Libélula

Ato #7

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ATO #7 | O LIMITE ENTRE CULPA E INOCÊNCIA

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Tribunal do Conselho de Segurança Mundial no Brasil
Ano 2090
Oliver Hollkz
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Seis meses se passaram desde o confronto com a Libélula aconteceu e a humanidade venceu. Será que venceu mesmo? Eu me perguntava diante do calor que aquele tribunal ia ficando.

Um público de aproximadamente cem pessoas assistia as decisões enquanto o restante do mundo acompanhava ao vivo todo o procedimento.

Eu ganhei uma oportunidade de trabalhar no México, um país que eu sempre gostei. Meus conhecimentos sobre armas me ajudaram com isso.

Ernesto se aposentou de vez, não queria saber de qualquer coisa relacionado a robótica e eu até entendo sua decisão. Deve ter sido muito difícil ver o que aconteceu com o mundo e a duas pessoas queridas que ele sempre teve contato.

Tenente Skellys foi promovido, virou uma referência a muitos soldados. Sua dedução sobre a culpada de tudo foi de grande valia e ele estava envolvido em encontrar sua antiga assistente Linda.

Linda, bem, essa ninguém mais viu ou ouviu falar. Nós sabíamos que ela estava viva e que mais cedo ou mais tarde poderia tentar alguma coisa, então, ela passou a ser a mais procurada do mundo.

Doutora Belmonte quis se aposentar tão jovem, mas foi chamada para permanecer no México. Ela negou a princípio, mas a queriam, então fizeram um acordo. Ela trabalharia com eles, mas para isso teriam que dar fim a todo o projeto ou qualquer arquivo remanescente da fonte de energia nuclear dos FM. Outra exigência dela foi a destruição da fonte da Libélula, mas isso ainda seria votado no tribunal.

Gabriel Agnum, o herói da humanidade, ou "Herói do Novo Mundo" como foi apelidado pelas pessoas, morreu no espaço. Ele retirou a armadura e a fonte de radiação da terra para salvar tanto o planeta quanto a mulher que ele amava.

Nosso último registro dele se perdeu em uma enorme esfera branca no céu.

Por falar em mulher que ele amava, conseguimos descobrir que segundos antes dele morrer na explosão, ele recebeu um contato direto feito pela Libélula, mas estranhamente a jovem Suey estava desacordada e não poderia ter sido ela. Tudo indicava que nossa responsável assistia tudo pelos olhos da Libélula e deu esse presente a ele.

Suey Venture, a Libélula, foi resgatada minutos depois da explosão. A fonte de energia dela estava intacta e não chegou a sair da estabilidade, então foi possível recuperá-la e também salvar a garota.

Ela estava um pouco abatida, estava sem água e alimentação por quase cinco dias, mas ao interná-la, conseguiu se recuperar. Infelizmente, mesmo sendo salva, as sequelas não puderam serem evitadas. Como Ernesto explicou para gente, Gabriel sincronizou 5% do cérebro com a armadura e quando foi desconectado, nosso sistema tinha detectado uma lesão no hipotálamo, mas não tinha como saber o quão grave isso poderia ser. A melhor resposta veio do doutor Ernesto, com o hipotálamo lesionado, ele não sentiu medo da morte. Já no caso de Suey, a sincronia dela era mais de 50% e isso implicaria em lesões bem mais agressivas.

Algumas coisas que aconteceram a ela foram: Esquecimento, dores de cabeça forte, ela deixou de falar, hemorragias, paralisação parcial de algumas partes do corpo, alucinação, perda sensorial, dificuldade de movimentação de membros. Ainda podiam existir mais coisas, mas ela ainda estava sendo estudada a fundo.

Suey voltou para a família que hoje estava no tribunal decidindo sobre o futuro da filha.

— Ordem no tribunal! — O juiz martelou pedindo silêncio.

Patrícia Ellen Belmonte estava só o ódio e não conseguia esconder sua indignação com o que estava acontecendo. O tribunal queria culpar Suey por todas as mortes e prejuízos causados no mundo.

— Vocês querem mesmo colocar a culpa em uma garota que nem sabe o que está fazendo aqui? Já leram os relatórios médicos dela? Têm ideia de como ela se sente? Vocês sabem que não era ela, não foi uma decisão dela. Vocês querem achar um culpado para simplesmente aliviar o peso da culpa de todos nós. Nós, nós erramos como humanos e chegou a esse ponto, se tiver que punir, puna o responsável pelas armas, puna os governos, se puna, me puna, mas não façam isso com uma garota inocente.

— Senhorita Belmonte, controle-se. — o juiz pediu.

— Eu estou controlada, vocês é que não estão. Se precisam tanto mostrar a sociedade que tudo foi resolvido, detonem a fonte da Libélula que vocês esconderam e acabem com essa ameaça, ajude os sobreviventes, reconstrua o mundo, faça justiça por quem precisa e não por vocês.

— Senhorita...

Alguém se aproximou dela e a tocou nos braços.

— Tire suas mãos de mim! — ela se afastou — É por decisões idiotas como esta que nós ficamos vulneráveis a esse incidente. Por isso me arrependo de ter trabalhado para desligar a Libélula quando deveria ter deixado que ela destruísse tudo e eliminasse o mundo desse ser desprezível e egoísta que nós somos.

O tribunal ficou em silêncio. Belmonte respirava ofegante e todos a olhavam perplexos. Ela se virou e deixou o tribunal irritada e em lágrimas.

O mundo queria que tudo se resolvesse, os nossos representantes queriam punir Suey por ser a Libélula e dar ao mundo uma solução. Foram praticamente quatro dias de análises, leitura e apresentação de provas de inocência e culpa.

Até Thea — ou Linda — enviou um recado ao mundo assumindo a culpa em prol de proteger Suey e preservar sua inocência.

Não foi suficiente. Por mais que as pessoas envolvidas diretamente entendessem o caso e maioria fosse a favor de inocentá-la, o mundo não entendia. Suey foi considerada culpada para satisfazer o ego dos homens.

Felizmente eu posso dizer que a prisão dela era em casa e assistida pelos governos, então ela tinha todo apoio que precisava, mas sua vida nunca mais foi a mesma.

Quanto a humanidade, não sei dizer se ela reaprendeu, mas por saber que a fonte de energia da Libélula nunca foi detonada, eu podia dizer que não, e que outro incidente como aquele era apenas questão de tempo.

Queria estar errado.

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F I M

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