Vinte e Seis

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Violet se obrigou a levantar a cabeça e encarar o demônio em seus olhos vermelhos de novo. Mesmo que isso lhe custasse mais do que ela podia suportar. Ela sentia seu corpo vibrar pelo terror e pelo ódio de Dierdre Montgomery, por todas as coisas horríveis que fizera, e que ainda era capaz de fazer. Queria que aquilo acabasse logo. Mas pelo jeito, era apenas o início.

Os olhos de Dierdre brilhavam vermelhos como antes, mas a razão pela qual Violet sentia-se tão amedrontada era o corpo que estava usando naquele momento. Bryce.

— Como fez isso? — Violet perguntou, a pergunta saindo de seus lábios impulsivamente.

Não fazia o menor sentido. As palavras de Norah ainda ecoavam em sua mente: Todo aquele que possui sangue mágico, está sujeito a uma possível possessão demoníaca. Bryce não tinha sangue mágico... tinha?

— Violet, Violet, já tivemos essa conversa antes, agora pouco na verdade. Privilégios de demônio! — Dierdre caçoou.

Violet não podia acreditar. Estava diante do seu maior medo. Quando era pequena, sempre que sonhava que algo ruim acontecia com aqueles a quem amava, acordava coberta de suor e descobria-se incapaz de cair no sono novamente por pelo menos duas noites seguidas. E agora, ali estava ela, encarando seu próprio pesadelo. Dierdre Montgomery colocara a vida de Bryce, seu melhor amigo, em risco. Possuíra seu corpo como havia feito com Nerissa. E Violet estremecia só de imaginar que Bryce terminaria como a pobre irmã. Ela não suportaria lidar com aquilo duas vezes em uma só noite.

— Oh! — Dierdre levou a mão à boca, em um gesto de surpresa. — Já entendi! Você está com medo por causa desse corpo, é isso? — ela soltou outra gargalhada, sua voz se mesclando à de Bryce. — Bem, eu estava imaginando como iria matar o seu amiguinho, mas estou gostando bastante dessa ideia. Ele vai assistir sua morte, e você, de certo modo, vai assistir a dele. Eu não podia ter pedido melhor!

— Por que está fazendo isso com Bryce? — Violet questionou, lágrimas de dor e raiva escorrendo por suas bochechas.

— Eu já ia matar você, por que não matar mais um? Temos que aproveitar as oportunidades quando elas aparecem, não é mesmo? — Dierdre aproximava-se vagarosamente dela. — Bem, esse corpo não é nem de longe tão bom quanto o da sua irmã, mas vai servir. Aquela tola ousou se voltar contra mim. Não me surpreende, sendo filha da sua mãe.

— Não se esqueça que todas nós temos o seu sangue, demônio — provocou Violet, sua voz pingando de ira.

Dierdre dirigiu-lhe um olhar mortal.

— Não, não, não. O único sangue a perpetuar na descendência foi o daquela prostituta que meu pobre Jonathan engravidou. Ela o seduziu, e ele, pobre criança, caiu nas garras dela. O sangue dela foi mais forte e se alastrou por aquela que deveria ser a minha árvore genealógica impecável. Fui ingênua ao imaginar que poderia ser diferente. — ela suspirou dramaticamente. — Mas vamos falar de assuntos mais alegres! Como por exemplo: a ironia de possuir o corpo de seu amigo. Você não sabe quem ele é, verdade? — Dierdre riu com gosto. — Oh, mas ele é descendente das abelhudas McKenzie. Por décadas elas vêm ajudando o amaldiçoado. Ou ao menos tentando ajudar. Eu fui mais esperta do que elas, é claro. Consegui evitar o êxito dessas impertinentezinhas. Isso é, até você.

Violet não estava entendendo muita coisa. Bryce não poderia ser descendente das feiticeiras que ajudaram Leon. Quem a tinha encontrado para ele fora Norah. E se Bryce tinha sangue mágico, Emily também.

A compreensão perpassou pelos traços tensionados do rosto de Violet. Colocou a mão delicadamente sobre o pingente de pentagrama para se certificar que ele estava lá.

Supplicium [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora