Capítulo 1

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Tudo se repetia novamente. As mães de família pegavam seus filhos e corriam para a grande torre. Lilian não parecia se importar muito, continuava com seus passos lentos e olhar cabisbaixo.  Aquilo havia se tornado uma rotina, ela já sabia o que estava por vir, então simplesmente entrou na torre, enquanto observava a porta se fechar, deixando varios habitantes do lado de fora, já podiam se considerar mortos, e isso doía muito em seu coração.

   A cada três semanas, uma grande inundação invadia seu povoado, eles eram os unicos que tinham sobrevivido em todo mundo, provavelmente por sorte, mas aquele pequeno lugar vinha se arrastando a muito tempo, apenas esperando o inevitável.

  Ela não sabia como era antes, nem quando aquelas inundações haviam começado a acontecer, mas aquilo já não a assustava mais, não tinha medo envolvido. Lilian sempre se imaginava parada lá fora, esperando a grande onda de água chegar e atingi-la por completo, seus braços estariam abertos, sua mente vazia e seu cerebro desligado, apenas aproveitaria o memento de glória, mostraria para sua família que não tinha o que temer, era apenas água, porém aquilo não estava acontecendo, e ela se via obrigada a subir a escadaria, enquanto sentia cada vez mais as ondas se aproximarem.

  Quando chegou, olhou para a grande multidão, todos encolhidos em um canto, esperando um grande choque.

   As mulheres estavam sendo abraçadas por seus maridos enquanto seus filhos brincavam sem saber o que realmente estava acontecento. Lilian não queria ter que passar por tudo aquilo outra vez, era triste ver como todas aquelas pessoas estavam desesperadas, tinham medo de que algo acontecesse, porém acabavam esquecendo das pessoas que estavam do lado de fora. Para onde iam? Será que algumas conseguiam sobreviver? Era um mistério que nenhuma pessoa "normal" tinha a vontade de descobrir, mas claro, Lilian não se considerava uma pessoa normal, sempre em suas aulas era a única que fazia perguntas realmente relevantes, ela queria fazer a diferença, só não sabia como. Agora a diferença estava em sua frente, atraz dos grandes portões, precisava provar para todos que não tinha o que temer, não precisavam viver se escondendo, mas infelizmente a coragem sempre lhe faltara, quem sabe um outro dia. Provavelmente esse dia nunca chegaria, mas ela se obrigava a acreditar que sim.

  Seus traços não eram nada delicados, possuia calos nas mãos de tanto trabalho e esforço, machucados em suas pernas e uma grande cicatriz em seu rosto, na qual ela sempre evitava falar, fingia que não tinha importancia, mas todos sabiam que era mentira, o ocorrido havia marcado a pobre garota para sempre.

  Sua mãe podia sentir que ela ainda não estava bem, e sempre tentava se aproximar da filha, mas obviamente ela não desejava a reaproximação, apenas queria poder reclamar da vida sem ser interrompida.

   Todos permaneciam com os olhos grudados em seus movimentos, observavam cada passo da jovem garota, analizavam cada palavra que ela redigia, Lilian sentia, não tinha dúvidas que mesmo depois de anos ela era a primeira coisa que todos lembravam ao entrarem na torre.

   Estava cansada, então apenas mergulhou em seus pensamentos, poucos minutos depois pode sintir um estrondo, se tratava da água em contado com a torre. Todos estavam gritando histéricamente, mas sabiam que a torre não cairia, sua base se estendia por muitos metros abaixo do chão, o que lhe garantia segurança.

   Tudo parecia estar em câmera lenta. A forma como as crianças gritavam, as mulheres se desesperavam e os homens tentavam permanecer estáveis. Ela não tinha medo, queria apenas o fim, o dia em que todos esses acontecimentos se tornassem apenas histórias, assim fazendo da pobre garota, uma pessoa normal.

  Quando finalmente acabou, todos tiveram que esperar o terreno se livrar de toda água, o que demorava cerca de alguns dias, dias de derrota, dias que serviam para mostrar para aquelas pessoas como elas não tinham domínio sobre a própria vida.

  Rapidamente o dia de descer chegou. Uma grande fila estava formada na frente dos portões, e quando eles se abriram, Lilian teve uma pequena esperança de que ouvesse algum sobrevivente, mas como sempre, nada. A inundação tinha levado tudo e todos, só lhe restava um terreno vazio e podre.

  O pequeno vilarejo tinha nome, porém ela não era capaz de pronuncia-lo, era sutil e otimista, não fazia jus ao lugar.

  — Vamos, temos que começar a pegar suprimentos, não demorará muito para próxima inundação. — Disse Dean, descentente do Fundador do vilarejo e provavelmente o homem mais
responsavel que Lilian já conhecera.
  
  Ela conseguia ver a situação do povoado, percebia que as pessoas não estavam felizes, a maioria havia perdido alguem para a Fúria das Águas, e ela não permitiria que isso acontecesse novamente.

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⏰ Poslední aktualizace: Jul 08, 2017 ⏰

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