Capítulo 1

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Tobias

          Neste momento estou na sala do diretor acompanhado da minha "querida" mãe. Ela parecia está  impaciente, e talvez com pressa. O que não me surpreende em nada. Até agora estou me perguntando como ela teve tempo para vim ter está "conversa".
    - Bom dia Srtª. Noya, como deve saber o seu filho sempre foi um aluno prestigiado neste colégio... - Minha mãe certamente é a pessoa perfeita para interromper as pessoas. Isso é um fato!
    - Desculpe Sr. William a interrupção, mas eu agradecia se  senhor fosse direto ao ponto, estou muito atarefada e não tenho muito tempo para perder aqui. - Claro que não, que novidade.
    - Mas isso não é perda de tempo Srtª.Noya. É do seu filho Tobias que estamos falando. - Como se isso importasse para ela. Geralmente só se lembra que tem um filho quando... bem... quando alguém a lembra, tirando isso sou quase invisível para a mesma.
    - Não preciso que me lembre disso, sei as minhas responsabilidades. Agora faça me o favor de dizer. O que o Tobias fez dessa vez?
    - Bem... - Disse fazendo uma pausa em seguida, passando a olhar para um documento, que eu acredito ser o dos meus registos, voltando então a olhar para o ser desprezível ao meu lado.
    - Não posso dizer que seu filho é perfeito, mas também nunca nos deu problemas graves nesse colégio e sempre teve boas qualificações. Só que ultimamente as suas notas têm vindo a baixar muito. Só ainda não sei bem o porquê, justamente por isso a chamei aqui hoje. Gostaria de saber se tem algo errado com o seu filho? - Perguntou ele demostrando preocupação, o que achei bem intrigante, por isso apenas o olhei de canto de olho. Ele nem imagina o que eu tenho que aguentar diariamente em casa, mas também não precisa saber, nem ele e nem ninguém, afinal preciso manter a minha reputação. Se descobrirem que vivo numa casa semelhante ao inferno, minha boa reputação nessa escola já era. Por isso sou obrigado a manter esta maldita máscara que chamo de sorriso, todo santo dia dessa droga de vida. Só que isso não vem ao caso não é? Não faz diferença para essa gente hipócrita que diz ser meus amigos, sei que eles não se importam mesmo. Afinal sei bem o tipo de "amigos" que tenho nessa escola. Pois sou rico e bonito, e isso faz de mim popular e ser popular tem suas vantagens, pois me faz ter muitas garotas aos meus pés, o que  me torna um pegador. Isso junto com os amigos falsos que se aproximam apenas para se aproveitar da minha popularidade. Na escola e na vida tenho apenas um unico amigo verdadeiro, na verdade dempre foi, não importa o que eu seja ou de onde eu venha, o Urih sempre será o meu melhor amigo. Ele é como eu e o Icaro, mas ao contrário do Icaro, o Urih sempre me apoia e está sempre lá quando preciso. Mas até ele não sabe o que passa em casa, ele até  desconfia de algo estranho, mas respeita a minha decisão de não lhe contar nada ainda. Ele me conhece melhor do que ninguém, e sabe que quando eu não quero falar,  é melhor nem insistir.

    - Não tem nada de errado comigo. - Falei pela primeira vez naquela sala. Como disse antes, ele não precisa saber. Vi ele me lançar um olhar de duvida, mas depressa o vi desviar a sua atenção para minha mãe. Esperando sua resposta.
    - Concordo. Não tem nada de errado com o meu filho. De certeza que é só uma fase. - Respondeu firme.
    - Não é Tobias? - Perguntou agora me olhando. Ela é a pessoa que mais tem a esconder nessa história. Se ela não fizesse o que faz, eu não viveria naquele inferno. Ela está tentando dar uma de mãe agora? Já vem tarde!
    - É sim. - Sorri forçado para ela e virei minha atenção para o diretor.
     - Não se preocupe Sr. William, eu recupero minhas notas. - Tentei sorrir da melhor maneira possível apenas para que ele acreditasse.
    - Muito bem. - Ele pareceu acreditar.
    - Mas mesmo assim, acho melhor você ter explicações com um dos nossos melhores alunos. Isso iria ajudá-lo muito. Sugeriu.
    - Faça o que for preciso Sr. William. O que for melhor para ele, ele fará. - Disse ela com a preocupação mais falsa do mundo.
    - Eu não quero ter explicações. Não preciso disso. - Recusei.
    - Você fará o que o Sr. William disser Tobias. Será para o teu bem. - Claro. Para o meu bem e para o dela. Quanto mais tempo eu passar fora de casa, mais ela pode fazer o que sempre faz. Só lhe estaria fazendo um favor. Até que não era má ideia. Seria menos tempo estando naquele inferno. Apenas precisava manter isto em segredo. Tudo pela reputação. Eu gosto da vida que tenho fora daquela casa. Não quero perder isso por uma coisa idiota como ter explicações com um nerd aí. Seria trágico!
    - É por pouco tempo Tobias. É só até recuperar suas notas. Depois não irá precisar de mais. - Explicou.
    - Tudo bem. - Me rendi.
    - Mas será fora da escola né? Quero que isso fique em privado. - Expliquei. Não queria que os outros ficassem sabendo disso.
    - Isso será escolha sua. - Ele sorriu.
    - Poderá escolher o local e... - Batidas na porta o interromperam.
    - Entre! - Ordenou por fim.
    - Mandou me chamar Sr. William? - Eu conhecia aquela voz. Não me virei. Apenas fiquei olhando minhas mãos que estavam sobre minhas pernas. Era Yasmin, a maior nerd da escola. Era ela que eu e Icaro sempre escolhíamos para zoar. É claro que havia outros "escolhidos", mas ela era a maior vitima do colégio desde sempre. Ela era de longe a melhor aluna daquele colégio. Eu sei pouco dela. Mas pelo aspecto dela, dá para ver que não é rica como todos os outros por aqui. Não sei nem como ela consegue pagar um colégio caro desses. Ela era completamente diferente das outras garotas. Ela sempre andava com roupas estranhas ou fora de moda, como quiserem chamar. Sempre usava o cabelo apanhado fazendo-o parecer mais curto do que aquilo que ele provavelmente era. E andava sempre com uns óculos que pareciam vindos da pré-história de tão horríveis que são. Provavelmente não via bem sem eles. Ela era por assim dizer, horrível. Ou como nós costumamos chamar, uma aberração. Mas tem uma coisa nela que me chamou a atenção recentemente. Uma coisa que eu sempre reparei, mas que nunca liguei. Ela nunca sorri. Nunca a vi sorrir verdadeiramente como se estivesse feliz. Só a vi sorrir uma vez. Um pequeno sorriso tímido em seus lábios. Um sorriso pra mim. Todos os dias ela é zoada por mim, Gabriel e mais de metade do colégio. Muitos dias eu a deixo chorando, muitos dias eu a vejo vagando pelos corredores, sozinha. Ela não tem amigos. Pelo menos que eu saiba. Como eu já disse, sei pouco dela. Eu sou a pessoa que ela mais deve odiar por fazer tudo o que faço, e mesmo assim, o primeiro sorriso que vejo dela, por muito pequeno que seja, é pra mim. Não faz sentido, certo? Não na minha cabeça. Esse sorriso surgiu quando ela me pegou olhando pra ela no meio de uma aula. Porque eu olhava pra ela? Simples, eu e Icaro tínhamos zoado ela mais uma vez, e mais uma vez eu a deixei chorando. Mas ela estava naquela aula prestando atenção e parecia que nada tinha acontecido. Era como se ela fosse de ferro e não quebrasse. Eu estava pensando nisso mesmo, mas olhando pra ela, até que ela vira o rosto direcionado a mim. E então ela sorriu corando. Timidamente, mas sorriu. Sim, Yasmin era um mistério. Eu não sabia onde morava, ou quem eram seus pais. Isso não é normal. Toda a gente desse colégio conhece toda a gente. Mas o fato de ela ser misteriosa não era coisa que devesse me interessar. Eu zoava ela e me divertia com ela. Ela era nosso brinquedinho. Apenas isso.
    - Mandei chamar sim Yasmin. Feche a porta e aproxime-se, por favor. - Elevei meu rosto até ao rosto do diretor. Ele estava sorrindo. Senti ela se aproximar de mim. Ela parou do meu lado, de frente para o diretor e pude perceber que ainda não se tinha dado conta de que eu estava ali.
     - Você está aqui porque é a melhor aluna desse colégio e eu acredito nas suas capacidades para ajudar seus colegas.
    - Muito obrigado Sr. William. Mas o que o sr. quer dizer com isso? - Percebi na sua voz o quanto estava séria. Como sempre, sem sorrisos.
    - Preciso que você ajude um de seus colegas Yasmin. Preciso que dê explicações a Tobias. - Disse agora apontando para a cadeira em que eu estava sentado. Elevei mais o rosto até poder olhar para ela. Ela ainda olhava para o diretor. Parecia estar a absorver as informações que lhe foram dadas. Ela virou o rosto lentamente para me olhar e aí eu pude ver o choque em seus olhos.

Quebrando RegrasWhere stories live. Discover now