Capítulo 3 - Maccaio Hotel e o tal de Mata-Rato

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Estavam finalmente em Oasis, a cidade a beira de uma grande rodovia. Era, literalmente, um pequeno oásis cercado de areia, planícies desertas e muitas, muitas estradas. E então, os escuros quilômetros desertos foram interrompidos por pequenos pontinhos luminosos que pouco a pouco se aproximaram. Eram placas, postes e letreiros de comércios, tudo a volta do asfalto, gritando por atenção. Uma grande metrópole rodoviária. Tudo, tudo mesmo, girava em torno dos veículos de passeio das famílias e ônibus de execução, lotados de turistas.

— Precisamos parar por aqui, estou exausta e morta de fome. — Jess declarou, olhando os prédios a volta a procura de algum hotel.

— Estou igual. — Gus respondeu, com uma mecha de cabelo entre os dedos, a cara de completo sono. — Onde vamos dormir, hein?

— Em qualquer lugar que me pareça vagabundo. O com mais cara de pulgueiro, é nesse mesmo que vamos ficar. — A garota falou, quase que em tom de ordem, mesmo que para Gus aquilo parecesse muito uma piada. — Tudo nessa porcaria são os olhos da cara. Já viu o preço de um salgado aqui? Papai uma vez... — E começou a contar a incrível história de seu pai.

Gus nem se importou muito, já  havia percebido que Jess se empolgava por qualquer coisa mínima. Ficou observando em volta, com a cabeça quase para fora da janela. Os grandes hotéis, parques aquáticos gigantescos e boates super luminosas, tudo passando diante de seu olhar encantado de criança grande. 

Até que, uma visão não muito glamourosa o trouxe de volta a realidade. 

— Ali me parece bem ruim. — Ele apontou, rindo, para um prédio de uns quatro andares, na faixada havia "Maccaio Hotel", escrito em grandes letras luminosas vermelhas — Quer dizer, seria, se não fosse pela falta da letra "i" que estava apagada. Haviam dois ou três carros estacionados na frente, uma Rural Willys, um Uno e um outro que Jess não conseguiu identificar na escuridão. Considerávelmente mais vazio do que os outros paradouros a sua volta.

Sem nem pensar duas vezes Jess estacionou o carro bem ali. Se fosse tão barato quanto lhe parecia vagabundo...

Saíram correndo de Amélia, quase cambaleando de cansaço nos pedregulhos do estacionamento improvisado. Quem os visse andando assim, pensaria logo que estavam podres de bebida.

Na fachada mal iluminada, da qual pendia apenas uma única lâmpada de um fio havia uma placa. "Seja bem-vindo! 10 Lizes a noite. Temos água quente". Dez Lizes era mais caro que dormir no relento, mesmo assim, melhor que nada.

Logo na entrada da espelunc... Quer dizer, do estabelecimento, havia um balcão de madeira todo gasto, e atrás dele uma mulher ruiva e uma prateleira de bebidas. Três acentos no total estavam ocupados. Dois por um casal em estado deplorável, completamente bêbados, decerto haviam bebido o dia todo; o outro banco, ocupado por um homem de meia idade, tragando o cigarro sob o teto do local.

Seguiram os dois até o canto do balcão. A atendente os fitou de cima a baixo, apoiada sobre as mãos, enquanto cada mecha dos cabelos tingidos lhe caía no rosto. Os demais apenas os seguiram com os olhos.

— Boa noite. — Ela disse, com voz entediada e um carisma forçado. Os lábios pintados de um rosa espalhafatoso se curvaram em um sorriso a la cortesia da casa.

— Oi. — Jess disse secamente, se apoiando no balcão depois de quase cair de cansaço. — Aqui... É um hotel, certo? — Ela olhou em volta, apertando bem os olhos, por causa da lâmpada amarelada que a cegava. Aquilo tudo parecia mais uma grande boate de quinta a um hotel ou qualquer lugar com ao menos uma cama decente.

— Sim, senhora. Quantos quartos?

Jess chegou a pensar se aquele pulgueiro tinha mais de um quarto, para ao menos o oferecerem. Talvez uns três que não tivessem sido atingidos pelas terríveis infiltrações que cobriam as paredes.

AméliaOnde histórias criam vida. Descubra agora