CINCO

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Caroline permanecia encolhida no chão, mantendo os olhos cerrados com toda a força que podia, numa tentativa desesperada de escapar daquele pesadelo aterrorizante. O vento agressivo açoitava seu corpo com uma intensidade tão gélida que a deixava completamente desnorteada. Em meio àquela situação surreal, as emoções transbordavam dentro dela, tornando impossível distinguir se o que a fazia tremer era o frio cortante do vento ou o medo avassalador que a acometia. Presa em uma cena digna de um filme de terror, sentia como se um demônio espreitasse ao seu redor. Podia sentir o peso do olhar sombrio sobre si, e a presença obscura se intensificando, a encurralando mais a cada segundo, de forma cada vez mais agoniante.

Em um breve momento, a imagem do rosto de seu pai surgiu em sua mente, como se fosse um aviso de que a morte não era tão terrível, pois estariam juntos. Apesar de ser o que mais desejou após a perda de Joseph, Caroline não estava preparada para morrer naquele instante, mesmo que isso significasse se reunir com seu pai. Mas, ela não sabia como escapar daquele pesadelo, e a sensação de impotência a deixava ainda mais apavorada.

De repente, uma voz feminina meio anasalada irrompeu pelo ar, quebrando todo o clima de terror que tomava conta do banheiro ao perguntar:

O que está acontecendo? — Caroline abriu os olhos abruptamente, tentando localizar a fonte da voz.

Uma garota de cabelo curto e escuro a encarava meio reticente, parecendo não entender absolutamente nada. E não havia nada que pudesse explicar Caroline estar jogada no chão aos berros.

Caroline tirou as mãos dos ouvidos e fez uma varredura pelo banheiro com o olhar. Surpreendentemente, tudo estava estranhamente calmo. Não se escutava mais o choro da menina, nem o vento forte, muito menos os gritos de terror. Não havia presença demoníaca.

O que não é real? — perguntou a garota, ainda segurando a maçaneta, tentando entender o que estava acontecendo.

Certamente aquela garota também estava assustada, mas, apesar de tentar não demonstrar, segurar aquele pedaço de metal preso à porta era um indicativo explícito de que ela fugiria se algo estivesse muito errado. E estava tudo errado.

— Tem alguém ali... — Caroline apontou para a porta que anteriormente estava escancarada e agora, de alguma forma, estava fechada.

A garota, cujo nome era desconhecido, aproximou-se lentamente da baia. Ela não presenciou um terço do evento bizarro que havia ocorrido com Caroline, nem ouviu os sons assustadores, mas, ainda assim, parecia apreensiva. Mesmo assim, a garota empurrou a porta com hesitação. Seus ombros relaxaram, e seus braços caíram frouxos ao lado do corpo, como se a tensão tivesse esvaído dela.

— Não tem ninguém aqui. — Trincou os dentes, virou-se para Caroline e a encarou com desconfiança, quase irritada. Isso é mais uma brincadeira de mau gosto?, a garota enfureceu-se, mas decidiu não demonstrar sua raiva, considerando que Caroline claramente era nova na cidade e, consequentemente, não conhecia sua história.

— Achei que... tivesse... — Caroline se forçou a se levantar, confusa, um grande ponto de interrogação estampado em seu rosto assustado. Não era possível que tudo tivesse sumido do nada, a não ser que ela estivesse ficando louca.

Caroline percebeu o olhar de julgamento da garota, e ficou óbvio que, naquele momento, estava sendo vista como perturbada ou como alguém com algum tipo de distúrbio mental. Pigarreou, arranhando a garganta para limpá-la, a fim de que sua voz parecesse ao menos firme.

— Acho que me enganei. Devo ter me assustado com... alguma coisa... — Disfarçou ao tentar se recompor, mas seu corpo trêmulo não condizia com suas palavras.

IMORTAIS: Mundo Sombrio - Livro 1Where stories live. Discover now