Capítulo Um

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Uma vez me disseram que 'uma vida vivida só por viver não é vida'. Na época em que ouvi isso pela primeira eu não consegui entender o que essa frase queria dizer, mas hoje eu consigo.

Ela quer dizer que você tem que aproveitar cada segundo. Viver para ser amado, para amar, para sentir tudo, ser tudo. E não era isso que eu estava fazendo. Estava infeliz com minha vida. E ela estava só começando, eu não podia começar minha vida com o pé esquerdo. Foi por isso que eu terminei meu namoro - ela não ficou muito feliz, mas eu tinha que me conhecer antes de conhecer o amor da minha vida - sai do time de futebol e desiste da faculdade de direito.

Toda essa reviravolta na minha vida começou a algumas semanas, durante o discurso da Pag, nossa oradora de turma, eu nem prestava muita atenção, pois Tiara estava tentando, mais uma vez naquela semana, me convencer a ir a sua casa para a qual seria a noite mais perfeita da minha vida, mas na verdade algo dentro de mim gritava para eu não perder minha virgindade com Tiara. Mas o importante é que no momento em que Pag começou a falar sobre ir para a faculdade, conhecer o mundo, conhecer a nós mesmos... Eu tive um pequeno lapso. E minha insana crise existencial teve inicio.

Agora tudo ao meu redor parecia uma decisão extremamente importante a se tomar. Melane, minha melhor amiga, me indicou uma terapia para essas ocasiões: Sentar em frente ao espelho e dizer quem eu sou. Bem, eu sinto muito Melane, mas não esta dando muito certo.

"Meu nome é Lana Davis e eu... Eu... Eu não sei mais nada."

"Lana, querida. O jantar está pronto, venha lavar as mãos." Esse é Igor, 'responsável legal' por mim,que ainda pensa que tenho 10 anos.

Por que responsável legal?

Igor é um seminarista que cuida de um lar para crianças e adolescentes que por algum motivo não pode morar com os pais, não é exatamente um orfanato é mais um colégio interno, afinal pais ricaços sempre mandam seus filhos mimados e incontroláveis para lá.

E nem eu não morei sempre lá, ainda quando eu era um bebê, de acordo com Igor, minha mãe biológica me deixou no Lar da Senhora Penélope o tal internato/orfanato. Mas pouco menos de um ano depois eu fui adotada por Emílio Santiago, um arquiteto que tinha perdido a esposa em um acidente e recusava-se a casar com outra mulher, porém precisava de um sucessor, no caso seria eu. Se ele não morresse quando eu tinha cerca de quinze anos e mais uma vez fui deixada no Lar da Senhora Penélope.

Apesar de toda essa situação bizarra, eu fui muito amada. Dediquei-me a seguir os passos do meu pai, por que sim, ele sempre será meu pai. Bem, pelo menos era o meu plano até pouco tempo atrás.

"Já estou indo." Desanimada desci para a cozinha, onde Igor já havia posto a mesa para dois. Era assim todas as quartas, as crianças do internato iam para o teatro ensaiar uma peça grandiosa. A senhora Penélope era ex-atriz...

Igor era maravilhoso, muito gentil e sempre foi como um irmão mais velho ou um segundo pai.

"Tem falado com a Tiara?" Ele perguntou. "Ela saiu daqui bem chateada, naquele dia."

"Ela estava com raiva. Mas vai passar, eu espero pelo menos." Eu realmente desejo apenas coisas boas para ela.

"Ok."

"Como está indo com o artigo sobre o Saint Mary?" Igor também era um jornalista investigativo para um jornal local. Nesse momento ele estava trabalhando em uma reportagem sobre um colégio da cidade que, de acordo com alguns alunos, era assombrado pelo fantasma do fundador. Ele odiava todas essas histórias, ele sempre buscara algo real sobre o que escrever.

"Péssimo!" Ele começou. "Cada aluno tem sua versão pra contar, uma mais idiota que a outra. Eu já pedi ao David pra trocar, mas, ele é outro idiota que acha que historias sobre fantasmas e vampiros vendem mais."

"Mas vendem" Eu disse. Era a verdade.

"Mas são mentiras." Ele retrucou.

"Ok, você tem razão."

"Sempre tenho." Disse com um olhar convencido.

Um momento de silencio, segundos na verdade, foi o suficiente para ele pensar no assunto do qual eu mais queria fugir.

"E a faculdade de arquitetura? Já era mesmo?" Ele jogou as frases no ar.

"Eu acho que sim." Ele odiava essas minhas meias respostas. "Quero dizer, eu nunca pensei direito sobre isso mesmo. É como se estivesse vivendo o desejo do papai."

"Entendo." Não, ele não entendia. "Se você quiser dar uma ida no trabalho comigo qualquer dia... Tipo sem compromisso, ok. Só pra você ver como a coisa funciona..." Igor era uma daquelas pessoas que tentam se adaptar a tudo até mesmo na maneira de falar.

"Igor..." Eu estava prestes a fazer um discurso sobre como eu me sentia sobre seguir os passos de outra pessoa... ser uma sombra dos meus pais e tudo mais, quando uma voz na minha cabeça gritou 'Vá'. E eu disse. "Ok." Droga, eu odeio minha impulsividade.

Sua expressão inicial foi de surpresa, a segunda de duvida como se ele não tivesse ouvido direito e a terceira e ultima foi de felicidade. Tudo isso em questão de segundos.

Eu não podia voltar atrás agora.

"Ótimo! Então que tal amanhã?" Sim, ele estava muito entusiasmado.

"Anh, amanhã não dá. Já prometi a Melane que faríamos 'nossas ultimas compras como adolescentes despreocupadas' nas palavras dela"

"Tudo bem. Então na segunda está ok pra você?"

"Segunda está ótimo." Forcei um sorriso.

"Ótimo." Ele sorriu largamente. Céus ele não vai falar de outra coisa o final de semana inteiro.

"Hey, o que você acha de uma sessão de filmes essa noite? Faz um tempo que você esta fugindo das comédias românticas..." Sugeri na tentativa de evitar o assunto Lana-vai-trabalhar-comigo.

"Isso parece bom. E eu não fujo de comédias românticas!"

"É verdade. Elas é que fogem das suas criticas terríveis" Ele gargalhou e foi impossível prender o riso.

E assim o resto da noite escorreu pelas mãos da lua.

Infinito - Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora