II

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     Ainda fazia muito frio quando Ruth parou em frente o portão de casa, estava trancando como ela imaginava, mas não demorou muito para Ezequiel vim abrir. Quando olhou para cara dele, descansado e com aquele sorriso maldoso no rosto,  o sangue ferveu de raiva e simplesmente se esqueceu do frio, mas não ia desafiar  ele nesse momento, falaria o menos possível. Apertou com força a flor de papel que Vivian tinha lhe dado, aquele gesto deu uma certa força e tranquilidade.

___Passou bem a noite a fora de casa?

     Até a voz de Ezequiel a irritava. Trincou os dentes com  força para não dar a resposta que ele merecia. Se ele soubesse quão bem ela tinha  dormido a noite. Passou por ele e foi até o quarto pegar uma blusa, guardou a flor no bolso, aquele era seu talismã, depois foi até a cozinha preparar tudo como de costume. Ezequiel ia seguindo os passos dela.

___Então Ruth, não vai me responder?

___Tenho que preparar o café e o almoço que você vai levar.

___Que maravilha, a noite fez bem para sua educação.

___Você nem imagina o quanto.

      Ele chegou por trás de Ruth e agarrou pelos cabelos, fazendo a cabeça tombar um pouco para trás.

___É assim que gosto de você, uma boa esposa, respeitadora. Nunca mais abuse da minha bondade, entendeu? Da próxima vez eu posso não ser tão bondoso.

      A mente Ruth fazia força para não prestar atenção as bobagens que ele dizia, desvia o pensamento, para Vivian, o sorriso, o carinho, o corpo quente aquecendo o seu, o beijo. As palavras de Ezequiel dispersavam em sua mente sem aquele efeito nocivo costumeiro.

    Finalmente ele foi para o trabalho, até o ar da casa parecia mais puro nesse momento.

     A partir de hoje começaria a investigar tudo que o marido fazia na igreja, iria descobrir onde ele usava o dinheiro que os fiéis davam no dizimo ou como doação, ele sempre dizia que era para a manutenção da igreja e ajuda a pessoas carentes, mas por que ela nunca via nada de ajuda? E será que igreja gastava tanto assim com manutenção? Precisa encontrar o livro onde ele anotava essas coisas.

    Sentia se motivada, fazia isso por ela, pela igreja e por Vivian, quem sabe as coisas desses certo, e elas pudessem ficar juntas, teria que abrir mão de muitas coisas na qual acreditava, sua convicções, mas Vivian valia o preço a ser pago.

    Mas enquanto não resolvesse todas essas coisas, precisava se manter um pouco afastada dela, não sabia quanto tempo aguentaria, mas era preciso. Mas mesmo assim, com seu afastamento, toda manhã Vivian lhe mandava a mensagem de BOM DIA.

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     Ficou três dias sem ter noticias de Vivian, evitava sair para fazer a limpeza na frente de casa na hora em que ela saia para o trabalho. Estava difícil resistir a saudade e a vontade de ouvir a voz dela, sentir o perfume. Quando ouvia o barulho da moto, seu coração disparava, fechava os olhos e ficava se imaginando junto com ela a andar pelas ruas, o vento batendo nos cabelos, a mão na sua cintura para não cair.

    Começou a se sentir mal na hora do almoço, já faziam dois dias que ela tinha aquela dor no corpo e uma tosse persistente, Ezequiel vivia reclamando a noite, tanto que ela foi dormir no sofá. Mas agora estava bem pior, a cabeça doía demais.

    Procurou por um remédio para dor, mas havia acabado, não tinha certeza se conseguiria ir até a farmácia, seu corpo estava mole, não viu outro jeito além de ir pedir algum para Vivian.

    Quando foi tocar o interfone, notou um carro luxuoso parado em frente, ficou na duvida se voltava para casa ou tocava, por fim se decidiu, tocou o interfone.

     Para decepção total de Ruth, quem atendeu e abriu o portão foi uma moça alta e linda, não tinha duvidas, Vivian tinha mentido,  nunca sentiu nada por Ruth,já estava com outra garota.

     Em algum lugar, dentro do seu peito, ela sentiu seu coração partir em pedaços.



A Mulher do PastorOnde histórias criam vida. Descubra agora