capítulo 1

114 11 5
                                    

  Eu ia a sair de casa quando vi o envelope em cima da mesa de entrada. Estava à espera dele ao que parecia uma eternidade. Nem sabia quando tinha chegado mas também não interessava agora. Abri o mais depressa que pude e tirei rapidamente o papel de lá de dentro.

  O papel cor de marfim estava dactilografado cuidadosamente, com letras pequenas e bonitas. Como em todas as cartas anteriores esta também tinha o cheiro a frésias e alfazema. Cheia de entusiasmo comecei a ler:

    “ Querida Alice,

     Como estás? Bem, espero. Como já te tinha dito na minha anterior carta estava só à espera da resposta da minha mãe para saber se podia ficar contigo este verão, e ontem ela deu-ma. Prepara-te porque este verão não vais parar em casa! Ela concordou!

    Estou tão contente! Já faz anos desde que não te vejo! Estas férias vão  ser super estupendas! Mas eu não vou sozinha… Ainda não te tinha dito mas o meu irmão também vai e traz a namorada. Mas isso não será um problema, pois não? É que como a minha mãe também estava a pensar ir de férias não ia deixar o Harry sozinho em casa ou com a namorada então ele também vai. A       Eve vai porque não consegue aguentar 5 minutos afastada dele. Sinceramente não sei como é que ele ainda não se cansou dela... Ela está sempre pegada a ele que nem uma lesma! Não gosto nada dela!

    Mas bem, não te chateio mais com este assunto. Diz-me qualquer coisa se houver algum problema em levar mais duas pessoas. Se não, vejo-te daqui a 3 dias! Adoro-te Ali!

Beijinhos e abraços,

Louise”

  Quando acabei de ler a carta fiquei tão contente que quase esqueci-me que tinha que ir buscar a minha mãe ao trabalho. Apressei-me a ir buscar o capacete e fui para a garagem onde estava o meu tesouro. A minha vespa LX 150 i.e. preta. Era linda! Tinha-a recebido no dia anterior. Queria admirá-la mais uns minutos mas como estava mesmo atrasada não pude. Pus-me em cima dela e acelerei o mais que pude! Atravessei as ruas de Los Angeles à pressa e quando finalmente cheguei ao hospital parei e respirei fundo.

  Frances, a minha mãe, trabalhava como enfermeira no Pacific Hospital em Long Beach. Já lá trabalhava desde que nos tínhamos mudado, à cinco anos atrás. E lá estava ela à espera, com cara de poucos amigos. A minha mãe detestava que eu chegasse tarde, principalmente quando era para lhe ir buscar.

  Quando me viu, lançou-me o tipo olhar de desaprovação e subiu para cima da mota.

  - Como sempre chegaste tarde! - Disse-me ela.

  - Desculpa!

  A típica conversa entre nós as duas! Desde a morte do meu pai eu e a minha mãe praticamente não mantínhamos conversa. Não sabia bem o motivo mas as nossas conversas era essencialmente sobre a escola, as minhas irmãs e ir buscá-la ao hospital.

  Quando chegamos a casa a luz da sala já estava acesa o que significava que Carrie e Catherine já estavam em casa. As minhas irmãs não tinham nada a ver comigo, apesar de sermos as três gémeas. Elas eram muito parecidas à minha mãe. Cabelos castanhos, olhos castanhos e pele clara. Eu era muito parecida ao meu pai. Olhos verdes, cabelo louro e meia morena. Acho que esse foi um dos motivos pelo qual a relação afectuosa entre mim e a minha mãe ter acabado, principalmente depois da morte do meu pai. Eu sentia-me à parte, deslocada. Nunca me tinha integrado na família. As minhas irmãs eram muito certinhas. Faziam tudo o que a mãe lhes pedia e nunca faziam nenhuma maluqueira. Eu pelo contrário raramente me lembrava do que a minha mãe me pedia e maluqueiras era comigo! Quando entramos dentro de casa a primeira coisa que ouvimos foi o estrondo que veio da cozinha.

  - Que é que se passa aí dentro? - Perguntou a minha mãe.

  - A Kate está a tentar fazer o jantar! Daqui a pouco pega fogo à casa! – Disse Carrie entre gargalhadas

  - Queres que resolva o assunto? - Perguntei à minha mãe.

  - Sim, se fazes o favor. Tenho que ir tomar banho.

  A minha mãe dirigiu-se ao andar de cima e eu fui para a cozinha.

  Não sei como o alarme de incêndio não disparou com a fumaça que estava dentro da cozinha.

  - Pensas queimar a casa?

  - Não. Queria fazer uma surpresa à mãe mas isto não está a correr muito bem…

  - Pois, já percebi que não. Mas estavas a tentar fazer o quê? – Disse eu enquanto abria as janelas da cozinha para arejar.

  - Massa com atum. Mas a massa não cozia!

  - Fizeste como?

  - Deitei a massa, o sal e pus no fogão.

  - Mas deitaste água, certo?

  - Era preciso?

  - Claro. – Disse eu entre risos - querias que a massa cozesse como?

  - Sei lá! Nunca cozinhei, mas no livro de receitas estava lá para cozer a massa a vapor…

  - Acho que precisas de uns óculos!

  - Porque?

  - Porque está a dizer cozer os legumes a vapor, não a massa!

  Nesse momento Carrie já estava agarrada à barriga, e a chorar de tanto rir.

  - Não diz nada!

  - Diz sim! Teimosa! Mas agora não interessa. Afasta-te que é para ver se faço algo de jeito para comermos!

  Entretanto a mãe já tinha descido do banho e como já era tarde e estávamos todas cheias de fome não podia elaborar muito no jantar por isso fiz um arroz e fritei uns pedacinhos de frango. 

Não sei se alguém vai ler isto, mas se alguém ler, por favor votem e comentem :)

The broken girlWhere stories live. Discover now