Prólogo: O que lhe pertence?

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Fleur observava o pequeno campo de batalha que se instalara em sua sala de estar desde que a sua adorável (e impulsiva) sogra quase derrubara a porta de sua casa esbravejando e denominando-a de palavras tão rudes que ela mal pudera acompanhá-las.

Bill, ao seu lado, respondia a todas as acusações e pontuações de sua mãe com um ar furioso. Fleur sentia-se lisonjeada por ele ser capaz de defendê-la daquela forma, mesmo diante daquela confusão toda.

Seu sogro, o simples e risonho Arthur Weasley afagava o braço da mulher há exatos 15 minutos, em uma tentativa de acalmá-la que já se provara mais do que falha. A filha mais nova do clã Weasley, Gina, se juntara a mãe e agora eram duas que gritavam e gesticulavam com Bill. Rony, seu engraçado ex-cunhado, revirara os olhos e esvaziava uma das garrafas de uísque de Bill enquanto acompanhava a cena, jogado em uma poltrona.

Fleur não conseguira acompanhar a discussão desde o começo e nem ousara se manifestar, apenas massageou suas têmporas e respirou fundo. A cabeça estava prestes a explodir.

- Eu lhe disse, desde o começo, que não era para você se casar com ela, William Arthur Weasley! - Molly Weasley sempre era muito incisiva em suas palavras. E também era muito cruel quando se tratava de colocar defeitos em sua nora. O vermelhidão de sua face estava quase no mesmo tom de seus cabelos, ela estava respirando com dificuldade e Fleur estava com medo de que ela fosse, literalmente, explodir a qualquer momento.

Bill era o primogênito e Molly esperava que ele se casasse com uma decente moça britânica... E não uma "francesa desmiolada". Fleur sabia onde estava se metendo desde o começo, mas acreditara que o tempo poderia ser capaz de amolecer a senhora. Pelo visto, cinco anos foram poucos para o ódio que a mulher parecia sentir em relação a ela.

- Uma francesa nunca seria capaz de se adaptar a nossa família! Mal completaram cinco anos de casados e ela já está nos depenando, inteiros! - Gina acusara Fleur furiosa, direcionando um olhar frio em direção à cunhada, apontando-lhe o dedo indicador. Fleur assumiu uma expressão de desagrado e bufou impaciente, batendo na mão da jovem. Respeitara a Sra. Weasley apenas por causa da idade, mas Gina era uma pirralha que não tinha qualquer direito de ir contra a ela. - Ela não pode tirar o que é da família!

- O problema de vocês é em relação ao nosso divórcio ou a divisão de bens? - Bill perguntou exasperado antes de rir abertamente. Fleur olhou surpresa para ela, tentando entender da onde vinha a graça. Bill jogou-se no sofá e colocou as mãos sobre a face, deixando a gargalhada finalmente morrer. - Eu e Fleur vamos nos separar e concordamos em dividir o "La Petite Mort", deixaremos de ser marido e mulher para sermos sócios. E concordamos com isso, amigavelmente.

- O restaurante... - Molly pigarreou entredentes, com os punhos fechados apertados. Não importasse o sucesso que o restaurante fizesse, Fleur sempre soubera que a senhora jamais chamaria o restaurante pelo nome que ela dera. E o fato do nome ser francês incomodava ainda mais. - ... já era da família antes que ela fizesse parte do nosso convívio. Ele não está incluso na divisão de bens.

Bill colocou as mãos sobre a face, novamente, antes de soltar um grito furioso que fez Rony derrubar o que restava do uísque em seu copo. Arthur finalmente largara a mulher e tinha uma expressão decepcionada no rosto, Gina permanecia firme e forte ao lado da mãe.

O silêncio instalado na sala estava estranho e incomodava, muito. Fleur sentou-se ao lado de seu futuro ex-marido e afagou-lhe os ombros, detestava vê-lo daquela forma porque o amava, não como homem, mas como seu melhor amigo e sabia de todas as dificuldades e de todos os pesos que ele carregava. Uma família louca era só mais uma coisa detestável na lista de atributos que ele possuía.

A jovem francesa ergueu-se novamente em pé. Caminhou até Rony que, como sempre, pareceu hipnotizado com a sua aparência física. Fleur revirou os olhos para ele, entediada, e tomou o copo de uísque parcialmente cheio que ele tinha em mãos. Virou todo o conteúdo do copo garganta abaixo, o álcool lhe queimou o interior, mas ela o ignorou para dizer desafiadora:

- Eu não quero nada do que não é meu, por direito! O restaurante deixou de ser da família quando vocês o colocaram no nome de Bill, por ele ser o primogênito. Portanto, ele está incluído na divisão de bens. Eu poderia estar exigindo todo o restaurante para mim, pois eu trabalhei por ele mais do que vocês trabalharam em todas as suas vidas... Porém, eu só quero metade e quero continuar trabalhando com Bill.

Conforme falava, Fleur começou a notar quão estressada estava com toda aquela situação. O seu sotaque era quase imperceptível, mas naquele momento, estava mais evidente do que nunca. Observou os olhos de Molly Weasley semicerrarem-se e ameaçarem os seus quando seu sotaque falou por ela, a mulher ficou alguns segundos em silêncio para depois explodir:

- Está vendo, William?!

- Ela já planejava tirar o restaurante de nós desde o começo! - Gina completou acusatória e apontando, mais uma vez, o dedo em direção a Fleur. A francesa aproximou-se a passos rápidos e ameaçadores em direção a ex-cunhada, Gina veio sem medo algum em sua direção até ser segurada pelo irmão. Bill, por sua vez, puxou Fleur para perto de si e grunhiu:

- Parem de atacar a Fleur, ela tem tanto ou mais direito sobre aquele restaurante do que muitos de nós.

- Aquele restaurante é da família, William... - Molly respirara fundo e conseguiu se recompor, a pele estava mais pálida, mas os olhos estavam frios. A senhora olhou para o marido que, silenciosamente, apoiou suas palavras. Bill parecia ofendido quando olhou para o pai, decepcionado. Rony não desviou os olhos do chão. - Ela nunca foi da família. E nós não vamos abrir mão disso.

As palavras de Molly Weasley atingiram Fleur mais do que ela ia admitir. A jovem francesa escutou a porta de sua casa bater enquanto desabava no sofá, com o rosto entre as mãos, sufocando as lágrimas de raiva que teimavam em chegar à superfície de seus olhos azuis.

- Nós vamos resolver isso tudo, Fleur.

Sentiu a mão pesada e receosa de Bill em seu ombro por alguns minutos até que ele finalmente desistiu de consolá-la e também saiu de casa. Fleur tirou as mãos do rosto e contemplou a pequena e simples casa que parecia ser tão sua, ao mesmo tempo em que ela mesma parecia não pertencer àquele local.

Na realidade, Fleur não pertencia à local algum e não tinha mais ninguém.

A jovem caminhou até seu quarto a passos pesados e jogou-se na cama, esgotada. Tudo teria sido mais fácil se ela não fosse ela mesma.   

La Petite Mort [FLEURMIONE]Onde histórias criam vida. Descubra agora