"Descobrir consiste em olhar para o que todo mundo está vendo e pensar uma coisa diferente."
Roger Von Oech
Quando Beatriz viu Victoria sumir na porta do restaurante não conseguiu se conter entre as lágrimas e a culpa. A culpa o corroía a sua alma dilacerada. Havia cometido tantos erros, sempre acreditou que jamais fosse se arrepender de tudo o que tinha feito mas estava redondamente enganada. A vida era uma exímia cobradora. Vinte anos após a conta chegava alta e cara demais.
Permaneceu durante muito tempo ali remoendo a sua dor. Só foi embora quando o garçom venho avisar que o restaurante estava quase fechando. Saiu dali a passos trôpegos e cambaleantes. Temia tanto o desprezo que Miguel sentiria por tudo que ela tinha feito, o que mais doía era não conseguir o perdão de Edgar. Depois que soubesse de toda a verdade sabia que nunca mais ele seria aquele filho amoroso que sempre foi. Seria doloroso perder o amor de seu filho. Sabia que Victoria contaria toda a verdade a Miguel. O ódio que viu em seus olhos lhe revelara isso.
***
Em desespero andava pelas ruas atormentadas pelas últimas revelações. Durante muito tempo Victória se perguntara o porquê de tudo o que havia acontecido para que Miguel o flagrasse na cama de outro, mas nem em seus piores pesadelos imaginara num plano tão sujo e diabólico. Beatriz havia agido como o pior dos seres humanos.
Caminhava se perguntando se contaria a verdade a Miguel ou não. O que ia ganhar destruindo a vida de uma pessoa que está condenada à morte? Uma mulher que vivia atormentada pelos erros do passado? Mas ela também havia perdido muito mais que Beatriz. Havia perdido o seu grande amor. Tinha perdido o seu bebê, fruto daquele imenso amor.
Por que o ser humano tem a tendência de destruir os outros? Seria inveja? Desejo de ter aquilo que o outro tem? Não conseguia compreender porque as pessoas tinham que mentir e destruir a reputação do outro para conseguir aquilo que almejava. Pensando em tudo o que Beatriz lhe revelou e nas suas memórias do passado em tudo o que havia perdido. Uma vida ao lado do homem que ela amava, a perda de seu bebê ela percebia que tinha ganhado muito mais que Beatriz. Diferente de Beatriz ela não tinha remorsos e seu passado não a assombrava.
Diferente de sua rival ela tinha sido feliz em todos aqueles anos apesar de tudo. Tinha a sua filha amada, tudo bem não era sangue do seu sangue, mas era o seu o maior motivo para viver e para ser feliz. Talvez lamentasse as perdas que teve, mas jamais deixaria de agradecer a Deus e a vida por ter sido tão generosa.
Por mais que ela e Miguel tivesse sido motivo de uma grande mentira ela reconhecia que não tinha o direito de interferir na vida de ambos. Mais dia menos a verdade iria aparecer, mas ela não iria mover nenhuma palha para que isso viesse acontecer.
Percebendo que o tempo estava mudando e logo mais cairia uma tempestade ela acelerou o passo na volta para casa, não queria se molhar e pegar um resfriado. Queria estar saudável para conhecer os amigos da filha.
***
Assim que deixou o restaurante Beatriz vagueou pelas ruas da cidade totalmente desesperada. Não sabia como seria o seu futuro. Temia a reação de Miguel e Edgar quando revelasse todos os seus erros do passado. Será que eles a perdoariam? Ela precisava do perdão de ambos para a sua absolvição. Reconhecia que jamais poderia mudar o que tinha feito, mas poderia remediar e mudar o futuro.
Em toda a sua culpa nem percebeu que ameaçava cair uma tempestade. Só percebeu quando os primeiros pingos caíram sobre a sua pele juntando-se as suas lágrimas de culpa e arrependimento. Intensamente a chuva foi ficando mais forte, mas ela não se preocupou em voltar para casa pois sabia que lá enfrentaria a pior de todas as tempestades.
***
Miguel observava a chuva cair pela janela da sala de sua casa. Estava sozinho e pensando em coisas do passado. Seu amor por Victória mesmo em todos aqueles anos não havia diminuindo. Sabia o quanto aquele sentimento era forte em seu peito e ameaçava explodir cada vez que a encontrava. Torcia muito para que dessa vez Edgar e Valentina conseguisse finalmente ficarem juntos. Afinal eles se amavam e mereciam ter um final feliz. Diferente dele eles conseguiram se perdoar e dar uma chance ao amor que sentiam. Enquanto ele apesar de amar tanto Victória não conseguia perdoá-la. A cena de Victória na cama de Antoniel ficara represada em sua memória.
***
Em uma das pensões nos subúrbios da cidade Antoniel se encolhia na cama com medo dos trovões tossindo sem parar. Em sua angústia relembrava o passado. Era atormentado pelos seus erros. Nunca fora feliz. Na juventude amou profundamente Victória, mas ela nunca quisera nada com ele. Na realidade sempre se sentiu um fracassado. Diferente de seu primo Miguel seus pais não eram ricos, mas ao morrer eles deixaram uma herança que se tivesse aproveitado as oportunidades certas teria se tornado em um milionário, em vez delapidou tudo o que os pais deixaram. Por esse motivo sempre invejara a vida que o primo. E tudo que era ligado a Miguel. Sempre com todos os privilégios enquanto ele era a ovelha negra da família. Se apaixonou por Victória assim que a conheceu mas ela sempre teve olhos para o primo. Se ela já não gostava dele, gostou ainda menos quando Miguel a flagrara em sua cama. Uma armadilha que ele e Beatriz armara para os dois. Se pudesse voltar no tempo ele faria tudo de um jeito diferente jamais teria se unido com a víbora da Beatriz que assim que conseguiu casar com Miguel simplesmente ignorou que ele existia.
Conheceu Beatriz há mais de 20 anos quando em uma de suas viagens pela Europa ficara encantada com sua beleza juvenil e ainda era uma estrela das passarelas. Ficaram juntos muitas vezes, mas quando sua carreira começou a decair sem dinheiro roubou as economias da irmã e do cunhado fugindo para o Brasil e foi se refugiar na mansão dos Ferraz, na qual fez de tudo para infernizar a vida de Miguel e Victória.
O destino era um exímio cobrador. Beatriz estava pagando em vida por todos os erros cometidos assim como ele.
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FOI O SEU AMOR [COMPLETO]
RomanceSINOPSE: Quanto tempo o amor pode durar? Victória e Miguel cresceram na mesma cidade, de amigos passaram a ser eternos namorados. Mas na mesma proporcionalidade que eles se amavam o sofrimento foi também na mesma intensidade. Nem sempre a vida respe...