Capítulo Um

38.7K 1.7K 53
                                    

Era a trigésima vez que alisava a parte da frente do vestido, estava na pausa do almoço tentando melhorar minha aparência, ficava sempre nervosa toda vez que pensava em ver o idiota do meu chefe. Já devia ter me acostumado afinal já trabalhávamos a um certo tempo juntos, quase dois anos para ser mais precisa, mas era inevitável, sempre que o via calafrios percorriam meu corpo, não conseguia evitar as sensações que tinha só em saber que ele estava no mesmo lugar que eu e por mais estranho que possa parecer ele nunca sequer havia me tocado para justificar tais "sentimentos".
Estava retocando o lápis em meus olhos quando escutei o grito estridente da minha amada amiga ou demônio como carinhosamente costumo a chamar, temos intimidade suficiente para isso, ela me chamava na porta do banheiro atrapalhando meus planos de tentar ficar bonita.

- Você vai se atrasar. - Pri gritou mais uma vez.- Você sabe que o Carlo fica uma fera a cada atraso seu, mas parece que você gosta de provocar, na maioria das vezes tenho certeza disso.

- Vá se foder.- Revirei os olhos. - Ele esta te pagando para encher meu saco também? Pensei que você era minha amiga.- Gritei. - Se ele estiver incomodado comigo que me demita ou se você quiser pode pegar ele como promoção e o meu lugar junto.

- Já estressadinha meu amor, uma hora dessa do dia, o chocolate de sobremesa que eu te trouxe não resolveu? Agora vamos lá você sabe que cobro caro pelos meus serviços, apesar de que ele seria uma boa quantia, afinal é um grande pedaço de mal caminho, mas não vale a pena arriscar, sei o quanto gosta dele Bia e nem precisamos discutir isso mais uma vez, já estou cansada dessa ladainha, você apenas não admite.

A idiota passou e beijou minha bochecha se retirando em seguida. Não ia adiantar chigá-la agora por isso, bufei frustrada, marchando duramente até minha mesa, sentando em seguida.
Os relatórios estavam todos prontos, já havia organizado todo trabalho que me foi delegado para aquele dia então me permiti olhar uma mensagem que minha irmã acabara de me mandar, sentia saudades dela, havia ficado sozinha depois que ela se mudou, após se casar, não podia privar ela de sua vida.
Hoje em dia eram raros os momentos que conversávamos, abri o conteúdo e no vídeo meu sobrinho dava seus primeiros passos em direção a ela que sorria bobamente batendo palmas tentando chamar atenção dele.

- Como está lindo meu pequeno Miguel, dá um beijo nele, da titia aqui.- Sorri falando no áudio com ela. Um pigarro nada discreto ecoou por meus ouvidos e lá estava ele na sua pose mais dura, olhando sem nenhuma expressão em minha direção, seu perfume forte amadeirado chegou em minhas narinas, um calafrio sempre que ele chegava perto.

- Acho que não te pago para ficar no celular Arantes, não me lembro de ter adicionado nenhum valor extra em sua folha de pagamento. - Falou olhando alguma coisa em seu iPhone sabe-se lá que modelo.

- Estava apenas vendo meu sobrinho...- Estava pronta pra continuar, mas ele me interrompeu como sempre.

- Se é trabalho que lhe falta é isso que lhe darei.- Disse virando rumo a sua sala.

- Não adianta te explicar nada, esqueci que você não tem coração. - Disse ríspida e um sorriso irônico brincou em seus lábios quando ele virou novamente em minha direcao, aí me pergunto como uma pessoa pode ser tão lindo e tão cafajeste ao mesmo tempo? Balancei a cabeça para espantar tais pensamentos, eles deviam continuar nas profundezas do meu íntimo de onde jamais deveriam insinuar sair.

- Arantes, quero o relatório das 3 audiências que tenho na terça-feira até às 18 horas na minha mesa. - Ele terminou de falar enquanto eu olhava para o relógio na parede que marcava 13:45 da tarde, era impossível, não sabia do que se tratavam os processos não ia dar tempo de ler todos. Suspirei frustrada não adiantaria lamentos.

- Como vou conseguir isso? Os relatórios eram pra segunda, é pouco tempo pra muita coisa.

- Dê um jeito. Você não pensou nisso ao ser pega mechendo no celular, durante o horário do expediente, sabe das regras não preciso repeti-las.

- Cretino.- Disse baixo entre os dentes, pelo menos era o que eu pensava, mas ele olhava pra mim com um sorriso como se estivesse escutado o que eu disse.

- O que disse?- Perguntou pausadamente.

- Que tudo estará pronto até a hora pedida. - Sorri aguada. - Querido chefe. - Dei o meu melhor sorriso falso, o mesmo saiu da minha frente sem dizer nenhuma palavra, o xinguei mentalmente com todos os nomes possíveis e até aqueles que eu nem lembrava mais, poderia arriscar que até inventei alguns, eu o odiava.

O Cretino do meu CHEFE #Watts2019Where stories live. Discover now