Sampa é Cinza

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- Não posso ficar nem mais um minuto com você

Estou atrasado. Saio de casa todos os dias no mesmo horário, sou uma hemácia nas veias que são as ruas de minha cidade. O sangue esquenta quando o transito aperta mais que o cinto. Cinto sim! Se não? Multa.

Saio de casa todos os dias preparado, São Paulo é imprevisível, invisível coberto pela neblina que em cada esquina esconde o inesperado. O que esperar de São Paulo?

Guarda-chuva (ácida), óculos de Sol, o tempo vira e tem enchente falta agua. Alagou, secou. Poe casaco tira casaco.

Quantos amores já deixei a esperar nas esquinas, ruas e becos. Angélica, Penha, Augusta... Augusta, quanto tempo com ela já perdi, quantas vezes com ela já sofri afogando minhas magoas ao som do samba que ecoava pelas paredes velhas e sujas, porém belas da avenida que rasga a cidade

Aqui já vi revolução, corpo no chão, panelaço, estardalhaço, bala perdida fazendo uma vítima inocente, exposição, comoção, passeata, acidente, gente de tudo quanto é tipo, raça, cor.

A ganância movimenta a cidade mais bipolar do país e da vida aos arranha-céus que perdem em altitude para as nuvens de fumaça. Moças desfilam, tropeçam nas ruas esburacadas, tropicam em mendigos e param para tomar um café, relaxar, acalmar os ânimos se é que existe algum.

São Paulo é enfadonha e dulcíssima, de fato complicada. Sampa é cinza e cabe a nós colorir.

São Paulo é diferente e não para... como dizia Tom Zé:

Em Brasília é veraneio

No Rio é banho de mar

O país todo de férias

E aqui é só trabalhar

Porém com todo defeito

Te carrego no meu peito

Te conto uma crônicaOnde histórias criam vida. Descubra agora