Chapter 1

8 0 0
                                    

Eu finalmente completei dezesseis anos, completei a idade em que eu deveria deixar tudo para trás. Abri meus olhos e permaneci na cama, me escondendo entre as cobertas, com medo de viver aquele dia. Depois de alguns minutos, finalmente tomei coragem para me levantar da cama.

Andei até a cozinha com as pernas tremulas, envolvendo em meus braços Brown, meu urso de pelúcia que estava presente em minha vida desde pequena. Holly já estava acordada, preparando o café com a toalha de mesa em seu colo.

- Merda! - a roda direita de sua cadeira de rodas emperrou no chão de madeira. 

- Eu te ajudo com isso - me apressei em sua direção, porém ela me parou com o braço rapidamente - Holly, você sabe que não pode fazer tudo sozinha, deixe-me te ajudar. 

- Eu posso. Além de poder, terei de fazer sozinha a partir do momento que você partir. Você sabe disso. - fez uma cara séria e olhou para baixo. 

Eu estava tentando ser gentil, mas o humor de Holly nunca esteve pior. É horrível saber que vou ter que deixar minha irmã sozinha em uma cadeira de rodas. O governo realmente não tem jeito. Eles tem dinheiro suficiente espalhados pelos bancos do estado para pagar uma prótese, mas são egoístas suficiente para não tirar um centavo do bolso. Outra opção seria me poupar da guerra, o que acho muito difícil de acontecer, já fizeram demais em poupar a vida da minha irmã.

Geralmente quando um cidadão apresenta algum tipo de deficiência, sua vida é tirada, pois é considerado inútil. Afinal, o que alguém que é considerado inferior aos outros pode fazer em uma guerra além de atrapalhar e sofrer opressão? Esse é o pensamento deles. Mas eu discordo. Até mesmo Holly concorda com isso, mas eu sei da capacidade que ela tem. Força não é tudo. Se não houvessem pessoas inteligentes e de bom caráter, o mundo estaria perdido. 

- Onze e quinze, faltam cinco minutos - Holly avisou-me, o que me fez tremer. 

Corri para o meu quarto e guardei uma muda de roupas, uma bota velha e Brown em uma pequena mochila que costumava ser da minha mãe. Olhei pela janela e os soldados estavam se aproximando, estavam cada vez mais perto. Ouvir o barulho de suas botas pesadas e suas armas batendo no chão fez meus olhos se encherem de lágrimas. Corri para os braços de minha irmã.

- Eu prometo que vou voltar e vou cuidar de você assim como você cuidou de mim - abracei-a - Prometo que vou ser forte, assim como você espera que eu seja. 

Sempre fui muito sensível e sempre me senti incapaz de fazer qualquer coisa que envolvesse força ou coragem. Mas eu tinha que lutar agora. Eu tinha que lutar contra tudo aquilo que todos acreditavam. Era meu dever abrir a mente e a visão do povo, estavam todos cegados pela falta de esperança. 

Pontualmente, as onze e vinte, os soldados de Hint bateram na porta. Seu líder, sem esperar alguém atender, entrou e tirou uma carta de seu bolso esquerdo.

- A todos aqueles cidadãos que atingirem os dezesseis anos de idade, a idade crucial do castelo de Crystal City, deverão se juntar ao exército supremo e servir a ordem ao Lorde Hint. Qualquer tipo de negação deverá ser punida, assim como qualquer desobediência das regras. Viemos aqui hoje para buscar Ahriane, filha de... - ele deu uma pausa - Sem pais registrados no sistema. - o soldado abaixou o pergaminho, me olhou de cima a baixo e voltou seus olhos para Holly - Parece que temos uma falha aqui.

- Ela não é uma falha. - falei com a voz firme.

- Hint vai decidir isso - um grupo de cinco soldados agarrou Holly e a arrastou para fora - Você, vem conosco. 

Eu podia sentir as lágrimas queimarem minha bochecha enquanto um grupo de soldados me segurava pelos braços, com tanta força que chegava a deixa-los roxos. Eu estava presenciando o momento em que minha única família estava sendo levada para longe de mim, para dentro do castelo, onde provavelmente seria executada.

As coisas não podiam piorar. Quanto mais eu lutava, mais forte meu braço era apertado. Quanto mais eu os irritava, mais olhares de fúria eram lançados sobre mim. 

- Me deixem ir! Me deixem ir! - eu gritava, soluçando - Me larguem! - um dos soldados deixou meus pertences caírem dentro de um dos esgotos que cercavam a cidade, o que me fez delirar ainda mais - Olha o que vocês fizeram! Seus idiotas!

- Escuta aqui garota, você quer calar a boca? - fui jogada contra uma parede de concreto, com meus braços cobertos de hematomas. A dor foi insuportável, mas consegui me levantar - Você acha que pode levantar a voz contra membros do congresso? Parece que falharam com a sua educação. É isso que acontece quando uma falha não é executada. 

Minha respiração estava pesada e um sentimento de raiva tomou conta de mim. O mesmo que estava falando comigo, começou a dar passos em minha direção, lentamente. Parou após chegar o mais perto de mim que conseguiu, e tirou um canivete do bolso. O artefato foi pressionado contra o meu pescoço, o que me fez gemer enquanto o sangue escorria. 

Minha visão ficava turva quanto mais fundo o canivete entrava em minha pele. 

- Já chega! - um dos soldados arrancou as vestimentas militares e tirou uma espada de aço de dentro da roupa, fazendo-a atravessar as costas de quem estava me ferindo - Venha comigo - segurou minha mão e correu para longe, cada vez mais rápido. 

Tudo estava ficando embaçado, minhas pernas não conseguiam acompanhar os passos rápidos do homem mascarado e comecei a sentir meu corpo pesar cada vez mais. Tudo ficou preto.

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: May 22, 2017 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

A Outra EraWhere stories live. Discover now