Voltou à realidade quando uma das crianças tentou se soltar de suas mãos. A puxou de volta e segurou mais forte, olhando-a com desprezo. O filhote baixou a cabeça e desistiu de tentar qualquer outra coisa, continuando a caminhar entre os outros.
Uma senhora viu o ato e se aproximou, sorrindo para o Rabitt maior. Olhou para os filhotes, ambos com uma postura enrijecida.
- Ora, que filhotes mais adoráveis! - E tornou a olhar para o outro, que retribuiu o sorriso. - Por acaso são seus filhos?
- Sim, são meus, senhora. - Um dos pequenos olhou de soslaio para a mulher, que percebeu o olhar e ficou um tempo sem responder. Apontou vagamente para a criança.
- Posso saber seus nomes, senhor?
O sorriso do Rabitt diminuiu um pouco. Qual era mesmo o nome das crianças? Haviam canecas com números na mesa… e a mulher estava com o crachá em sua roupa. Os números restantes eram…
- 067 e 043, senhora - tornou a sorrir. - São os nomes dessas belezinhas.
Olhou para as crianças com uma ternura disfarçada e se virou para a mulher. Ela assentiu, concordando com sua afirmação. Mas não se convenceu.
- Se me permite a pergunta, é pai solteiro?
- Sim, sou.
- Deve ser difícil cuidar de duas coisinhas tão lindas quanto essas - observou as crianças com atenção e olhou para o homem. - Se divorciaram?
- Quem dera que sim - respondeu, suspirando. Fingiu pesar ao dizer: - Mas infelizmente ela morreu.Tentou se segurar para não rir ao se lembrar da expressão aflita que a esposa teve ao ser perfurada por sua espada e soltou essa vontade com outro suspiro. As crianças tremeram ao ouvir isso e uma delas deixou uma lágrima cair de seus olhos.
- Oh, sinto muito… - falou a mulher, parecendo sentir pena deles. - Foi muito recente?
- Não imagina o quanto - respondeu, pensando em quão sincero tinha sido ao dizer isso. - Ainda estou superando a perda. Nós estamos, aliás.
Repreendeu o filhote com o olhar, fingindo estar apenas sorrindo para ele e a criança rapidamente limpou os olhos com a mão livre.
- Entendo - disse a mulher. E então encarou o Rabitt. - Onde estão sua tarja e crachá?
O Rabitt retribuiu o olhar com uma intensidade maior. Havia tirado os dois tempos depois de ter explodido o Castelo. Nesse mundo em que viviam, era difícil reconhecer alguém sem eles.
Começou a planejar uma mentira, pensando em como a mataria mais tarde. Ela estava curiosa demais para alguém só de passagem. Com certeza algum dos pirralhos havia a feito desconfiar de algo.
- Formem uma fila única! - gritou um dos Militares. - Chegamos ao nosso destino. Irão entrar aos poucos.
Sorriu para a senhora e deixou a pergunta no ar, indo para a frente a fim de entrar na fila e não ter que respondê-la. Colocou as crianças na sua frente e segurou os ombros da última, deixando a mensagem bem clara para elas: não tentem fugir. E depois de um tempo, entraram no abrigo.
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152 caçava as crianças com afinco, mas no meio da multidão de Rabitts dentro da Passagem, essa era uma tarefa difícil. Se lembrava claramente das instruções: tinha que ir para a Torre de Controle até a noite, senão…
Suspirou ao pensar em seus filhotes. Na situação em que se encontrava, seria complicado chegar até a Torre, mas não tinha opção se quisesse vê-los novamente.
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Rabbit 099
Short StoryEle nunca se esquecera da humilhação, do desespero e do medo que sentiu ao lado dela. Agora, depois de todos aqueles anos pesquisando seu paradeiro, estava preparado para se vingar. Ela não esperava por isso, logicamente. Não esperava que voltasse p...