Capítulo III - 02 vezes trouxa

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Quando foi, quando foi

A última vez que você

Saiu sem ninguém notar

Sem ninguém te reparar

Tiago Iorc – Sol que faltava

Todo dia de folga que eu recebia era uma eterna indecisão. Eu poderia ficar em casa e não fazer nada enquanto colocava minhas séries em dia, podia ficar em casa e não fazer nada enquanto coloco meus canais do Youtube em dia ou poderia ficar em casa e não fazer nada arranjando algum filme para assistir. Tá achando que é fácil? São tantas opções que até me perco.

Mas quando meu dia coincide com um domingo, ah, não há nada no mundo que me faça... sair da frente da TV. Que é? O Sol tá de lascar, vou fazer o que lá fora? E todo domingo é a mesma coisa. As calçadas enchem de gente com cervejinha na mão, sentam com os parentes e botam as fofocas em dia. Se sua rua não fica cheia com isso, certeza que ao menos uma casa o faz. Exceto, é claro, se for um beco ou um casarão.

Só que, convenhamos, quando temos um lindo gato que vive pedindo para sair, ou você sai logo ou você sofre com ele pulando na sua cara, no seu computador, no seu controle...

— Júpiter! — Ou começa a arranhar as coisas só de pirraça. — Seu gato filho de uma gata desnaturada, venha cá agora. — Nunca vi um gato mais maratonista do que o meu.

Por isso, fui obrigada a pegar a pequena coleira com guia dele para darmos uma volta. Eu realmente achava que havia trocado coelho por lebre, pois Júpiter passava fácil por cachorro... boa parte das vezes.

Depois de colocar seu peitoral preto, anexei a guia nele, ajustei a coleira que tinha seu nome e meu número, depois suspirei cansada. Eu nem tinha me recuperado do corre-corre dessa semana ainda! Ter trabalhado feito condenada para ter nove dias de folga foi algo intenso, sabe?

Andamos em direção a porta e, como um fingido comportado, ele sentou-se nas patas dianteiras e esperou que eu colocasse a bolsa no ombro e abrisse a porta.

— Eu acho bom você não desfilar na frente do Billy. Ele ainda está puto por causa da última vez.

O sacana me encarou e lançou um miado curto, seguido de um longo, depois de um mais curto.

— Nem me vem com essa de que não foi sua culpa. Você é um exibicionista.

Respirei fundo e abri a porta. Quando passamos por ela, a dona do prédio estava parada ao lado da minha porta e me olhava como se tivesse visto um fantasma.

— Olá, bom dia dona Marta.

— Querida, já considerou arrumar um namorado? Conversar com seu gato pode não fazer bem para sua saúde mental.

Quem é que precisa ser cordial e educada depois dessa?

***

Ir à praia é um risco sempre muito grande, mas eu estava disposta a deixar Júpiter andar pelo calçadão. Escolhi um banco de concreto que ficava na sombra de uma árvore, observei meu gato olhar em volta com desconfiança e, depois que decidiu que era seguro, saltou para o meu lado e deitou com as costas apoiadas em minha coxa.

O calçadão dividia a avenida da areia da praia. O mar estava azul, lindo e cheio de pessoas felizes.

Havia dois fiscais de vaga naquela avenida e dois policiais parados perto de mim. Então tirei o celular sem medo de ser roubada, ao menos não por uma pessoa física, já que o 3G te assalta na cara dura.

Livro 01 - Fora do PrevistoWhere stories live. Discover now