Dois

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Por mais que eu retrucasse sobre a decisão que Gabrielly e Rosa tomaram por mim a respeito da aula de recuperação, as duas continuaram dizendo que seria melhor eu parar de enrolar e ir logo. Eu sabia que elas não estavam erradas, só não queria admitir que de fato eu era péssimo em matemática e precisava de ajuda.

No fim da última aula, Rosa, Gabrielly e Alexy me acompanharam até a sala onde seu irmão estava, e esperamos no corredor, ao lado da porta. Dei uma espiada para dentro, procurando pelo meu futuro colega de recuperação, e me deparei com o garoto loiro caminhando para fora. Rapidamente encostei na parede, sem que ele tivesse me visto.

— Vamos, Armin? — indagou o garoto, saindo e olhando para trás. A voz dele era mais grave do que eu imaginei.

— Já tô indo... — avisou Armin, para variar, jogando.

O garoto deu um sorrisinho, como se já soubesse que Armin enrolaria, e foi na frente.

— Caramba, Armin — repreendeu Alexy. — O que a mãe falou?

— Ah, me deixa. Eu já tinha terminado a lição, tá? — resmungou, pausando o jogo, e me encarou. — Vamos?

Concordei e começamos a caminhar. Eu tive a leve impressão de que o garoto também iria para a recuperação, ou talvez ele não soubesse que Armin precisava ir e apenas o chamou para ir embora. Imaginei que a última opção fosse a mais viável, já que o rapaz não tinha cara de quem gostava de estudar, e muito menos aceitar ter aulas de reforço.

Me despedi dos três no fim do corredor e Armin e eu seguimos para a sala de matemática, onde já havia algumas pessoas em cantos diferentes. Fiquei levemente decepcionado, apesar de ter chegado àquela conclusão preconceituosa.

Armin foi na frente e se sentou na última mesa da primeira fileira da porta.

— Você não acha melhor sentar na frente? — perguntei. Eu não precisava tomar o papel de responsável, ele devia saber as consequências de não prestar atenção naquelas aulas, mas não conseguia pelo menos tentar persuadi-lo.

— Quando a professora chegar, eu sento lá — respondeu sem tirar os olhos do jogo.

Dei de ombros, na dúvida se ele realmente faria aquilo, e voltei para a frente. Me sentei na primeira carteira da segunda fileira e tirei meu caderno e meu estojo da mochila, os deixando na mesa. Como eu não sabia quanto tempo a professora levaria para chegar, comecei a rabiscar uma das folhas sem prestar atenção.

Algumas pessoas entraram na sala, e um pouco depois ouvi Armin rindo. Fiquei curioso, mas me segurei para não olhar para trás.

A professora chegou, desejando boa tarde, e deixou suas coisas na mesa.

— Olá, gente. Fico feliz que vocês tenham vindo, e só vou pedir uma coisa. Que todos vocês aí do fundo sentem aqui na frente — pediu gentilmente, com um tom de autoridade.

A sala se encheu de barulhos de cadeiras sendo arrastadas e mochilas levantadas. Todos os que estavam no fundo, se acomodaram nas carteiras da frente e, por alguns segundos, gelei com a minha visão periférica, que reconheceu a pessoa ao meu lado esquerdo apenas pela calça com um rasgo no joelho.

Meu coração começou a bater mais rápido, e temi que de alguma forma ele tivesse reparado todas as vezes em que eu o observei, mesmo que soubesse que ele nunca tinha olhado na minha direção. Não até hoje.

— É, eu ia vir pra frente de qualquer jeito — falou Armin perto do meu ombro, pegando a mesa de trás para si.

Tentei sorrir, mas eu estava tenso demais. De canto de olho, observei o garoto, sentado de pernas cruzadas na cadeira, colocado um caderno, uma caneta azul, uma lapiseira preta e uma borracha pequena na mesa.

O Garoto da Calça Rasgada - Amor DoceOnde histórias criam vida. Descubra agora