24 - EI, VOCÊ!

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Ok. Respira fundo. Isso. Vai ficar tudo bem. Vai ficar tuuudo bem.

Ou não, afinal tinha um leão rugindo logo atrás de mim.

É, isso provavelmente vai acabar mal.

Tentei seguir meu próprio conselho e respirar fundo, mas eu não conseguia me acalmar, por mais que eu quisesse. Se bem que eu tinha razão para estar tensa, né?

O leão não se moveu. Ainda estava em posição de ataque. Ele continuava me encarando com aqueles olhos cruéis.

Girei a pedra em minhas mãos e pensei nas minhas chances contra a criatura. Fugir ou atacar de surpresa?

Decidi por fugir, e um segundo depois eu corri para qualquer lado. As folhas batiam no meu rosto, mas continuava a olhar para frente, com medo do que poderia ver se me virasse. Outro rugido veio de trás de mim, preocupantemente perto.

— SOCORRO! — berrei, mesmo que não fosse adiantar — SOCOOOOOOOOORRO!

Minha voz ecoou pela floresta, mas eu não vi ninguém chegando em meu socorro. Minhas pernas queimavam, assim como meu pulmão, pelo esforço. Eu ouvia galhos se partindo atrás de mim, e isso me dava motivação para continuar correndo.

Mas eu não tinha mais forças.

Minhas pernas fraquejaram e eu caí no chão, deixando a pedra que tinha em mãos rolar para longe. Em menos de dez segundos o enorme animal surgia em meu campo de visão, farejando os arredores, até me localizar ali no chão. Caída. Tremendo.

Indefesa.

Ele nem sequer se deu ao trabalho de correr, o que foi um insulto e tanto. Ele sequer se importava que sua presa tentasse fugir, pois sabia que eu não iria longe.

Não importava o quanto eu corresse, ele sempre iria me encontrar.

Nos meus últimos momentos, pensei que aquela era uma excelente metáfora para a minha vida. Eu fugi, corri para longe do meu passado, mas ele deu um jeito de me encontrar. No lugar mais inusitado possível.

Respirei fundo e me virei para encarar o meu assassino, resignada.

Ele andava com o queixo erguido, orgulhoso, e parecia ainda maior visto do chão.

Eu pensei em tentar fugir mais uma vez, mas minha respiração ainda não tinha voltado ao ritmo normal, e minhas pernas ardiam, inúteis.

Só me restava esperar a morte.

O grande leão parou em cima de mim, seus olhos nos meus.

Percorri meus olhos por seu enorme corpo e percebi algo que não tinha visto antes.

Ele estava magro, muito mais magro do que eu consideraria saudável. Cicatrizes em sua barriga e peito, algumas feridas recentes, demonstravam que ele sofria maus tratos.

E seus olhos. Os pequenos olhos âmbar dele não demonstravam crueldade. Eu podia estar até ficando louca, mas jurava que via quase um pedido de desculpas neles. E uma lágrima escorrendo solitária por seu pelo dourado.

— A Angelina maltrata os leões? — sussurrei, encarando mortificada as enormes cicatrizes

Então é por isso que eles a obedecessem.

Respirei fundo, fechando os olhos, me deixando largar. O leão descansou suas patas em meus braços e tensionou os músculos, pronto para atacar. Eu esperei por meu fim.

— EI, VOCÊ!

Algum imbecil atrapalhou meu lindo momento de morte, mas eu não fiquei brava.

The Starving Lion CampOnde histórias criam vida. Descubra agora