Dois

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          — Ladra — Diz o príncipe de ohos flamejantes, um pouco surpreso. Nossa, ele é mais bonito do que eu imaginei

          — Fazer o que. — Solto sem querer, estar de frente com um cara que não era pra existir te deixa distraída. Ele me olha de cima a baixo, quase como se me analisasse desde meu rosto até meus tênis sujos de barro, então respira fundo e me solta. Deveria sair correndo, buscar Mare Barrow onde quer que ela esteja e fazer ela conhecer ele, mas por algum motivo eu fico aqui encarando seus olhos que parecem mudar conforme a luz. Então uma moeda prateada voa e por muito pouco não cai no chão lamacento. 

          — Isso deve ser mais do que o suficiente para te ajudar. — A luz muda mais uma vez a cor de seus olhos, ficando mais avermelhados. 

          — Não precisava. — Penso em estender-lhe de volta a moeda, mas meu estômago vazio me lembra de que não é uma boa ideia. 

          — Você precisa mais do que eu. — Seguro uma risada. Claro, por que você tem um monte dessas lá no palácio. O agradeço brevemente. Por dentro eu estava torcendo para que ele não puxasse assunto, não sou eu quem deveria estar tendo essa conversa. — Você mora na vila? — Droga, essa se tornou a palavra do dia, um dia tão confuso.

          — Sim. — Minto, não posso simplesmente dizer que minha casa fica em outra dimensão. Mas pelo jeito, vou ter que ficar aqui por um tempo. 

          — E você gosta, digo, de viver lá? — Como eu poderia responder essa pergunta? Cheguei hoje de manhã aqui. 

          — Não, e alguém gosta? — Realmente, minha experiência em Palafitas não está sendo nada agradável, me deram um documento de Norta mas não me deram dinheiro e nem um lugar para dormir. Sério, essa pessoa merece um prêmio de pior recepção, seja lá quem ela for. 

          — E você vai voltar? — Por que ele ainda ta falando comigo? Por que eu ainda não sai correndo? Nunca pensei que iria me irritar com ele. 

          — Lógico né. Não posso ficar aqui plantada no meio da rua. — Digo sendo totalmente sarcástica. 

          — Só quero ter certeza de que você não se encrenque tentando roubar mais pessoas. Claramente você não é muito boa nisso. — Ele solta uma leve risada. Preciso entrar nesse joguinho, fazer parecer que sou só uma vermelha qualquer, que não faz a mínima ideia de quem ele seja. — A propósito, sou Cal. — Ele estende uma mão para me cumprimentar.

          — Kenna Flake — Aperto sua mão e logo saio andando, na esperança de que ele me deixe ir e seja roubado novamente, só que por Mare. Mas ele parece não desistir e me segue.

          — Uau. Como você é simpática. — Ele diz com ironia. 

          — Não é a primeira vez que escuto isso. — solto uma leve risada. Entre no jogo Kenna. Quem sabe eu não consigo que a Mare seja empregada e a história continua seu rumo normal. — Devem te pagar muito bem pra você andar com esse dinheiro todo.

          — Eu tenho um bom emprego. — Ele explica, tentando disfarçar. Mas realmente, ser o príncipe herdeiro de Norta deve pagar muito bem.

          — Pelo menos um de nós tem. 

          — Mas você tem... 

          — Dezessete, falta pouco pro... — Somente agora pensei no recrutamento, e além de estar aqui vou morrer aqui. — Recrutamento. Tenho uma amiga, ela tem a mesma idade que eu também não tem emprego, vamos ser recrutadas juntas, Mare Barrow é o nome dela.—  Cal parece pensar, seus olhos ficam mais sérios. 

Coroa de VidroWhere stories live. Discover now