Capítulo 1

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Princesa.

Substantivo feminino, a moça que pode se tornar rainha por ser filha do rei ou por se casar com um príncipe; alteza, mulher bela e formosa, culta e educada.

À Cibele faltava a realeza e mesmo assim desde muito cedo aprendeu a responder quando ouvia 'princesa'. Sua falecida mãe sempre dizia 'moya printsessa' usando o pouco da língua dos pais que se lembrava. Era uma bonita e frágil descendente de Russos que infelizmente não resistiu à sua doença e faleceu logo após Cibele fazer treze anos.

Além da dor, restou a Xavier Machado terminar de criar com todo o cuidado e dedicação a filha querida que parecia bastante com a mãe. Cibele aos poucos se acostumou a não ouvir mais 'minha princesa' e fora isso, nada lhe faltou.

Vários aprendizes de príncipes passaram por sua vida, mas a nenhum ela decidiu se unir definitivamente por lealdade ao pai que nunca a submeteu a nenhuma madrasta. Dezenove anos após a perda da esposa e ele ainda era solteiro.

'Por que não namora ninguém, pai?' Ele perguntou quando comemoraram o aniversário de cinco anos do falecimento.

'Quem disse que não namoro, Bele?' Xavier fez uma expressão divertida.

'Está sempre em casa, nunca sai à noite...'

'Você precisa de mim.'

Aquelas palavras ficaram gravadas na sua cabeça e coração, inconscientemente decidiu retribuir a gentileza decretando um limite para qualquer romance que tivesse.

Segundo a análise do pequeno e unido grupo de amigas que se falava quase diariamente, todas também princesas em suas muitas qualidades, Cibele era a [única responsável por nunca ter sido pedida em casamento.

'Acho que esse último ia te pedir em casamento...' Cecília, a amiga calma e discreta pensou alto olhando sobre as lentes do óculos escuro sob a barraca de praia.

'Também acho.' Ariela, a prima mais velha a quem Cibele considerava irmã, concordou mantendo os olhos na enteada de dez anos jogando frescobol na beira d'água com uma amiga. 'Se ela tivesse aceitado morar com ele, com certeza o cara ia fazer o pedido.'

'Coitadinho... Acham que ele queria fazer estágio?' Serafina, que resistia a relacionamentos por temer se machucar, debochou. 'Bem feito!'

'Você sempre acha que os caras são todos errados, Rafí.' Sua irmã, Melissa, sacudiu a cabeça. 'O cara estava inseguro, é normal isso. Bele é totalmente dedicada ao pai.'

Bianca inclinou a cabeça sorrindo. 'Pode até ser normal, mas é um corta tesão... Ele poderia ter falado antes. Se queria mesmo casar com ela, teria tomado uma atitude.'

Todas concordaram.

Na verdade, ele tinha dado dicas - algumas bastante eloquentes, que Cibele preferiu ignorar. 'Pedido de casamento não houve, e se houvesse, teria recusado.'

'Vai ficar com tio Xavier para sempre?'

'Um dia, um príncipe perfeito vai chegar em um cavalo branco...'

'Nesse dia me decido!' Cibele fez graça.

Duvidava que esse homem maravilhoso e seu alazão existissem apesar de ter certeza de que havia muitos - só não calçavam seu número. Para si mesma repetia que não era fechada a romances, vivia alguns muito bacanas, especialmente com a ajuda de aplicativos de encontros. Qual poderia ser o problema de evitar comprometer-se a longo prazo?

Bonita, loura quase natural, em forma, bem humorada, culta, educada e solteira. Feliz.

Cibele era advogada de formação como o pai e também como ele, era apaixonada por livros. Qualquer um. Letras impressas em papel, ilustrações, mapas, esquemas, orações, romances, histórias: se era encadernado, tinha título e autor poderia ser incluído no alvo de sua paixão.

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