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Luana
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Caleb corria rápido demais para que eu pudesse alcança-lo. Mas eu precisava entender o que estava acontecendo com ele. Eu tinha a impressão de que ele estava guardando algo, um segredo. Um segredo pesado demais para uma pessoa carregar sozinha.

Eu o vi atravessar o campus da escola. Saltou o muro com tamanha destreza e, atravessando a rodovia de trânsito parado, sumiu por entre as árvores do outro lado da pista. Com certeza estava assustado, sobretudo tinha quebrado dezenas de regras da escola, regras que incluíam não fugir do campus e não arrancar a pele de outros alunos, como ele tinha feito com Marcos. Apenas por um milagre Caleb não seria expulso do colégio.

Marcos..., eu lembrei. Não tinha me preocupado em saber se ele estava bem. Quando foi que Caleb tornou-se mais importante do que meu melhor amigo? Quando foi que ele havia se tornado minha prioridade? Minha responsabilidade? Eu me questionava, sem saber ao certo se eu deveria me sentir culpada.

Eu precisava saber como Marcos estava, como o garoto chamado Gabriel estava...
Enfim, as coisas eram como imaginei a respeito de Caleb: desastres o acompanhavam.

Mas eu também precisava encontra-lo; precisava questionar sobre o brilho azul extremamente frio de seus olhos. Algo que surgiu em um momento que não pude reconhece-lo... Era quase como se Caleb fosse uma outra pessoa, ou... Uma outra coisa.

Quando entrei novamente na escola, um alvoroço de alunos e professores havia se formado.
A maioria indagava-se sobre o que tinha acontecido. E alguns iam adiante e solicitavam a expulsão do aluno novo.

- Mas aonde está ele? - perguntou o diretor, impaciente.

- Ele fugiu! - respondeu alguém que eu não conhecia.

- Tudo bem, podem contar que eu tomarei a medidas necessárias para que outro episódio, como esse, não volte a se repetir - o diretor dizia, com o semblante calculista. - Quanto a vocês, estão dispensados!

E assim terminou o, promissor, primeiro dia de aula...

***

Eu liguei para Leticia quando cheguei em casa, e a conversa foi como o esperado:

- Então, o que aconteceu com Marcos? E o outro garoto... Gabriel?

Uma pausa grande demais.

- Marcos foi levado para o hospital, vai ficar bem. Quanto ao outro garoto, ele só desmaiou, logo foi mandado para casa com um saco de gelo na cabeça. Mas não entendi o motivo da pergunta, já que você parece se importar mais com seu novo amigo, não é? - respondeu. Seu tom era desgostoso, mas havia também decepção.

- Não é verdade! - eu me defendi. - É só que... Leticia, é complicado.

- Não me diga.

- É sério.

- Porque você não me disse que o conhecia? - perguntou ela, curiosa.

Em Algum Lugar da Floresta Onde histórias criam vida. Descubra agora