"Não posso fazer da minha dor algo bonito. Não posso tornar minha raiva suave."
obs: este capítulo foi atualizado. caso você não note diferença, ou caso as imagens não identifiquem o capítulo sob o título de "khamstvo", retire o livro da biblioteca e adicione novamente. qualquer dúvida, só chamar ♥
A visão do Volga congelado era uma perfeita armadilha. Nos meses mais cálidos, o rio mantinha seu curso através da Rússia, afogando turistas vez ou outra. Mas era no inverno que a verdadeira magia acontecia.
O ritual era, na verdade, uma prática adquirida dos velhos crentes - fanáticos religiosos que adoravam ao sol como se a estrela dourada estivesse atenta às suas súplicas. Os católicos costumavam chamá-los de pagãos. Russos tinham histórico de surrá-los e debochar de suas crenças.
Ainda assim, quando as águas do Volga se tornavam sólidas, pessoas de todas as partes deixavam suas casas, envoltos em pesados casacos e cachecóis sufocantes. Eles caminhavam sobre o gelo firme por horas a fio, como se a resposta para suas preces estivesse escondida na neve. Exceto que nenhum Deus jamais os ouvia.
Aquela não era uma passagem bonita. Não quando os corpos despejados ali durante o verão espreitavam debaixo dos pés, como um tapete de membros inertes. Diferente de sua mãe, Atka Dahlen não compreendia o encanto por detrás do ritual. Muitas vezes abandonara corpos às margens do rio e não estava ansiosa para revê-los.
Entretanto, aquela era uma memória antiga, feita para ser revisitada quando ela possuísse bebidas e morfina à disposição, quando suas cicatrizes já não doessem tanto assim. Com um suspiro exausto surgindo entre os lábios, ela dispôs um casaco sobre as roupas de dormir e desceu as escadas em espiral, contando cada degrau religiosamente.
Cinquenta e três, quatro, cinco... Sessenta e dois, seis, sete. Setenta e um.
A arquitetura da severnaya korona um dia já fora impressionante. Pinturas a óleo cobriam as paredes opulentas e pilastres de mármore adornavam imensos salões. Todas as festas da alta sociedade de Moscou não eram nada em comparação aos bailes que tinham a mansão dos Dahlen como palco.
YOU ARE READING
Ultravioleta
Mystery / ThrillerPodia-se sentir o cheiro da violência ali. Tão doce que chegava a sufocar. Tão amargo que, ao ser provado, traria lágrimas aos seus olhos. O cheiro da violência permeava as chamas do incêndio e a correnteza daquele rio. A Rússia era um país violento...