Capítulo 1

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O barulho dos sapatos batendo no chão ecoavam pela sala. Dulce Maria nunca soube falar ao telefone parada, sempre precisava estar em movimento e quando estava nervosa era ainda pior. Provável que trincasse o chão com os passos fortes que dava. A vida era injusta com Dulce, pelo menos era isso que ela pensava.

Não tinha o emprego dos sonhos e ainda era obrigada a aguentar um namorado que mais viajava do que estava ao seu lado. Dulce bem sabia que Tony estava a traindo, mas não iria terminar com ele por telefone, até porque não daria para jogar um vaso na cabeça dele por telefone.

—  Você não me engana ouviu Tony? Eu não sou idiota apesar de você tentar me fazer. —rosnou ao telefone e voltou a andar em círculos. — De última hora? Você acha mesmo que eu sou otária não é?

Era possível ouvir os passos de seus sapatos do corredor, ela odiava aquele barulho e não entendia porque havia uma norma de conduta onde era obrigada a usar sapatos de salto. Estaria muito mais confortável e até um pouco mais feliz se pudesse usar ao menos uma sapatilha.

—  Você tem muita sorte por não estar aqui ou então já estaria voando pela janela. Faça uma boa viagem, aproveite bastante porque quando você voltar eu vou acabar com a sua vida! — gritou — estou pouco me lixando se é uma viagem de trabalho!

Desligou o telefone e respirou fundo, se não acalmar terá um infarto. Jogou o celular em cima da mesa, e como o universo não conspira a favor de Dulce Maria o aparelho quicou e caiu no chão.

—  Mas que inferno! — Praguejou enquanto se abaixava para buscar o celular.

—  Dia ruim? — Alguém perguntou da porta.

Nada que não pudesse piorar. Christopher Uckermann era a pessoa que Dulce Maria menos queria ver. Ele não sabia ser gentil e parecia um chefe chato e mandão, sempre cobrando alguma coisa, e o melhor, ele era mais neto de seu avô do que ela.

Christopher era o braço direito daquela empresa, sabia de tudo. Um homem estudado, inteligente e sempre atrás de coisas novas. Ele e Henrique viajavam muito a trabalho, sempre buscando coisas novas a empresa de cosméticos.

Dulce foi com eles algumas vezes e passou a maior parte do tempo reclamando, tirando fotos e comprando. Era totalmente inútil para o tipo de passeio que eles gostariam de fazer. Ela era totalmente inútil para a empresa, e Christopher sabia muito bem disso.

—  Piorou bem mais depois que você entrou. O que quer? — perguntou ríspida.

—  Um pouco mais de educação da sua parte e também os relatórios. Você já fez? Sabe que vamos usar na reunião de amanhã não é? Espero que não tenha confundido os com uma série de TV de novo.

Realmente ela era a pior funcionária. Na última vez que fez um relatório tentou copiar alguma coisa da internet sem ler muito e acabou copiando a sinopse de um seriado ao invés de falar sobre o produto.

Não via muita graça nos negócios, por ela estaria fazendo outra coisa como Estilística de Bonecas. Dulce tem uma coleção enorme de bonecas em seu quarto e adora desenhar alguma coisa pensando nelas. Desenhos e bonecas são muito mais legais que negócios e empresas.

—  Ainda não fiz Christopher, estava muito ocupada te ajudando.

—  Me ajudando em que?

—  A arranjar um boy, quando você liberar, todo seu mal humor ira melhorar muito. Isso é falta de sexo! —  explicou simplesmente.

—  O que? — os olhos de Christopher pareciam saltar das órbitas, ela não estava falando sério. — Quantas vezes terei que dizer que não sou gay? É você que anda espalhando esses boatos por aí. Ah você ainda vai se ver comigo Dulce Maria.

—  O que eu posso fazer se você é passivo? Mandei fotos suas para um amigo e ele super adorou, gosta de homens submissos. —  Gargalhou alto não acreditando nas barbaridades que podia falar.

Christopher ficou vermelho como um pimentão. Detestava Dulce, por ele ela estaria bem longe fazendo coisas de menina mimada como era. Sabia que ela sentia muito ciúmes de sua relação com o avô, mas o que poderia fazer se Henrique preferiria qualquer um a Dulce?

— Eu vou falar só uma vez! — Perdendo a paciência ele a segurou pelos braços e imprensou contra a mesa. — NÃO GOSTO DE HOMEM, me ouviu? Gosto de peito, bunda, de vagina Dulce. Você ta me ouvindo? Eu gosto de meter, de enfiar naquele buraquinho ok? O meu negócio é boceta!!

Quase gritava ao falar com ela, como um leão raivoso. Odiava quando Dulce inventava mentiras sobre ele, e essa não era a primeira. Em outra ocasião, ela contou a todos da empresa que Christopher broxou com uma de seus amigas, o que era total mentira já que se mantinha o mais longe possível delas. Em outro momento inventou para uma das funcionárias que ele era noivo e estava traindo a mulher, a funcionária que era uma das conquistas de Christopher ficou tão furiosa que bateu nele em frente a todos na recepção.

Dulce segurou para não rir, apenas assentia olhando para quem estava atrás dos dois, este era o momento que Christopher morreria de vergonha e ela morreria de rir.

—  Que assunto interessante.

Quando ouviu a voz, Christopher virou bruscamente ficando de frente para a pessoa, suas bochechas começaram a esquentar na hora e já se via sendo mandado embora por desrespeitar a neta de Henrique.

— Se-se-senhor H-Henrique, não é o que o se-senhor está pensando. A-a sua ne-neta é louca! — gaguejou sentindo a ar lhe faltar, estava falando obscenidades a Dulce na frente do avô dela.

— Eu? É você que está falando bobeiras. — Deu de ombros e sorriu para o avô.

—  Com tanto que não queira fazer com Dulcinha já está de bom tamanho.

—  Jamais faria algo assim com a Dulce. — Disse com desdém. Dulce bufou e revirou os olhos, ele não tinha o direito de despreza-lá, não que ela quisesse algo com ele.

—  Nem se você pedisse de joelhos eu transaria com você.

—  Até porque você não faz essas coisas não é meu anjo? —  Apertou as bochechas da neta. Christopher quase engasgo tentando segurar o riso enquanto Dulce o fuzilava com o olhar. — Que tal irmos almoçar nós três?

—  Nem ferrando. Não vou ouvir vocês falando dessa empresa fora dela também. Vou almoçar com a Marcelli.

Pegou sua bolsa no canto da sala e saiu apressada deixando os dois sozinhos. Definitivamente Dulce não gostava da empresa e Henrique percebia isso a cada dia. Falar sobre ela lhe dava prazer, amava a empresa que construiu com muito suor e infelizmente não pode passar para sua filha.

A mãe de Dulce morreu quando ela tinha apenas cinco anos, foi uma perda terrível e Dulce sofreu muito apesar de ser tão nova. Não sabia quem era seu pai, mas tinha certeza que a família não queria que descobrisse já que seu avô nunca lhe contou o que realmente aconteceu entre ele e sua mãe. Henrique seguiu administrando os negócios sozinhos e gostaria muito de deixar para sua única herdeira.

Mas nem conseguia imaginar o que Dulce poderia fazer administrando o lugar, mandaria várias pessoas embora, gastaria metade do lucro só em sapatos, além das suas bonecas que custavam uma fortuna. Levaria o patrimônio a falência sem dúvidas e Henrique precisaria reverter essa situação.

Ele tinha uma mera ideia de como fazer esse milagre, porém seria uma tarefa difícil das duas partes, convencer quem ajudaria Dulce, e convencer Dulce.

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