O Navio

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 Estava escuro o bastante para não conseguir enxergar as próprias mãos que tremiam sobre o colo enquanto tentava respirar, não importando o quão arregalados seus olhos estivessem. Engolia o ar descontroladamente, suando em uma noite que com certeza não ultrapassaria dos 19 graus celsius. Beni sonhara com Josiê de novo. Tentou se deitar na cama novamente, mas a vontade de vomitar veio como um soco na barriga ao tentar o fazer. Na sua cabeça aquelas palavras se repetiam, martelando-lhe a cabeça sem piedade. "Morta, morta, morta" a voz dizia em sussurros, o barco de sua irmã no meio da tempestade enquanto cada tripulante tentava achar um meio desesperado de sobreviver, uns caindo sobre os outros, rezando para que um milagre acontecesse. E tudo tão claro, era como se Beni conseguisse ouvir e até sentir a costela de Josiê se partindo assim que um barril de ração a atingira e derrubara no chão. Até levou sua palma na cintura, tateando o próprio corpo para se certificar de que estava inteira e então suspirou aliviada, tudo em ordem. Já era a terceira vez naquela semana. Seus sonhos cada vez mais feios, detalhísticos, mostrando coisas que sua mente não deveria ser capaz de imaginar.  
 Jogou os pés para fora da cama, e mesmo que os joelhos de Beni falhassem ela se levantou de uma vez, apoiando a mão na parede antes de iniciar seu trajeto até a porta. Foi preciso tatear o cômodo, apoiando-se na escuridão para que não caísse, até se encontrar com a maçaneta de ferro que a levava para um corredor mal iluminado por lamparinas e velas. Não soube dizer o que fazia ali, a vagar pela casa enquanto o vento frio assoviava por debaixo de portas.

"O que está fazendo fora da cama?" - Perguntou o senhor que aparentemente estava sozinho na mesa de jantar, olhando fixamente para Beni, que parada na porta tentava encontrar as palavras.

"Pai, que susto..."

"Beni, volte para o quarto." - Ele parecia preocupado, a testa completamente enrugada, como quem esquecera o caminho de volta para casa.

"A Josiê. Ela..."

"Ela fez a escolha dela." - Percebendo o tom alto de voz que usara, podendo acordar mais pessoas na casa a qualquer hora, Bernardo afundou os dedos na barba grisalha e massageou o queixo como se fosse algo terapêutico. "Não se preocupe, ela vai voltar. Agora volte para o seu quarto, tudo bem?"

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⏰ Terakhir diperbarui: Sep 23, 2019 ⏰

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