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         "There is a swelling storm and I'm caught 

up in the middle of it all."

Dean Lewis – Waves


– Luke – 


  Porquê sentir? Porquê perdermo-nos no meio de um tornado de sentimentos bruscos e intensos, incapazes de desaparecer na totalidade. Sempre presentes na nossa vida, prontos para nos relembrar de memórias já antes deixadas numa parte intocável da nossa mente. Ou assim achamos.

  Achamos que somos suficientemente fortes. Por vezes somos, por vezes não. Deixamo-nos levar pela sensação de cair, sem braços de um alguém para nos agarrar e travar a queda que nos fará quebrar. Quebrar, talvez, para sempre.

  E agora eu estava a cair. Sem destino, perdido no tempo. Perdido na sensação da queda infinita, enquanto os segundos passavam de forma dolorosa. Sentia tudo isto como ondas de água salgada a embaterem no meu corpo. Vinha e ia em ondas. É sempre assim.

  Respirei fundo. Confuso, magoado, esgotado. Não sabia bem como definir todas as sensações que me percorriam o corpo num só rebuliço de sentimentos. A mágoa, sem dúvida, encontrava-se na dominância. Proibido por mim mesmo de deitar uma única lágrima, continuei a conduzir sem realmente conhecer o meu destino. Deixara-me levar já há alguns minutos atrás pelo meu lado impulsivo e desleixado.

  Optei por estacionar o carro ao visualizar as famosas luzes néon vermelhas que nomeavam o clube de prestigiada reputação, localizado no centro de Tromsø. Saí do veículo negro e tranquei o mesmo, caminhando calmamente até à porta e entrando pela mesmo momentos depois.

  De cabeça erguida e postura relaxada, fui consumido pela rítmica batida profunda e sensual enquanto me perdia pela densa multidão de corpos descontraídos que se moviam consoante a música. Chegando ao bar, pedi uma aleatória bebida forte, enquanto mirava algumas pessoas mais próximas da zona onde me encontrava. Soltei um suspiro ao sentir uma forte dor no osso da minha cintura. Levantei ligeiramente a camisola de fino tecido vermelho escuro que me cobria o tronco, analisando o hematoma de largas dimensões e aspeto horrendo sempre que as luzes néon do clube embatiam contra a minha pálida pele. Revirei ligeiramente os olhos, desviando de imediato o olhar, apenas para focá-lo no rosto de uma morena de feições bonitas.

  Reparei que esta já me mirava há algum tempo. Aproximei-me desta calmamente, formando um sorriso ao travar os meus passos em sua frente. A rapariga de aparência pouco mais velha, talvez entre os seus dezanove e vinte anos, caminhou até mim também, pousando uma mão no meu ombro ao murmurar algumas palavras ao meu ouvido.

  Impaciente pela sensação de uma boa distração do todo que assolava cada recanto da minha mente, deixei-me levar pela morena. Puxei levemente, o seu corpo contra o meu, beijando calmamente o seu pescoço. Continuámos a dançar ritmicamente, trocando por vezes alguns toques mais íntimos.


  – Vamos sair daqui – proferiu, entrelaçando os seus dedos com os meus. Segui-a, não conhecendo minimamente o meu destino, apenas a vontade de me abstrair de tudo, nem que somente por uma noite.


-/-/-


  Pestanejei repetidamente, confuso com o que encontrava perante mim. Lençóis brancos ligeiramente marcados por batom vermelho escuro, cabelos castanhos escuros, pele morena, rosto sereno e um pescoço preenchido por grandes marcas avermelhas e roxas.

Gelid // lrhDonde viven las historias. Descúbrelo ahora