Capítulo VI

182 20 14
                                    


- Posso separar um pouco pra levar pra Josephine, vó? - Perguntou o branquelo distraído sobre o café da manhã.

Henrique olhava aquela cena de filme, o peão apenas de short pintando junto com seu sobrinho a casinha do cachorro. Os dois mais se sujavam do que pintavam na verdade, mas era gostoso de ver, era uma cena muito bem projetada. A luz do sol daquela manhã suave, o som das gargalhadas junto dos latidos descoordenados do filhotinho que acompanhava a algazarra. O branquelo sentiu-se feliz, estava a rir sozinho assistindo, mas sentiu seu ânimo se apagar ao virar para o lado e ver Josephine olhando também aquela cena.

- Bom dia amor, ia levar café pra você na cama.

A garota desviou-se do beijo oferecido, o rapaz ficou sem jeito, e sua avó logo se pôs a conhecer a sua nova neta enquanto Henrique tentava entender o que tinha acontecido.

- Amor, o que tá acontecendo com você? - Questionou o rapaz já no quarto, logo após a francesa terminar seu café da manhã.

- Foi só o enjôo. - Respondeu ainda avessa, mas sabia que ninguém naquele quarto acreditou naquela resposta.

- Tudo bem, se não quer falar.

O rapaz se dirigiu a porta, levemente impaciente. Não queria perturbar sua esposa, tinha medo que acontecesse alguma coisa com o bebê, mas não conseguia suportar quando Josephine não se abria com ele. Na verdade ambos eram fechados em relação ao seus sentimentos, nunca chegaram a trocar muitas palavras carinhosas, mas a relação era mantida através do respeito mútuo, que naquele momento parecia abalado. Antes de alcançar a maçaneta, uma discussão com palavras em português e em francês foi iniciada por ela:

- Como você acha que eu me senti ontem a noite? - Perguntou com voz embargada.

- Amor, me desculpa, ultimamente eu ando muito cansado, tá acontecendo muita cois...

- Não Henrique, não se faça de idiota! - Seu tom aumentou bruscamente - Eu vi como você tava ontem na festa, eu vi como você tava hoje de manhã.

- Eu não tô te entendendo amor. - Henrique se encontrava desesperado, não conseguia manter uma linha de raciocínio lógico para lidar com as acusações que nem sabia quais eram.

- Não me chama de amor! - Berrou, e logo após despencou na beirada da cama, sentando cabisbaixa, já vertendo lágrimas descontroladamente. - Não me chama de amor...

Henrique, foi até perto dela, segurou suas mãos, ajeitou seu cabelo caído no rosto, mas não se atreveu a abrir a boca. Apesar que mesmo que tentasse acalmar a situação, ele não era bom com as palavras, apesar de se explicar ser um hábito do branquelo, quando se tratava de sentimentos isso era impossível para ele. A moça olhou-o nos olhos, queria ter certeza que sua conclusão não tinha sido precipitada, e não foi.

- Eu ouvi aquele bêbado de madrugada, eu ouvi.

Assim que Josephine se retirou com Henrique para dormir após a festa do pequeno clone de Damião, Rômulo foi levar seu namorado embora, mas retornou cerca de uma hora após e se pôs a beber na sala escura. Nem precisou beber muito para se embriagar, pois seus pensamentos eram mais tóxicos do que o álcool que consumia. Por volta das três horas da manhã, assim que a garrafa de whisky se esvaziou, Rômulo com sofreguidão cambaleou para o quarto que dormia quando pernoitava no casarão e não em sua cabana, mas antes de entrar, escorou-se na porta do quarto do branquelo.

- Henrique. - Soluçou, repetidas vezes, aumentando apenas um pouco o tom de sua voz enquanto escorria de costas naquela porta, chorando. Chorava do cansaço de se manter forte o tempo todo, chorava para manter sua sanidade, chorava por não ser correspondido. - Por favor, por favor...

ReisWhere stories live. Discover now