Capítulo 04

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Levanto da cama tão grogue como qualquer outro dia, ou talvez até mais. Quem disse que acordar cedo para trabalhar duro era benéfico ao corpo estava com certeza mentindo. E principalmente quem disse que um dia a gente se acostuma a madrugada na vida deve ter um lugar especial na sauna do tinhoso por ser tão mentiroso, eu jamais me acostumarei com isso. E quando coloco meus pés no chão... nhaaauuu!

Matei o gato meu Deus! Pisei no rabo dele sem querer e ainda cambaleando de sono tento ir atrás do príncipe para pedir mil desculpas ao xaninho, em vão. O gato já é cabeça dura e orgulhoso que nem a dona. Só me resta então deixar ele se acalmar e me desculpar mais tarde, necesssito ir logo me arrumar, pois o dia vai ser corrido. Marquei de encontrar com dona Antônia no prédio do doutor Arthur logo cedo já que ele disse que não estaria por lá.

Vestido fresco e confortável, ok. Sapatilha confortável, ok. Bolsa contendo tudo que meu chefe me entregou do apartamento dele, ok. Celular e chaves em mão, ok. Sou esquecida demais, por isso uma lista de conferência para não haver imprevistos. Saio de casa tranquila e confiante de que tudo correrá bem.

Um ônibus e um circular depois, ao chegar em um dos bairros nobre de São Paulo me deparo com uma estrutura enorme e belíssima toda espelhada, refletindo uma bela arborização e os outros prédios a sua volta. Quem tem dinheiro é outra coisa. Um belo de um investimento na vida morar nesse prédio. Dona Antônia, muito eficiente, já está me esperando na portaria. Subimos junta pelo elevador exclusivo da cobertura e nos deparamos com um belo hall em cores claras, espelhos enormes, vários vasos escuros lindos e dois sofás brancos nos transmitindo uma imagem de calmaria e organização toda clean da vida, bem diferente do humor do meu chefe.

Paraliso assim que passo da porta, não tenho nem como mensurar o tamanho de minha surpresa ao encontrar o resto do apartamento em completa desordem. Um caos tremendo, que mais parece que passou um furacão Catarina pelo lugar. Várias garrafas espalhadas, copos e taças em pedaços, roupas femininas em todas as partes imagináveis do ambiente e pessoas pelo chão. Sim, pessoas. Para ser mais específica, mulheres nuas dormindo pelos cantos tanto nos sofás como no chão, todas descabeladas como se tivessem sido usadas por mil homens ao mesmo tempo. Eu contei cinco e mais uma vindo pelo corredor toda descabelada e vermelha com um enorme sorriso no rosto.

— Boooom diiiaaa! Vocês devem ser as faxineiras. Tem belo trabalho esperando pelas duas, tudo culpa do Arthur, eu juro.

Todas começam a concordar e gargalhar ao mesmo tempo, quase me dando a impressão que estou em uma alcateia de hienas. Se o Arthur transou com todas essas mulheres, e sozinho, esse homem deve ser um deus do sexo ou então está de cadeira de rodas no hospital neste exato momento. E se não estiver, eu mesmo despacho para um em agradecimento por esta bagunça toda.

— Bom dia pra vocês também. Se não se importarem, já está na hora de todas irem embora né?! Dá uma melhorada nessas caras, porque estão horríveis de se olhar. Por gentileza,liberando o local agora tá bom!

— Mocinha, — a loira aguada diz entonando sua voz estridente — o Arthur nos trouxe aqui e só ele pode nos expulsar, mesmo porque ninguém aqui vai dá ouvidos a faxineira.

— Faxineira ou não, eu estou falando para vocês irem embora civilizadamente, não me queiram ver de mal humor a essa hora do dia. Novamente, por favor, vão embora agora!

Mulatinha, — ela me olha com cara de nojo — só vamos sair quando o dono mandar e no caso não é você né baixinha, faça seu serviço calada.

Uma revolta bate tão forte nos meus nervos que repente vejo tudo em vermelho e de forma acelerada, nem me dou conta quando começo a empurrar todas as modelos esqueléticas para dentro do elevador semi nuas ainda. Esbravejo para que sumirem da minha frente e que "mulatinha" de forma pejorativa era a puta que pariu todas elas. Não sou mulher de levar desaforo para casa nem aqui e nem na China.

Dona Antônia me olha incrédula e estática enquanto eu cato todas as roupas espalhadas pelo chão e jogo pelas janelas do apartamento. Nem me importo quem eram elas, que se fodam com seus preconceitos e arrogância, e nem foi por me chamar de faxineira, pois é uma profissão nobre, mas sim pela forma como me trataram, sendo que elas que estavam fazendo algazarra desnecessariamente. Não ando com paciência para gente assim.

— Dona Antônia me desculpe pela bagunça, o doutor Arthur não é sempre assim não tá. Hoje deve ter sido uma exceção extrema que não irá se repetir. Acha que a senhora sozinha dará conta da bagunça?

— É a juventude meu bem. Já estou acostumada com bagunça, tenho três netos na adolescência, por isso não precisa se preocupar que dou conta de tudo. O que acha de vermos a cozinha pra planejarmos as compras?

— A senhora é um anjo viu. Vamos sim porque eu ainda preciso voltar ao trabalho no escritório o mais rápido possível.

Como se tudo já não tivesse sido surpresa o suficiente, ao entrar na cozinha encontramos nada menos que nosso chefe se vestindo ao lado da dispensa. No meio de minha ira só gostaria de ressaltar uma coisa: ele está um pecado em forma de homem a essa hora da manhã, e mostrando um belo peitoral malhado cheio de tatuagens mata qualquer uma do coração.

— Bom dia Lunna. Ainda bem que você chegou, eu não sabia mais como expulsar aquela corja toda, estou super atrasado pra sair. — o devasso permanece calmo e tranquilo em toda sua magnitude a nossa frente.

— Doutor Arthur, não me lembro de ter sido contratada para esse tipo de serviço. No mínimo, deveria ter chamado o IBAMA pra fazer a limpeza.

— Eu acredito muito nas suas qualidades minha linda, — me olha maliciosamente enquanto gargalha — sei que dá conta de qualquer tipo de trabalho.

Dois Caminhos, um Destino.Where stories live. Discover now