Capítulo 33

122 14 4
                                    

Existe um ditado muito conhecido que usamos quando estamos diante de duas situações que não são nada boas. Nele diz que estamos entre a cruz e a espada, e nunca um dito popular definiu em palavras tão bem a situação em que me encontrava. O pastor me olhava com atenção, enquanto uma guerra dentro de mim era travada, de um lado fazer o que achava certo e do outro confessar para uma pessoa que conhecia absolutamente bem, meus erros.

Não que eu estava sendo pressionada a nada, mas havia aprendido uma palavra: Temor. E desde que a conhece, aprendi sua total importância. Não tinha medo das consequências dos meus erros, o pastor sempre me ensinou sobre isso, e aprendi com ele a diferença de medo e temor. Medo um servo tem de seu senhor cruel e injusto. Temor um filho tem de como o pai vai reagir quando perceber que fez algo errado, mas de todo modo, vai agir com justiça e te corrigir.

Sim, eu tinha temor a Deus. Fiquei triste por tê-lo magoado, depois de tantos avisos. Mas reconheço que sou humana e estou sujeita a todo o momento a errar. Acredito também que Deus já me perdoou. Porem o fruto do meu pecado, bom, disso eu não posso fugir. E estava tudo certo, pois o pastor era como um pai pra mim. Sabia tudo sobre minha vida, e sobre o que pensava. Com ele eu conseguia me abrir totalmente, assim como havia feito outras vezes. A questão era que ele não estava sozinho desta vez. E a pessoa que o acompanhava, não era nem de perto, alguém que me agradava em presença.

Caso eu não contasse a verdade, estaria mentindo pro pastor. Se não contasse nada, ele me colocaria pra tocar no sábado, mas meu temor ao Senhor não me deixaria subir no altar. Se eu contasse, Leandro saberia que eu dormir com um cara, revelando uma Andressa que ele desconhecia.

— Pode começar Dessa — ele olhou com um sorriso para Leandro, que me encarava com um caderno e caneta nas mãos — Não precisa se restringir a presença do Leandro, pois acredito que já se conheceram e sabe que ele será o nome líder.

Confirmei com cabeça e apertei minhas mãos nos meus joelhos. Estava nervosa, mas sabia o que fazer.

— Estou ciente pastor! — senti meu coração acelerar. Olhei para a porta e uma vontade enorme de sair correndo me invadiu.

Eu não vou

— Eu preciso confessar uma coisa que fiz, pastor. Algo ruim e que estou muito arrependida. — pensei melhor — Na verdade são duas coisas.

— Pode dizer, sabe como funciona. — soou calmo.

Assenti.

— Antes de qualquer coisa quero dizer que ele não tem culpa, fui eu que fiz e eu me responsabilizo pelo erro da minha ação. — ele balançou a cabeça confirmando. Olhei para Leandro que não expressava nenhuma reação e continuei — Eu beijei o André. Fui algo precipitado, como uma forma de defesa minha, mas eu o beijei. E me arrependo do que fiz.

— Entendo.— Seu tom não mudou, ele assentiu com a cabeça e continuou me encarando do outro lado da mesa. Seus braços estavam apoiados sobre ela e notei que ele continuava tranquilo. Como sempre. — Continue, e qual a outra coisa.

Respirei fundo e dessa vez evitei olhar para Leandro. Minhas mãos formigaram e meus joelhos começaram a balançar em ritmo acelerado.

— Pastor eu me sinto suja e imunda por isso. Eu orei ao Senhor e sei que Ele me perdoou, porque eu me arrependo mais do que tudo pelo que fiz. O por temor a Ele e com respeito ao senhor e a este ministério, me sinto incomodada e morrerei de aflição se não contar. — abaixei a cabeça envergonhada — Eu passei a noite com um rapaz e tive relações com ele.

Confessar aquilo doeu em mim, mais do que qualquer outra coisa que já havia feito. As outras coisas tinham acontecido comigo fora da igreja, mas não. Eu era uma levita. Frequentava a tempo suficiente para saber que era errado. A Andressa de seis meses atrás não se abriria assim para um cara de uma religião qualquer. Nem para seu ex, que não tinha mais nada haver com sua. Não de uma forma culpada, mas para se gabar. Ali, naquele momento, não tinha orgulho do que fiz, tinha vergonha. Porém havia feito o que era certo, mesmo cogitando a possibilidade de sair correndo e nunca mais voltar.

Palavras ✔Where stories live. Discover now