Prefácio

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Olha só que ironia... Talvez eu seja a única pessoa que conheço que não acha nem um pouco maravilhosa a perspectiva de ir para "um lugar" a fim de "descansar". Vocês precisam ouvir minha irmã Claire tagarelando a respeito disso, como se acordar certa manhã e descobrir que você está num hospital para doentes mentais fosse a experiência mais deliciosa do mundo.

— Tenho uma ideia ótima! — declarou ela para sua amiga Judy. — Vamos surtar ao mesmo tempo.

— Genial! — disse Judy.

— Ficaremos num quarto duplo. Será fantástico.

— Descreva a cena para mim.

— Beeeeem... Pessoas gentis... Mãos macias, acolhedoras... Vozes sussurrantes... Roupa de cama branca, sofás brancos, orquídeas brancas, tudo branco...

— Como no céu — maravilhou-se Judy.

— Exatamente como no céu! — confirmou Claire.

Não exatamente como no céu! Abri a boca para protestar, mas não havia jeito de fazer com que parassem.

— ... o som de água tilintando...

— ... o cheiro de jasmim...

— ... um relógio tiquetaqueando em algum lugar distante...

— ... o nostálgico repicar de um sino...

— ... e nós duas deitadas na cama, com as cabeças desligadas pelo Xanax...

— ... olhando, sonhadoras, para grãos de poeira no ar...

— ... ou lendo a revista Grazia...

— ... ou comprando picolés Magnum Gold do homem que passa lentamente, de enfermaria em enfermaria, vendendo sorvetes...

Mas é claro que não haveria ninguém vendendo picolés. Nem qualquer das outras coisas legais.

— Uma voz sábia dirá — Judy fez uma pausa, para causar mais impacto: — "Livre-se de todos os seus fardos, Judy."

— E alguma adorável enfermeira que parece flutuar enquanto caminha cancelará os nossos compromissos — completou Claire. — Dirá a todos que nos deixem em paz. Avisará aos canalhas mal-agradecidos que estamos com esgotamento nervoso por culpa deles, e todos terão de ser muito mais simpáticos conosco, se algum dia conseguirmos sair de lá.

Tanto Claire quanto Judy tinham vidas loucamente agitadas — crianças, cachorros, maridos, empregos e uma dedicação demorada e caríssima à missão de parecerem dez anos mais novas do que de fato eram. Zuniam perpetuamente de um lado para outro em automóveis, levando os filhos para treinarem rúgbi, pegando as filhas no dentista, correndo pela cidade para irem a alguma reunião urgente. Ser multitarefa era uma forma de arte para elas; usavam os segundos inúteis nos sinais de trânsito fechados para esfregar nas pernas paninhos com bronzeador artificial, respondiam aos e-mails sentadas nas poltronas dos cinemas e cozinhavam cupcakes Veludo Vermelho à meia-noite, enquanto eram alvo da zombaria das filhas adolescentes, que as chamavam de "patéticas vacas velhas e gordas". Nem um único momento sequer era desperdiçado.

— Eles nos darão Xanax. — Claire voltara ao devaneio.

— Ah, que maraviiiilha!

— Tanto quanto quisermos. No instante em que a felicidade começar a desaparecer, tocaremos uma sineta e uma enfermeira surgirá para nos dar uma dose extra.

— Nunca precisaremos nos vestir sozinhas. Todas as manhãs nos trarão pijamas de algodão novinhos em folha, tirados do pacote. E dormiremos dezesseis horas por dia.

— Ah, dormir...

— Será como estar embrulhada num grande casulo de marshmallow; nos sentiremos flutuantes, felizes e sonhadoras...

Era hora de apontar uma grande e desagradável falha naquela visão deliciosa delas.

— Vocês estarão num hospital psiquiátrico! — lembrei-lhes.

Tanto Claire como Judy pareceram imensamente alarmadas.

Depois de algum tempo, Claire disse:

— Não estou falando de um hospital psiquiátrico. Apenas de um lugar para ir... repousar.

— Esse lugar para onde as pessoas vão a fim de "repousar" é um hospital psiquiátrico.

Ambas ficaram em silêncio. Judy mordeu o lábio inferior. Estavam, obviamente, refletindo sobre tudo aquilo.

— O que você achou que poderia ser? — perguntei.

— Bem... Tipo assim, uma espécie de spa — afirmou Claire. — Com... Sabe como é... Remédios interessantes.

— Eles têm pacientes loucos lá dentro — expliquei. — Pessoas malucas de verdade. Gente doente.

Veio mais um longo silêncio; por fim, Claire ergueu os olhos para mim, com o rosto vermelho-vivo.

Pelo amor de Deus, Helen! — exclamou. — Você é mesmo uma tremenda vaca insensível, sabia? Por que nunca consegue deixar alguém curtir um lance agradável?

Chá de Sumiço - Família Walsh Vol. 5Where stories live. Discover now