se você soubesse › camren

iv.

“Eu oficialmente te odeio.” eu sussurrei embora estivéssemos longe do círculo de conversa e risadas vindo da cozinha.

Normani apenas riu. Ela deve sentir prazer em me ver sofrendo.

“Por que você não disse que ela viria?” eu questionei apontando para Camila.

Ela estava tão à vontade conversando com Dinah e Ally. Eu por outro lado estava morrendo por dentro. Era sexta feira a noite e estávamos em uma pequena cabana longe da bagunça de Miami. Ally alugou para o final de semana, nosso último final de semana juntas. Eu já estava com as malas prontas em casa e iria para LA em três dias.

Camila não sabia disso. Eu quase tive que torturar as meninas para não dizerem nada. Eu deveria contar a ela na festa, mas não deu muito certo e depois daquele dia não nos encontramos mais. Honestamente eu estava esperando pelo último minuto. Sempre uma covarde, eu admito isso.

“Lauren,” Normani me chamou a atenção. “Você está babando.”

Eu rosnei e isso apenas causou mais risos, é claro. Eu estava começando a suar frio.

“Eu não pude fazer nada, Ally disse para não te contar exatamente por isso. Você iria pirar e não iria querer vir.” ela explicou. “Você vai embora e Ally quer que esse final de semana seja perfeito. Como nos velhos tempos.”

“Não dá, Mani. Ela sequer olhou pra mim a viagem toda. Ela até mesmo trocou de lugar com Dinah só para não sentar do meu lado.”

“Não pode culpar ela por te ignorar, você tem feito isso por dois anos.” Normani me encarou seriamente.

Eu realmente não poderia culpá-la. Era uma droga provar do próprio veneno.

“Olha, apenas relaxe. Faça isso por Ally, por todas nós. Você está nos deixando e poderíamos fazer algo pior do que te prender uma noite aqui com o amor da sua vida.”

Ela segurou o riso ao ver minha expressão assustada. Ultimamente ela realmente não perdeu tempo em falar dessa maneira sobre Camila.

“Tudo bem, eu vou relaxar.” eu concordei.

“Você só tem que fingir que não é apaixonada por ela. Vai ser fácil, tem feito isso a sua vida toda.” Normani comentou e dessa vez ela riu mais alto.

Eu estava prestes a matá-la quando Dinah chamou nossa atenção.

“Será que dá pra fingir que estamos aqui também e nos incluir na conversa?”

“Eu estou surpresa que não ouviram nada.” Normani disse sugestivamente indo até elas.

Eu respirei fundo antes de segui-la. É só agir normalmente, certo.

“Ah, eu ouvi.” Dinah disse e me olhou brevemente. Eu congelei. “Estavam discutindo quem vai dormir com Mila e quem vai dormir no sofá já que eu vou ficar com Ally no outro quarto.”

Eu queria poder socar Dinah agora.

“Eu fico com sofá, sem problemas.” Camila disse naturalmente.

Ela parecia à vontade demais, mas não se mostrava indiferente em relação a mim. Era uma tortura não saber o que ela estava pensando ou não poder simplesmente ter uma conversa com ela como costumávamos ser.

“Não, eu fico.” eu disse dando de ombros. “É só uma noite, não me importo.”

“Yeah, claro. Só uma noite.” Dinah clareou a garganta e Ally deu um olhar nada sutil para ela. “Então eu fico com Ally, Mani com Mila, e Lauren com os ratos.”

“Ratos?!” eu praticamente gritei, olhando em volta.

Ally deu um tapa no braço de Dinah, mas isso não fez com que parasse de rir da minha cara.

“É mentira Lo, não tem ratos aqui. É um lugar agradável, por um preço muito bom.” Ally disse me entregando uma cerveja.

“Yeah, um lugar como esse, cercado de mato, longe de civilização... imagino qual preço estamos pagando.” Dinah comentou.

“Dinah, não reclama ou eu vou te colocar para dormir com os ratos.”

“Ally!” eu choraminguei.

Elas riram de mim mais uma vez, é claro. Eu não tinha nada contra ratos, mas preferia não dormir com eles ou ter um perto de mim. De certa forma eu estava feliz por pelo menos estar no mesmo ambiente que Camila, e poder ouvir sua risada contagiante.

Era doloroso e satisfatório ao mesmo tempo. Ela não tinha ideia de quantas vezes eu me fazia de idiota só para fazê-la rir. Eu não tinha mais como fingir tudo isso, mas olhando-a agora sem ela sequer notar que estou gritando por dentro parece dois anos atrás tudo de novo.

Vai ser um final de semana dos infernos.

-

Eu tive a pior noite de sono da minha vida. Primeiro, eu tenho quase certeza que Ally me embebedou, ela ficava nos dando bebidas a noite toda. Minha cabeça estava explodindo agora, mas não a culpo. Ela só quer um final de semana perfeito.

Eu me lembro de cantar com Dinah, Normani me deu um tapa e eu não me recordo por que, e Camila falou comigo. Eu não me lembro sobre o que conversamos, mas só por ela ter notado minha presença já está ótimo pra mim.

Ainda sim, não tenho certeza se isso tudo aconteceu mesmo ou foi um sonho.

Quando me levantei do sofá parecia que tinha sido espancada. Não só a cabeça doía, mas meu corpo inteiro. Maldito sofá. Eu não sabia que horas eram, apenas que era de manhã e estava tudo quieto. Eu fui direto para o banheiro tomar um banho enquanto tinha a coragem, e quase caí de cara no chão ao tropeçar em uma das malas que estavam espalhadas pelo lugar.

O que diabos aconteceu ontem?

Eu estava terminando meu banho quando ouvi batidas na porta.

“Lauren é você?” Camila gritou e continuou batendo com urgência. “Lauren!”

A cada batida minha cabeça doía três vezes mais, mas eu juntei toda força de vontade que tinha para pegar uma toalha antes de abrir a porta.

“O que foi?” eu disse mau humorada e Camila parecia estar pior.

“Que merda é essa?” ela praticamente jogou uma folha de papel na minha cara.

Eu a olhei confusa e analisei a folha.

"Olá, perdedoras,

espero que estejam sóbria o bastante para ler esse recado que eu, Dinah Jane Hansen, escrevo com todo carinho para responder a confusão que devem estar neste momento. Sim, vocês foram abandonadas, mas antes de ficarem furiosas saibam que vocês mereceram. Decidimos (na verdade foi minha ideia, de nada) que era a única maneira de fazer com que Lauser, digo, Lauren, resolva seu assunto pendente. Mila, eu sinto muito por ter te metido nessa, mas caso ainda não percebeu, você é o assunto pendente e tem sido por dois anos. Estamos exaustas! Desculpa Lauren, alguém tinha que falar. Você pode me agradecer mais tarde por ter tirado a parte difícil do caminho, agora você resolve o resto.

Boa sorte, Lauser.

ps: Ally me obrigou a ser legal e não falar palavrões, mas você pode imaginar como seria o recado original.

ps²: Não tentem escapar, até porque não há como. Estamos com seus celulares. A geladeira tem comida o bastante para o final de semana e iremos buscar vocês no domingo a noite e espero que tenham resolvido essa merda ou ficarão presas até fazerem isso.

ps³: Arrumem a bagunça da noite passada, é uma ordem da Ally.

Dinah, Ally, Normani.
Amamos vocês (ou quase isso)."

Eu vou matar Dinah. Era tudo que eu conseguia pensar agora. Como ela pôde fazer isso comigo? Como elas concordaram em me foder desse jeito? Não tinham o direito!

"Lauren?" Camila chamou mais uma vez e não estava ficando menos impaciente. "Me responda!"

Eu não conseguia formar uma frase, as palavras ficaram presas na minha garganta. Eu não estava pronta para isso, de forma alguma!

Camila me olhava confusa, esperando alguma resposta. Eu não conseguiria... Então eu rasguei a folha em pedacinhos jogando-os no chão.

"Lauren o que está fazendo?!"

Eu voltei para o banheiro e tranquei a porta antes que Camila pudesse me impedir.

"Lauren! Que droga!"

Minha respiração estava acelerada, meu coração iria pular do meu peito. Minhas mãos estavam tremendo e tudo que consegui fazer foi me encostar na porta do banheiro e chorar.

Chorar. Eu nem mesmo sabia por que estava chorando, mas eu não conseguia evitar as lágrimas e cada segundo se tornava um pesadelo, ouvindo Camila bater furiosamente na porta.

"Abra a merda da porta, Lauren!" ela gritou.

Eu sentei no chão, levei as mãos aos ouvidos tentando isolar sua voz.

"Você não pode fazer isso..." sua voz estava falha. "Não faz isso comigo."

Eu abracei meus joelhos, apertando-os contra meu peito e chorei mais. Eu era tão estúpida. Covarde. Nada disso deveria estar acontecendo. Ela não deveria saber dessa maneira.


Fiquei na mesma posição por um bom tempo. Eu não ouvia mais batidas na porta ou qualquer movimento do outro lado. Minha cabeça ainda doía, assim como todo meu corpo. Chorar não me fez nenhum bem além de me deixar destruída e uma aparência horrível.

Quando tomei coragem me levantei e abri a porta. Camila não estava ali. Apenas corri para o quarto e me tranquei novamente, levei um tempo para me trocar e decidir o que fazer. Eu não estava pronta para contar a ela, mesmo depois de dois anos. Eu poderia fingir que não era nada e esperar o final de semana acabar.

Ignorar e mentir, eu faço isso muito bem.

Camila estava sentada no sofá da pequena sala, o silêncio era terrível. Eu comecei a pegar as roupas espalhadas pelo chão, algumas eram minhas e eu nem me lembro como vieram parar aqui.

"Lauren," Camila notou minha presença, mas eu não olhei para ela.

Eu peguei minha mala e fui jogando as roupas dentro.

"Eu vou arrumar aqui, você poderia lavar a louça, por favor." eu disse fechando a mala.

"O que-? Você não vai dizer nada? Do que Dinah estava falando?"

"Eu não quero falar sobre isso, Camila." consegui dizer com firmeza, ainda não me permiti olhá-la.

"Mas eu quero! Você me deve isso. Eu estou presa aqui por sua causa." Camila levantou e veio até mim. Eu tive que dar um passo para trás.

Seus olhos estavam vermelhos, ela estava chorando? Por quê? Quem se ferrou nessa história toda fui eu. Eu desviei o olhar, me recompondo.

"E eu sinto muito por isso. É só o final de semana e você está livre para ir. Você consegue esse sacrifício?" eu passei por ela com minha mala e fui até o quarto, mas ela me seguiu.

"Dinah disse que vamos ficar presas aqui!" ela me lembrou.

Mas não tinha como, eu iria embora em três dias, de um jeito ou de outro elas não poderiam me manter aqui.

"Não deveria acreditar em tudo que Dinah diz."

"Ela é minha melhor amiga, é claro que eu acredito." ela cruzou os braços e bloqueou a porta.

"Pra mim ela é um pé no saco que se mete nos problemas dos outros!" eu não queria alterar minha voz e começar uma briga, mas seria impossível.

Eu estava furiosa com Dinah por ter me colocado nessa situação.

"Ela tem sido mais amiga do que você, Lauren. Você não tem o direito de falar dela." Camila se aproximou.

Eu iria perder a cabeça.

"Dinah não me ignorou todo esse tempo sem sequer me dizer o que eu fiz de errado para merecer isso," ela continuou e eu tive que respirar fundo para não explodir. "Você fez."

Camila me olhava com raiva, e algo a mais que eu não conseguia decifrar. Ela me confundia tantas vezes no passado que cheguei a me perguntar se estava louca por achar que ela sentia o mesmo por mim.

"Você partiu meu coração." ela disse com a voz baixa, mas eu ouvi todas as palavras e foram como um soco no estômago.

"Você partiu o meu primeiro." retruquei.

Camila me olhou confusa. Eu nunca consegui dizer isso em voz alta, eu não sabia se me sentia aliviada ou arrependida.

"Como eu fiz isso, Lauren? Eu sempre estive do seu lado, eu nunca te abandonaria. E eu achei que você faria o mesmo por mim."

Dessa vez fiquei em silêncio. Como colocar em palavras como eu me senti quando ela me rejeitou naquela noite? Como eu fiquei destruída pela forma que ela me olhou depois do beijo?

Era isso que Dinah queria, Camila não iria deixar esse assunto de lado e eventualmente eu teria que falar tudo, mas eu poderia fazer melhor.

"Eu vou tomar um ar." eu disse passando por ela e não olhei para trás. Ela não se incomodou em me parar.

-

Eu deveria ter percebido que era uma armadilha logo quando Normani havia dito que Camila não apareceria. Ela ainda era muito amiga das meninas, é claro que ela estaria aqui. Eu me afastei delas aos poucos também só para evitar Camila.

O que diabos eu estava fazendo?

Era uma pergunta que meu subconsciente repetia sempre quando eu pensava demais, mas eu ignorava, claramente eu sabia o que estava fazendo, ou achava que sim.

"Mas que merda," eu arfei, parando de caminhar quando percebi que realmente não havia como escapar desse lugar.

A cabana era cercada por uma pequena floresta, havia apenas uma estrada que passava a poucos minutos dela, mas não tinha como sair a pé. E eu me arrependi depois de uma longa caminhada sem fim.

Ao voltar eu pensei em pegar um atalho pela floresta, o que foi uma ideia tão idiota quanto ter saído da cabana. Já era tarde, o sol estava queimando e eu provavelmente estava perdida.

O que diabos eu estava fazendo?!

Tentei não entrar em pânico enquanto caminhava sem rumo, ou era uma pequena trilha... De um jeito ou de outro eu continuei, por um lado bom eu comecei a ouvir o que parecia uma cachoeira. O lado ruim é que eu provavelmente estava longe da cabana, pois não escutamos nada de lá.

"Eu vou matar Dinah!" eu gritei furiosa.

Minha raiva por ela era o que me mantinha sã, era o que não me fazia querer chorar de novo. Era o que não me fazia entrar em pânico agora por estar perdida.

Eu tive certeza que era uma cachoeira quando encontrei a margem do rio, eu podia ouvir a água caindo com mais clareza e poucos metros estava o precipício que eu queria evitar.

"Lauren!" eu ouvi Camila chamar. Meu coração errou uma batida, eu olhei em volta assustada e não a vi.

Eu realmente estava ficando maluca por ouvir a voz dela assim tão perto. Porém ela já deve ter notado que demorei para voltar e deve estar surtando.

Eu ainda não estava pronta para admitir que fiz uma grande merda.

"Okay, eu vou sair daqui," eu respirei fundo, seguindo a margem.

"Lauren! Cadê você?!" Camila gritou, dessa vez eu tive certeza que não era coisa da minha cabeça, pois eu a vi brigando com alguns galhos alguns metros de mim.

"Eu juro que se você não aparecer- AI MEU DEUS UMA ARANHA!"

Camila entrou em pânico e saiu correndo. Ela nem mesmo havia me visto quando fui na direção dela.

"Camz!" eu gritei, mas era tarde demais. Estávamos no topo da cachoeira e Camila correu direto para o precipício.

"Camila cuidado!" eu quase consegui alcançá-la. O que ouvi foi o grito dela quando caiu e o som do seu corpo chocando com a água, quando olhei para baixo ela não havia voltado a superfície.

Eu não pensei duas vezes em pular também. Quando emergi ela ainda não havia aparecido e esse foi o momento certo que eu também entrei em pânico. Camila não sabia nadar, imagens de tudo que poderia ter dado errado quando ela caiu se passavam na minha cabeça enquanto eu a procurava.

"Camz!" eu gritei desesperada e mergulhei mais uma vez. Foi quando a vi, ela veio nadando até mim.

"Lauren, relaxa!" ela disse tentando me acalmar.

"Como-?" eu a olhei confusa. Ela estava bem, e conseguia se manter na superfície sem dificuldades.

"Você está bem?" ela perguntou, eu ainda estava pasma.

"Você sabe nadar." comentei o óbvio e ela riu.

Camila sorriu e deu de ombros. "Eu andei praticando."

"Okay," eu respirei fundo, olhando em volta, meu coração ainda estava acelerado. "Bom, então você não precisa de mim para te salvar."

"Lauren," ela segurou minha mão quando tentei sair.

Era difícil encarar ela, principalmente quando ela me olhava como se eu fosse seu mundo.

"Obrigada." Camila disse sorrindo calorosamente e eu a olhei ainda mais confusa.

Horas atrás estávamos discutindo e agora ela sorri e me olha dessa maneira. Eu provavelmente tinha batido minha cabeça em alguma pedra.

Não soube como reagir a não ser com indiferença.

"Eu acho melhor voltarmos, se escurecer não vamos conseguir encontrar o caminho de volta."

Seu sorriso sumiu e ela me olhou com indignação.

"Será que podemos esquecer aquele bilhete estúpido e seja qual for o problema que você tem comigo por um segundo?"

"Eu não tenho nenhum problema-"

"Seja o que for, Lauren, você não precisa me contar se não quiser, mas eu gostaria que não me evitasse mais. Queira ou não estamos presas aqui e eu não quero passar o final de semana indiferente com você."

Camila suspirou, parecendo criar coragem para falar. "Eu sinto sua falta."

Eu não soube o que dizer. Eu não havia me colocado no lugar dela, eu era uma egoísta mesmo. De certo modo eu acho que ela ainda está melhor sem mim, sem essas discussões, sem as indiferenças.

Se ela estava querendo uma trégua, eu poderia pelo menos tentar, eu estava exausta.

"Tudo bem." eu disse finalmente.

E ficamos em silêncio, ainda bem que havia o som da cachoeira ou seria muito estranho.

"Então, o que diabos você estava fazendo?" ela perguntou mudando de humor de repente. "Iria embora e me deixar para trás?"

"Não! Eu não iria te deixar-" eu disse rapidamente, então ela me encarou. "Bom, eu não tinha pensado assim-"

"Lauren!" Camila riu. "Eu não acredito que você iria me deixar aqui sozinha!"

"Desculpa! Eu não estava pensando direito. De qualquer maneira foi uma ideia estúpida." eu suspirei, mas ela continuou rindo e eu não pude evitar em rir também.

"Pois saiba que eu provavelmente faria o mesmo." ela jogou água em mim e se afastou.

Eu a olhei surpresa, mas não estava brava. Pela primeira vez desde que chegamos aqui eu me senti aliviada por não ter que evitar ela ou brigar.

"Eu disse que não estava pensando direito!" eu me defendi, jogando água nela, mas Camila nadou fugindo de mim.


Nós aproveitamos ao máximo daquela cachoeira antes de decidir voltar para cabana. Estava escurecendo e quase ficamos perdidas, de novo, mas Camila conseguiu encontrar o caminho de volta, me surpreendendo mais uma vez.

Depois de um banho e atacamos a comida que tinha na geladeira, ou pelo menos o bastante para não morrermos de fome amanhã. Encontramos bebidas também, eu não sei se isso foi armação de Dinah  porque eu achei que tínhamos acabado com tudo na noite passada.

"Eu juro que essa garota passou a me odiar desde o primeiro dia." Camila riu enquanto me contava algumas histórias dos seus dias na faculdade, que eu não sabia porque estava ignorando ela, é claro.

"Todas as coisas ruins que aconteciam eu tinha certeza que era culpa dela."

"Será, Camz? Você é um pouco desastrada, foi o que fez ela te odiar por bater o armário na cara dela, eu quero dizer, como você-"

"Foi um acidente!" ela se defendeu, mas não parava de rir. Poderia ser efeito da bebida também.

Estávamos sentadas no sofá, a tv estava ligada em um canal qualquer e já era tarde da noite.

"Chega de falar de mim, e quanto a você?" ela perguntou interessada.

"Eu? Nada de especial." eu tomei outro gole da bebida.

Camila me deu um leve tapa no ombro.

"Qual é, Laur. Eu sei que você não consegue simplesmente não fazer nada." ela sorriu, me encarando. "Você não está estudando, ou algo assim?"

O que eu realmente fiz de bom enquanto ignorava a existência dela ou qualquer sentimento que eu tinha?

"Uh, não exatamente." eu ri um pouco nervosa. "Eu ajudei meu pai em casa, como é só nós dois. Mas eu pretendo estudar, ainda não sei onde... ou o que fazer."

Na verdade eu sabia o que e onde. Minha mãe estava me esperando e iria me ajudar com a faculdade em LA. Mas falar isso estragaria o dia que tivemos e eu estava gostando muito de conversar com ela tão a vontade.

"Eu sinto muito, sobre seus pais terem se separado." ela disse e apertou minha mão levemente. "Foi uma droga saber por Dinah e não por você na época, mas-"

"Tudo bem, eles estão bem. Estamos bem." eu disse com meio sorriso, terminando minha bebida. "Você quer mais?"

Meus pais se separaram um ano depois que paramos de nos falar. Eu fiquei devastada, me afastei até das meninas, e queria principalmente continuar longe da Camila, eu sabia que ela iria querer estar do meu lado não importa o que tivesse acontecendo entre a gente e eu não saberia lidar com tudo isso junto.

Camila balançou a cabeça. "Não depois da noite passada, eu já estou intoxicada o bastante. Obrigada."

"Sobre o que conversamos? Na noite passada?" eu perguntei confusa. "Não me lembro muito bem."

Ela riu e deu de ombros. "Hm, eu também não sei. Eu acho que Ally exagerou nas bebidas."

"Menos para elas, aparentemente." eu revirei os olhos irritada.

"Relaxa, é só o final de semana, certo?" ela me olhou sorrindo de uma maneira que meu coração não aguentava de tanta felicidade.

"Certo, e então você está livre."

"Laur,"

Eu sorri, balançando minha cabeça, eu não poderia ceder e estragar tudo mais do que já estava ruim.

"Desculpa. Eu também não estou muito bem." disse com um suspiro. "E já é tarde, eu acho que deveríamos ir dormir-"

"Não, fica mais um pouco." ela choramingou, praticamente pulando no meu colo e me abraçou, deitou sua cabeça no meu ombro.

Eu ri enquanto tentava sair do seu abraço, ela parecia um bebê gigante.

"Desde quando ficou tão forte?" eu perguntei impressionada.

"Eu andei malhando." ela riu, se afastando para me olhar.

Levantei uma sobrancelha surpresa. E então a imagem de vê-la malhando me veio a cabeça. Péssima hora de pensar nela usando apenas um top deixando seu abdômen amostra, calça apertada, suada...

Se concentra, Lauren!

"B-bom pra você. Valeu a pena." eu disse nervosa enquanto ela me observava com sorriso nos lábios.

Como se a distância entre nossos rostos não estivesse me matando, eu poderia beijá-la agora, mas juntei todas as forças para quebrar o olhar com o dela.

"Vim aqui valeu a pena." ela disse mais seriamente.

"Eu também acho," consegui mentir. Não era totalmente uma mentira, eu estava feliz por ter visto ela depois de tanto tempo.

"Eu realmente senti sua falta, Laur." Camila acariciou minha nuca e eu senti meu corpo estremecer.

Eu não estava preparada para tê-la em meus braços dessa maneira, de sentir seu toque inocente como costumava fazer.

"Eu senti sua falta também." admiti, encarando-a.

"Então por que me evitou todo esse tempo?" ela perguntou séria. "Eu só quero que você me diga, Lauren."

Eu a olhei confusa, é claro que era uma armadilha e eu quase caí. Ela estava sendo muito legal para alguém que me atacou hoje de manhã. Eu balancei a cabeça com uma leve risada, tirando gentilmente os braços dela do meu pescoço e as pernas do meu colo para me levantar.

"Eu vou ir deitar, não estou nada bem," não estava mesmo.

"Lauren, espera."

"Eu vou ficar no quarto da Mani." disse sem olhar para ela. "Boa noite, Camila.

Não esperei ela dizer mais nada fui direto para o quarto, fechando a porta. Precisei de um minuto para respirar fundo e então me jogar na cama.

"Droga," murmurei afundando meu rosto no travesseiro.

Ela quase conseguiu o que queria, mas por um lado foi bom ter uma conversa descente com ela. Poder ouvir sua risada novamente, olhar para ela completamente apaixonada enquanto contava suas histórias.

Esse pequeno momento me deu forças para pensar que amanhã vai ser mais fácil e aguentar até as garotas vierem nos buscar.

-

Eu não conseguia dormir e poderia culpar tantas coisas agora. Minha cabeça estava uma bagunça, ainda pior foi ter escolhido dormir no quarto onde Camila dormiu na noite passada. Eu podia sentir o cheiro dela no travesseiro mesmo que muito pouco.

Eu queria poder sair correndo daqui, voltar para cachoeira. Na verdade eu nem deveria ter saído de lá, que inferno!

Meus pensamentos foram interrompidos por duas batidas na porta, então a mesma sendo aberta.

"Está acordada?" Camila perguntou quietamente.

"Não." cobri meu corpo com lençol e me virei de costas para ela.

"Lauren deixa de ser criança." ouvi seus passos se aproximando e então ela sentou na ponta da cama. "Posso dormir aqui?"

Ela estava louca?

"Eu não acho uma boa ideia-"

Camila nem mesmo me esperou terminar e deitou do meu lado, puxando meu lençol.

"Camila!"

"Eu não consigo dormir sozinha naquele quarto e definitivamente não vou dormir no sofá com ratos!" ela disse emburrada.

Olhei por cima do ombro enquanto se acomodava.

"Quem é que está sendo criança aqui huh?" eu puxei o lençol de volta. "E não tem ratos aqui."

"Você sabia que eu quase fui picada por uma aranha muito venenosa hoje e a culpa foi sua?!" ela disse irritada.

"O que isso tem haver com ratos ou você invadindo o meu espaço pessoal?" questionei confusa ainda de costas para ela.

"Eu não estou invadindo," ela continuou a se remexer. "Nós sempre dormimos juntas e nunca foi um problema."

Eu respirei fundo para manter a calma.

"Apenas- fique quieta." eu disse mau humorada.

"Tudo bem." ela murmurou.

Ficamos em silêncio por um tempo, mas eu estava inquieta demais. Ela estava certa e errada ao dizer que deitar com ela nunca foi um problema, muitas vezes não era, outras vezes era uma tortura pra mim estar tão perto e não poder estar com ela como eu queria.

Dormir ficou ainda pior, principalmente ouvindo a respiração acelerada dela no silêncio da noite.

Ela respirou fundo e então murmurou,

"Eu sei."

"O que?" respondi sem interesse e então a ficha caiu. Ela continuou.

"Eu sei do que Dinah estava falando no bilhete." Camila fez uma pausa. "Eu sei dos seus sentimentos por mim, Lauren."

Eu me virei para encará-la. Ela só podia estar de brincadeira comigo.

"Do que você está falando?"

Camila suspirou e sentou na cama.

"Lauren,"

Eu levantei furiosa, era tudo que eu consegui a sentir agora.

"Você sabe? Todo esse tempo, você sempre soube?!" eu perguntei irritada.

Camila assentiu quietamente e abaixou a cabeça. Como ela pôde? Eu passei o inferno mantendo tudo isso para mim e ela nunca disse nada. Eu nunca fui a melhor em esconder nada.

"Você é inacreditável, Camila." disse com uma risada. Eu provavelmente estava vermelha de raiva.

"Lauren, me deixa explicar-" ela tentou, mas era minha vez de explodir.

"Foram anos, Camila! Eu estive apaixonada por você por anos e não podia falar nada por medo de estragar tudo!"

"Eu sinto muito, mas eu também-"

"Você me rejeitou, sabe o que isso fez comigo? Eu fiquei acabada! Eu achei que tinha estragado tudo, eu não sabia como olhar na sua cara de novo!"

Camila se levantou, mas eu não queria ficar perto dela. Eu ainda estava tentando entender o quão idiota eu tenho sido.

"Lauren eu procurei você, mas você não queria falar comigo. Ignorava minhas ligações. Eu queria acertar tudo e você fugiu, como sempre!"

"Eu fiz o que achei melhor. Eu não iria passar por tudo de novo e ter você me tratando indiferente." Me expliquei e não me arrependo de ter feito isso.

"Não demorou muito para você voltar para Shawn também," comentei com desgosto.

Camila alterou a voz. "Apenas porque você me afastou, Lauren! Eu tentei, eu juro que tentei, mas você não me deu escolha a não ser desistir."

Eu fiquei em silêncio, não tinha uma outra explicação por ter agido como uma idiota. Ela ter voltado com Shawn era minha culpa, não tinha o direito de reclamar, mas ainda sim ela não deveria ter feito isso, ele era um idiota.

"Diz alguma coisa," ela implorou enquanto eu tentava desviar o olhar.