O parto

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"Preocupamos tanto com o passado e o futuro que esquecemos de viver o presente Ame...
Se necessário erre.
Deixe que o outro faça as escolhas cabíveis para vida dele.
Se obrigatório, junte os cacos!"

2016 nasceu um ano de promessas....
Em fevereiro minha vida iria mudar pra melhor, eu teria um Edward pra vida toda.
Confesso que estou ansiosa.
Apesar de ficar mais no banheiro do que em qualquer outro lugar, tenho muita energia.

A data prevista pro parto era dia 5 de fevereiro. Ontem, dia 30 de janeiro foi meu último dia no serviço. Eu não queria, mas meus pés estão inchados de eu só conseguir usar os chinelos de Gustavo.
Mudamos a televisão pro meu quarto, porque hoje dormir está missão impossível.
Gustavo pediu de um jeito muito fofo pra que eu deixasse ele tirar uma foto beijando minha barriga.... Hoje em especial, estou muito sentimental. Está chegando a hora do encontro com o amor da minha vida.
Estavamos assistindo os filmes Gente Grande um e dois e rindo a beça, quando sinceramente não sei o que aconteceu que eu e meu melhor amigo começamos a nos beijar.
Eu sabia que deveria ter mantido ele longe. Ele estava sendo tão bom comigo e eu aqui estragando a vida dele com as minhas merdas.
Bem, ele não permitiu que eu me afastasse e quando dei por mim novamente já era segunda-feira de manhã.
Há muito tempo não dormia tão bem assim, fiquei curtindo o momento um pouco antes de surtar. Eu dormia de costas para Gustavo de conchinha e ele dormia com a mão na minha barriga.
Quase parecíamos um casal de verdade.
Levantei com dificuldades e fui tomar um banho.
Pensando na noite anterior, posso dizer que terei boas lembranças, pois Gustavo foi extremamente carinhoso, preocupado com o bebê como se fosse realmente dele.
É engraçado quando ele conversa com o Edward.
Ele fala assim....
" Pitiquin papai ta ansioso pra te conhecer viu???
Papai te ama muito meu atipumpum..."
Perguntei a ele o que significava essas palavras, mas nem ele sabe.
Sai do banho e encontrei ele me olhando assustado. Acho que esperava que eu mandasse ele embora.
Somos adultos, estamos juntos 24 horas por dia, então vamos agir como tal.
----Vai tomar banho que você ta fedendo. E lembre-se que a noite de ontem não irá se repetir.
Ele pareceu triste, mas aliviado.
Em meia hora, estávamos agindo normalmente, esperando chamar meu nome no sus, quando soltei uma piada irónica.
-----Pelo menos não precisa se preocupar se me engravidou.
Nós rimos alto.
----Foi tão ruim assim pra você?
-----Não, na verdade foi ótimo mesmo com esse pacote___ Fiz sinal mostrando minha barriga----Só não quero te magoar, geralmente por onde toco alguém sai magoado.
----Eu que deveria escolher certo??
----Sim, mas você iria escolher as consequências.
E antes que ele abrisse a boca novamente, chamaram meu nome.
Pressão ok, peso? Bem deixa quieto, bebê preguiçoso mas bem.
----Dr como vou saber se é a hora?
---- Você vai sentir umas dores fortes como se fosse uma cólica, talvez se compare com um nó sendo puxado. O ideal é manter a calma e inspirar pelo nariz e expirar pela boca. Aí quando as contrações começarem de 5 em 5 minutos e sinal que o bebê já está para nascer. Aí você me avisa e faremos o parto certo?
----- Certo.
Em casa já uns 3 meses eu vinha preparando o mamilo para a amamentação. Eu só usava água pra lavar e puxava com força, até machucar, pra evitar que rachasse depois.
Esses e outros detalhes foi o máximo que consegui organizar, pelas coisas que via na internet.

Passou dia 5, mais 10 dias e então a bendita dor, pra não falar algo pior, apareceu.
Tomei banho quente a dor voltava pior.
Fazia agachamento aquilo me cortava ao meio.
Sentei e comecei a ouvir a música oração do bebê, me acalmei até que a danada da dor, começou de 10 em 10 minutos.
Chamamos um táxi e fomos.
No hospital tinha mais algumas mulheres no quarto, acho que umas 5, duas delas já tinham ganhado nenem, estavam cansadas, mas felizes de uma grandeza que eu queria sentir também.
Seus presentes empacotados dormiam, num negócio que era meio que berço e aparentemente banheira também.
O médico pediu que eu não empurrasse quando viesse as contrações, mas estava meio difícil, já que o soro de oxitocina estava fazendo seu efeito em minha veia.
5 minutos-dor-5 minutos- dor.
É chegada a hora.
Lá vai eu subindo de maca pra sala de parto.
Todos meio que falavam gregos em seus termos técnicos.
Não sei dizer ao certo quantas pessoas tinham na sala, mas acho que eram 2 enfermeiras, o dr Bruno e um pediatra.
Tentei ter foco, para não ficar nervosa, eu sei que dizem que é impossível, mas fiquei prestando atenção na minha respiração.
Inspira pelo nariz.
Expira pela boca.
Inspira pelo nariz.
Expira pela boca.
Dor.
E assim, ia se repetindo até que mandaram que eu empurrasse.
Inspira força expirando
Inspira força expirando
Acho que fiquei uma meia hora assim, até que minha vista foi embaçando diante a confusão que formou na sala.
Não sei se eu via duas pessoas ao mesmo tempo, mas parece que tinha no minimo umas 20 pessoas e eu, bem apaguei.
"Edward está nas mãos dos médicos, vou me recuperar um pouco"

Quando acordei estava no quarto novamente, agora eram 7 mulheres contando comigo.
Interessante que eu comecei a fazer parto normal e agora tenho uma cicatriz de cesariana!
Cadê meu pacotinho??
-----Ei, você sabe quantas horas?
-----7 e 30 da manhã.
Merda já é dia 16. Será que aconteceu algo?
Decidi perguntar agora a uma moça que estava com o seu bebe do lado.
-----Quanto tempo demorou para deixarem seu filho ao seu lado??
-----Trouxeram da sala de parto comigo.
Eu comecei a ficar preocupada, algo me parecia muito, muito errado.
A moça achando que eu estava tentando puxar conversa me perguntou:
----- Como chama seu filho?
-----Edward e a sua?
-----Vitória. Lindo o nome do seu.
-----Digo o mesmo.
Uma enfermeira apareceu para me ajudar a tomar banho.
Já no banheiro perguntei a ela.
-----Cadê meu filho?
-----Dr Bruno já vem falar com você.
-----Mas o plantão dele já não acabou?
-----Sim, mas ele estava esperando você acordar.
-----Você sabe se está tudo bem?
----- Me desculpe, mas não posso falar nada sem a autorização do médico.
Quando saímos do banheiro, ele estava conversando com as outras garotas, então a enfermeira disse antes de sair:
-----Vou avisar seu marido que você já acordou, ele estava muito preocupado.
Gustavo!!!
Até tinha esquecido dele, conhecendo ele como conheço, deve ter ficado a noite toda esperando.
-----Como está se sentindo hoje Evlyn?
-----Preocupada, ansiosa e com fome.
-----Quer comer primeiro antes de conversarmos?
-----Não doutor, pode falar.
Eu estava meio que sentada na cama de hospital, tinha colocado um vestido que trouxe pra ficar na minha estadia aqui.
----Houve algumas complicações no seu parto, não tinha espaço suficiente para a passagem do bebê então tivemos que fazer uma cesariana de emergência.
Eu tentava absorver todas as informações, mas ele estava enrolando.
-----E meu filho?
-----Ele está meio cansado agora e está na uti.
-----Ele vai ficar bem né doutor?
-----Estamos lutando para isso.
Éramos a atração na sala e isso estava me irritando. Tentei me levantar para conseguir pensar melhor, mas tudo ficou preto novamente e desmaiei.

Quando acordei novamente, Gustavo estava ao meu lado.
-----Resolveu virar a bela adormecida agora??
-----Quer trocar de lugar comigo? Aposto que não dormiu desde ontem.
-----Depois que você acordou eu fui em casa, tomei banho, troquei de roupa, comi, tirei uns cochilos.
-----Você esqueceu de escovar os dentes?
-----Não por que? Tem alface no meio?
-----Você estava narrando tudo que fez e esqueceu de falar que escovou os dentes.
-----Se é boba hein?
Percebi que ele estava enrolando.
-----Deixaram você ver ele?
-----Sim, vim buscar os seus documentos pra poder registrar.
-----E saber o nome né?
-----Eu já sei.
----Sabe como?
-----Você falou dormindo.
------Então vai ser Edward Davi Vieira Souza.
-----Porque não o Silva?
-----Porque eu quero assim.
-----Você quer ir ver ele antes de mim sair?
----Vamos lá, aposto que você já está conhecido por todas.
-----Todas acham que sou seu marido, então nem precisa ficar com ciúmes.
-----Você está muito convencido hoje, meu Deus!!!
Seguimos um corredor logicamente branco, rumo a uti neonatal.
Meu pacotinho estava lá, ligado a aparelhos, mas parecia bastante comigo e pelo jeito as covinhas charmosas de Thiago.
Pedi a enfermeira da neo, para tirar fotos pra eu ficar olhando enquanto tivesse longe.
Devagar quase parando voltamos ao quarto.
Tinha uma mulher esperando a hora do parto.
Outra esperando pra fazer curetagem, pois seu bebê não resistiu e parou de desenvolver.
Algumas se preparando pra ir pra casa e eu a espera.
O hospital é um local que te traz alegrias e tristezas.
É um bebê que vem ao mundo;
Uma cirurgia realizada com sucesso;
Familiares aguardando seu ente querido sair da cti, uti;
Outros aguardando um corpo ser liberado.
E eu aguardando....
A vida de uma pessoa pode mudar em um piscar de olhos dentro de um hospital.
Agarrar a fé, é sempre a opção mais inteligente.... Só é uma pena, nos perdermos no meio do caminho

Os amores da minha vida(concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora