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"Acorde Camila, por favor, você precisa acordar.”
“Camila lute contra isso, você é forte.”
“Se você não acordar eles vão te matar.”

Fecho os olhos com força e tampo meus ouvidos encostando na parede no canto do meu quarto, um soluço escapou da minha garganta enquanto lágrimas quentes desciam meu rosto.

“VÃO EMBORA!” Grito com o resto da força que eu tinha antes do meu corpo despencar no chão e meu choro sair abafado pelas minhas mãos “Por favor... Me deixem em paz..”

“Camila!? Oh meu deus, Camila, olha pra mim por favor.” Dinah entrou no quarto correndo e se abaixou até ficar da minha altura pegando meu rosto com ambas as mãos. “Amor, o que você ta ouvindo?”

“D-Dinah, as vozes...e-elas..” ela me abraçou e me apertou, suspirei e deitei a cabeça no seu ombro retribuindo o abraço, as lágrimas ainda caiam e as vozes se tornaram apenas sussurros.

“Shii... Não precisa falar nada, okay? Eu to aqui, eu não vou sair do seu lado."

Era assim quase todas as noites, eu começava ouvindo passos ao meu redor e logo depois vinham as vozes sempre dizendo para mim lutar e acordar, eu ouvia a voz de crianças rindo em volta de mim. Dinah era minha melhor amiga, ela mora comigo desde que tudo isso começou, quando eu era criança eu via vultos e escutava vozes dentro da minha cabeça, acabei sendo diagnosticada com esquizofrenia, o psiquiatra que me acompanhava aconselhou minha mãe a me internar, como minha mãe era muito crente sempre achou que aquilo era o demônio mas depois que ela me levou a igreja começou a achar que eu tava fingindo porque queria atenção.
Dinah quando soube que minha mãe iria me internar ficou louca da vida, ela foi lá em casa e brigou com Sinuhe e desde então eu moro com ela no Arizona em um lugar bem distante da minha mãe.

“Mila.” Dinah me chama delicadamente enquanto me senta na cama.

“Que horas são?”

“Isso não importa pode continuar dormindo, eu tenho que sair pra trabalhar mas logo a Ally estará aqui okay? Não sai daqui."

Diz ela beijando minha testa antes de me cubrir de novo e sair do quarto deixando a porta encostada, suspiro ao ter certeza que eu não ia conseguir mais dormir, me arrasto até o banheiro para escovar os dentes.

Um miado ecoa pelo meu quarto me causanso um calafrio que percorre toda minha espinha, dou um pulo apenas para ver um gato branco e bege com seus olhos verdes me olhando confuso.

Meu cérebro processava que não havia nenhum perigo, vou ate ele e me abaixo fazendo carinho em sua cabeça, ele se assusta antes de aceitar.

“De onde você saiu amiguinho?”

O gato ronrona em resposta, a confusão logo se instala na minha mente, como ele tinha entrado no apartamento? Será  que Dinah havia adotado um gato? Como se ele soubesse o que passava na minha mente o gato se arrepia e sai correndo em direção a porta do quarto passando pelo vão.

“Espera ai!” Grito para o gato como se ele fosse me escutar e quando eu chego na sala me deparo com o vazio. Nada de gato, nada de Ally.

Abro a porta e me deparo com o corredor velho e empoeirado, as paredes antes brancas davam espaço para uma coloração esverdeada, o corredor era mal iluminado e com uma fina camada de poeira. Naquele andar moravam 3 pessoas, eu quase nunca vejo ninguém nesse prédio, se não Ally e Dinah, também algumas senhoras que ficavam no Jardim.

De um canto mais afastado vejo o gato sentado me olhando, me aproximo devagar mas ele assim que percebe minha presença começa a correr subindo as escadas, ele simplesmente parou na frente de um apartamento e passa a cabeça nas minhas pernas, o pego no colo, me viro para ir embora mas o barulho da porta se abrindo me impede.

“Posso ajudar?” a voz rouca dela passa pelos meus ouvidos, causando um frio na espinha. Ela me olha dos pés a cabeça, seus olha alternam entre mim e o gato.

“Oi, esse gato entrou no meu apartamento e quando fui pegar ele, ele acabou fugindo pra cá, é seu?

Ela abre um sorriso olhando o gato e faz carinho em sua cabeça acenando positivamente.

“Ela é uma fêmea, obrigada por isso, se eu deixo a porta um pouco aberta ela foge e passeia por ai, perdão pelo incomodo.”

Ela pega o gato e coloca no chão, a mesma entra correndo no apartamento saindo do meu campo de visão.

“Eu sou Lauren." Ela estende a mão e eu retribuo o aperto.

“Camila, é um prazer.”

“Não quer entrar Camila? Eu acabei de fazer café, acho que é disso que você precisa."

“Como sabe?”

“Suas olheiras te denunciam.”

Ela sorri de novo e me dá espaço para passar, o cheiro de café fresco invade minhas narinas, ela passa por mim e vai em direção a um cômodo que eu julgo ser a cozinha, sento no sofá e observo a sala em que estava, as paredes eram brancas com quadros de alguns músicos, tinha um tapete vermelho com dois sofás de couro marrom.

“Você prefere café ou chá?”

“Café está ótimo, obrigada... Você toca?” Me refiro a guitarra no canto da parede.

“As vezes."

Ela diz simples e sai do cômodo, voltando alguns minutos depois com duas xícaras, me estendendo uma.

“Em que andar você mora, Camila?”

“Eu...” penso um pouco se deveria falar meu apartamento para uma estranha, Dinah sempre me alertou a não falar com ninguém diferente daqui do prédio, mas ela não era uma estranha, ela era Lauren. “... no andar de baixo"

“3°?” ela repetiu consigo mesma e eu aceno tomando um gole do café disfarçando uma careta  ao sentir que estava totalmente sem açúcar “Quantos anos você Tem?”

“18 e você?”

“20.”

“Você trabal..”

“Acho melhor você ir Camila, está tarde” A garota diz depois de tremer e se arrepiar, ela levanta e me encara.

Fico sem reação, solto a xícara caminhando ate a porta e a abro olhando para a garota que estava sorrindo gentilmente.

“Até logo, Camila.”

É a ultima coisa que ela diz antes de fechar a porta, o que diabos acabou de acontecer? Que garota maluca!

Desço as escadas olhando a hora e arregalo os olhos, eram quase meio dia, olho para o lado e vejo uma espécie de braço vir na minha direção, não era um braço comum, era uma sombra, o pânico se instala no meu corpo e agindo por instinto eu começo a correr até meu apartamento, solto um grito quando aquilo puxa meu corpo fazendo  ele se chocar com o chão gelado, sinto minha cabeça doer e uma voz sussura perto do meu ouvido “Durma."

Apartamento 25Onde histórias criam vida. Descubra agora