A Cabana Na Neve

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      Em meio à neve e pinheiros havia uma cabana solitária. Esta cabana de parede cinzenta e telhado branco abrigava um pobre senhor solitário e tristonho. Ele não ficava mais em sua varanda, onde havia uma cadeira de balanço, admirando a floresta, pois, se o fizesse, a neve congelaria sua pobre barba grisalha. Agora, ele ficava dentro da cabana, onde o frio era um pouco menor. Não era aconchegante. Na verdade havia sido, há muito tempo atrás, entretanto, não era mais.

      Lá dentro ele conversava sozinho, em frente a uma lamparina, que lutava em vão contra o frio e a escuridão. 

      Fazia tempo que ele não saia para cortar madeira. Seu machado estava esquecido em um canto onde costumava haver uma pequena pilha de madeira, cortadas em formatos triangulares, feito fatias de bolo que o fogo comeria. Os últimos pedaços haviam sido usados na noite anterior, apesar de não terem sido suficientes para gerar uma boa noite de sono.

      – Eu me lembro... – diz ele, como se estivesse conversando com alguém. – Quando eu era jovem, com minha finada esposa, em uma aconchegante cabana. Agora ela se foi e só me resta seu fantasma e uma cabana fria, onde só se cultiva tristeza. Eu me lembro de como éramos felizes e gostávamos de passear de mãos dadas na vila, a milhas de distância daqui. Íamos de carroça, mas o cavalo morreu e a carroça se quebrou. Éramos um casal feliz, mas como coisas boas duram pouco, ela foi tirada de mim. – Ele esfregou uma mão na outra e depois formou uma concha e então soprou dentro dela, com a intenção de aquecê-las. – Você gostava de pão de mel! – Ele riu. Não havia ninguém ali, além dele. – Eu detestava e ainda detesto. Porém sinto saudade do cheiro, porque você gostava e o cheiro me faz lembrar do seu sorriso, que você dava toda vez que comia um pedaço. Eu seria capaz de fazer um agora, só para sentir o cheiro. 

      A esposa a qual ele se referia morrera há muito tempo, entretanto,  para ele era como se fosse ontem. Ontem ele chorou e suas lágrimas nunca o abandonarão, pois ficaram congeladas no chão gélido.

      – Se eu chegar a fazer, espero que não me culpe. Fiz por saudades e pela vontade de te ver. – O velho esfregou os olhos com força. – Eu não precisaria fazer se você ainda estivesse aqui! Ouviu isso? É sua culpa, não minha!

      Não pense que o tempo cura a tristeza deste pobre e solitário homem. Ao anoitecer, com a neve caindo, sua tristeza apenas piora, assim como sua insanidade. Engraçado, pois a muitas e muitas milhas dali, pessoas festejam e comemoram no calor dos salões e tavernas. Este homem porém, internamente, conversa com a morte e cogita a hipótese de segui-la.

      A melancolia de sua vida talvez pudesse ser livrada com o encontro de outro amor, entretanto, na terra onde só existe neve e tristeza, qual seria a chance de isso acontecer? A chance é tão grande quanto a chance de um dia ensolarado chegar e varrer para longe a neve e, com ela, o frio.

      Mas o sol não chegaria ali tão cedo. Ele chegou, muito depois que o velho se foi, mas chegou. A cabana deixou de ser habitada por fantasmas e as estações mudaram e então o sol chegou. Antes disso, com o velho ainda ali e o fantasma ainda ali, o sol não chegara.

      Já passara da meia noite e o velho começava a pegar no sono. Curioso sono. Não era o sono comum, que eu e você temos. Ele temia dormir. Por que ele temia dormir, você se pergunta? Saberá quando ele dormir e não demorará a acontecer.

      Lá fora não havia som. A neve caindo não faz som e os animais haviam se afastado, então não tinham como fazer som. Porém não foi por este silêncio que ele dormiu, foi pelo frio e pela solidão.

      – É isso! – exclamou ele, mal conseguindo manter os olhos abertos. – Acredito que desistiu de debater comigo. Então está decidido! Esta me ouvindo? Se não concorda, então é melhor dizer alguma coisa!

     Mas ninguém disse nada. Ele caiu no sono sobre a mesa. Ali ele sonhou seu último sonho e nunca mais sentiu frio ou solidão.


FIM.


A Cabana Na NeveOnde histórias criam vida. Descubra agora