O rito - Background do bárbaro meio-orc Kilgrunt

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O estalar das folhas secas era audível a cada passo, ali sozinho na mata se sentia em casa, o cheiro de pinho e o farfalhar das árvores era agradável, tudo evocava aquilo que havia de mais primitivo em seu coração. Kilgrunt lâmina de sangue saíra na empreitada mais importante de sua vida, mostraria que era digno, mostraria que o clã de guerreiros ursos do qual fazia parte deveria se orgulhar dele! Após aquele dia ou viveria em honra ou morreria em desgraça, assim era a natureza, assim as coisas eram desde outrora e neste momento não estava somente em jogo sua vida, mas a honra de sua família adotiva e de seus ancestrais!

Kilgrunt nasceu da guerra em meio ao clamor audível do aço e nos gritos de horror a sua volta. Claro que um pequeno bebê não poderia perceber nada daquilo, mas os xamãs dizem que alguma energia dali emanou, alguma coisa o preencheu de algo que só descobriria mais tarde. A batalha era por ele, por ele e por sua mãe sendo mais exato, seu nascimento era em meio aos orcs esmaga-crânio, uma das mais violentas tribos da região. Seu pai era um bárbaro lâmina de sangue que provara a virilidade ao reproduzir com sua mãe, infelizmente aquilo não durara muito já que fora morto em seguida pela mesma.

Em seu ultimo suspiro Grumak o Viril contara a verdade para sua tribo, havia se deitado com uma orc, algo que chocara e deixara a todos admirados. Grumak morrera feliz, seu título agora seria eterno, mas sua tribo entrara em fúria, nenhum lâmina de sangue morria sem vingança e por isso invadiram o território dos orcs, neste quesito significava invadir um sistema de cavernas onde tais indivíduos moravam.

A invasão não ocorrera imediatamente, eram bárbaros porém sabiam se planejar, observaram a rotina de seus vizinhos hostis por meses, até entender qual seria o momento ideal para o ataque. Foi ao meio dia, no momento do nascimento de Kilgrunt que a invasão aconteceu. Quando as forças lâmina de sangue invadiram os aposentos de sua mãe a surpresa e a alegria preencheu seus corações, afinal Grumak o Viril havia deixado sua semente! Em seus últimos momentos Triloa (mãe de Kilgrunt) disse: "Chamar Kilgrunt" sendo atingida na cabeça por um machado em seguida.

Havia algo que qualquer lâmina de sangue também nunca faria: abandonar um dos seus ou mesmo desrespeitar o nome dado por uma mãe moribunda. Meio-orc ou não Kilgrunt era lâmina de sangue, descendia de Grumak e em honra ao seu pai a tribo o adotou. Entre os guerreiros ursos não havia distinção entre bem ou mal nascido, havia a honra, a batalha, a fúria e a largura do braço, quem conseguisse a melhor combinação entre essas coisas seria respeitado.

No fim das contas o meio-orc cresceu sob constante treinamento, entre aqueles da sua idade certamente era o mais forte, porém respeito nunca obteve, não por suas raízes, nesta tribo para se tornar um homem era necessário passar por um rito de passagem. Foi quando atingiu os 14 anos que o mandaram realizar o feito, retornando vivo seria um membro da tribo, não retornando todos saberiam que não era capaz.

Andava devagar entre as árvores e observava os sinais, ali estava, eram fezes frescas, sabia pois as tocara e estavam quentes. Revirou o monte, pêlos, escamas, ossos, era um urso. Abandonou seu machado e duas machadinhas e passou a andar com mais cautela, certamente o animal não estava longe, se esgueirou devagar através das árvores e escutou o barulho de água, algum riacho passava por ali, o seguiu na esperança de que o animal estivesse lá.

Para evitar chamar atenção buscara andar contra o vento e pisar nas pedras, seu coração acelerara com a expectativa e seu sangue pulsava forte, a respiração calma contrariava seus ânimos, pouco dando mostra do que realmente acontecia com seu corpo. Após alguns momentos de tensão e furtividade finalmente seu alvo estava à sua visão. Era um urso pardo grande, estava calmo à beira do córrego bebendo água, pelo tamanho parecia ser um macho, provavelmente controlava aquele território, era isso que buscava.

Apanhou seu amuleto em forma de urso e orou para o totem de sua tribo: "Que no sangue de teu irmão eu me torne digno de sua força, e que caso não seja que me torne parte de sua carne".

Através das pedras se esgueirou em direção ao seu alvo, para qualquer pessoa comum aquilo seria um suicídio, mas para Kilgrunt era a diferença entre ser um homem e um menino, entre um guerreiro e um covarde, aquilo era viver ou morrer. Se posicionou em um ponto mais alto e quando esteva prestes a saltar o animal virou e o viu ali, a boca escancarada e cheia de dentes do urso se abriu em uma ameaça clara, mas antes que o mesmo o pudesse perseguir concluiu a manobra e pulou sobre suas costas.

Agarrado ao pescoço do animal a verdadeira provação começou, girando e pulando o animal oferecia uma resistência incrível, cravou suas mãos no couro do bicho e consegui machucá-lo, porém ainda não o suficiente, o sangue do animal empapara o pelo e a determinação em viver do mesmo aumentara, ficando de pé o urso bateu as costas e Kilgrunt contra uma pedra, golpe que quase lhe custara uma costela, sentindo o perigo de aquilo se repetir o bárbaro apoiado pela pedra empurrou seu adversário tenaz com ambas as pernas e o soltou, fazendo o bicho cair em pé a alguns passos.

Agora livre o urso se posicionara de frente para seu agressor e o encarara, Kilgrunt sabia que apenas um deles sairia vivo dali, porém seu olhar não vacilara. Naquele instante de contemplação sentiu seu peito queimar e a sensação de excitação inundar suas veias, naquele momento gritou a plenos pulmões: "VENHA FERA!" e o urso arrematou em sua direção. A velocidade do animal o surpreendera, uma fera daquele tamanho não deveria ser tão ágil, porém não o suficiente para conservar sua vida, mesmo que por pouco. O animal desferira em Kilgrunt um golpe com as garras, golpe este que esquivou no ultimo segundo, ou quase esquivara, as garras de 13cm do animal penetraram de raspão em sua carne, fazendo quatro grandes cortes em seu peito e derramando seu sangue pelo corpo.

Sem pensar Kilgrunt desferiu em resposta um soco com toda a força que encontrara na altura do olho esquerdo do urso, o golpe fora tão bem sucedido que estourara o olho do animal o enfurecendo ainda mais! Uma dança aterrorizante começou garra contra soco, peso contra agilidade e mordida contra, contra o que mesmo? Contra mordida ora essa! Kilgrunt aproveitara cada brecha, cada oportunidade para desferir golpe após golpe no animal, não morreria ali, não deixaria aquela fera levar sua honra, seria DIGNO!

Mais uma garra o acertara, desta vez ao lado de sua cabeça e mais sangue seu escorria, naquele momento no entanto a dor já não existia, vida e morte nada significavam, tudo o que importava era a vitória sobre seu adversário! Com o rosto sangrando percebeu que era agora o momento certo, passou a mão direita sobre o sangue fresco e o arremessou no único olho do animal, o deixando momentaneamente cego e então em um movimento descuidado colocou toda a força que tinha em seu corpo naquele ultimo soco.

Quando o punho atingiu o crânio do animal o impacto foi tamanho que sentiu os ossos de todo o braço vibrarem, certamente fraturara a mão no processo, porém junto com ela fraturara o crânio do urso também e o animal tombou como Golias aos pés de Davi. Em pé ali Kilgrunt ficou observando o que fez, a fera gigantesca morta, boquiaberta ali, por fim buscou seu machado e suas machadinhas e começou a esfolar o bicho.

Após ter passado a noite na floresta Kilgrunt voltou à tribo, sujo de sangue e vestindo a pele do animal que matou, o crânio do urso serviria-lhe agora de elmo e seu couro o recobria como uma manta. Todos o receberam com honra e sua volta foi ovacionada, a semente de Grumak dera resultado e agora possuia seu próprio nome: Kilgrunt lâmina de sangue.

Nos anos que se passaram infelizmente ele não foi capaz de ativar sua comunhão com o espírito totêmico do animal, então quando fez 16 anos resolveu viajar e abandonar sua tribo por um período até que aprendesse o significado de seu totem, até que ele mesmo se considerasse um bárbaro, seu destino neste momento já estava traçado: era a cidade do Portal de Baldur!

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⏰ Última atualização: Sep 18, 2017 ⏰

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