Início.
Do outro lado da rua, havia uma cerca de arame farpado, com uma parte caída. João Pedro, líder da expedição, foi o primeiro a ultrapassá-la, seguido de Lara e Marcelo. Um ao lado do outro, rumaram pela trilha larga que cortava o pasto. João olhou para o lado, tampando os olhos com uma das mãos por causa do sol que ainda ardia no céu. Lá longe, conseguiu ver a árvore solitária, com as duas casas logo atrás. Distante, pareciam de brinquedo.
Lara olhou na mesma direção.
– Tem certeza de que vai dar tempo de voltarmos? – Lara indagou o irmão mais velho, pois, olhando daquela distância, a árvore não parecia estar tão perto como João falara.
João pensou, e desviou os olhos, continuando a andar.
– Vai dar tempo – ele disse, ajeitando a mochila nos ombros – acho que você está com medo, Larinha – zombou.
– Não estou – a menina retrucou.
– Vocês acham que a história é verdadeira? – Marcelo inquiriu, sem tirar os olhos da árvore – acham que vamos ver algo macabro?
– Isso é só lenda da vó – João falou.
O dia estava quente, e os três suavam. Depois de alguns minutos, o pasto aberto ficou para trás e eles entraram em uma trilha de terra batida, mais estreita, a qual os obrigaram a andar em fila indiana. O vento soprava de vez em quando, mais forte, o que fazia nuvens de poeira subir.
– A vó vai matar a gente – Lara resmungou, notando que sua camiseta branca começava a ficar encardida – vai nos fazer esfregar as roupas até ficarem transparentes.
– Ninguém mandou você colocar essa camiseta, sabendo que ia entrar no meio do mato – João comentou.
Lara pegou uma pedrinha no chão e jogou na nuca do irmão, que nem se moveu.
Continuaram andando. Aos poucos, os sons da cidade foram ficando totalmente para trás. Os ruídos da natureza começaram a inundar o ambiente. O vento sibilando nos ouvidos, o cricrilar dos grilos, o som das folhas secas abaixo dos pés. O pio de um pássaro fez um eco alto, dissipando-se pelo ar e fazendo Lara estremecer.
Uma corrente elétrica subiu pela coluna da menina, passando por seus braços e obrigando-a a esfregar as mãos. Lara teve a sensação de que alguém andava ao seu lado, como quando estamos sozinhos em casa e temos a impressão de que, no fundo, não estamos. Começamos a ver coisas que não estão ali, como alguém passando pela janela, ou tocando-lhe os cabelos. Coisas que nos obrigam a acender a luz.
Viraram na trilha e começaram a se embrenhar em um caminho diagonal. Ali, as árvores eram maiores e maior quantidade, o que deixava o caminho mais escuro a medida em que o adentravam mais. Marcelo olhou para trás. Não havia mais sinal de casas. Foi naquele momento, quando ele já não conseguia ver o telhado da casa dos avós, que notou o quão longe tinham ido.
– Acho melhor voltarmos – Marcelo murmurou, olhando para o céu, que começava a escurecer.
João bufou, parando de repente e fazendo os outros dois esbarrarem nele.
– Olho só – João esbravejou – se quiserem voltar, podem ir. Eu vou continuar.
Virando-se, ele recomeçou a andar. Lara e Marcelo se entreolharam e, em silêncio, concordaram em seguir o irmão mais velho. Apesar de estarem com medo, a curiosidade era ainda maior.
YOU ARE READING
A árvore que chora - Projeto Lendas Urbanas
Short StoryTrês irmãos, cansados de ouvir sua avô contar a mesma lenda sobre uma árvore solitária que fica em uma campina próxima à cidade, resolvem investigar a história. Embrenhando-se na mata, os meninos se perdem e acabam descobrindo que a lenda era mais a...