A Batalha das Conchas

143 35 51
                                    

Houve um tempo em que um lugar chamado Ilha das Conchas chamou a atenção dos dois maiores e mais poderosos reinos de Arsênia, Argon e Hélion. Argon, ao sul do mar de Urânia, era uma terra de clima quente, abrigava homens de sangue igualmente quente. Estes eram amantes da guerra e do combate. Quando não tinham com quem lutar, não relutavam em lutar entre si, para um Argoniano morrer em um local diferente de uma batalha era morrer de forma errada. Hélion, que ficava ao norte do mar de Urânia, um lugar de terras geladas e que abrigava homens de coração tão frio como ela mesma. Ao contrário dos Argonianos, não amavam a guerra, eram obstinados por poder e controle, porém, o único meio que tinham para alcançar seus fins era a guerra. Os dois reinos se odiavam tanto que sequer se comunicavam, nem mesmo para proferir ofensas ou ameaças.

Não se sabe ao certo quais eram os motivos que voltavam os olhos dos dois reinos para a Ilha das conchas, não era o lugar mais belo do mundo, tampouco era dotado de grandes riquezas e nem mesmo serviria para abrigar um forte ou um posto avançado.

Mesmo assim, ambos os reinos almejavam dominar a ilha. Os sábios da época diziam que provavelmente o motivo pelo qual os reinos queriam conquista-la era simples, orgulho. Quem estabelecesse domínio sob o lugar seria superior ao outro, dado o fato de que a Ilha das Conchas era o último território de Arsênia que ainda não havia sido conquistado por nenhum deles.

Acontece que a Ilha das Conchas não era totalmente desabitada. Ela abrigava uma pequena vila, cuja população mal chegava a mil pessoas. Eram homens e mulheres que viviam da pesca no mar Urânia, tinham a pele castigada pelo sol e os olhos vermelhos por causa da maresia. Não eram ávidos por combate tampouco ansiavam por poder, preferiam se sentar nas varandas de suas casas feitas de barro e decoradas com inúmeras conchinhas encontradas na praia, observar as estrelas e as luas de Arsênia. O povo da concha, como eram conhecidos, era famoso por sua inteligência nos campos da astronomia, matemática e cartografia, além disso, eram ótimos navegadores, sabiam como tirar o máximo proveito que o vento podia oferecer. Observando o movimento dos astros, eram capazes de prever acontecimentos diversos, desde o melhor período para pesca até uma catástrofe que se aproximava.

Alguns se questionavam porque o povo das conchas não usava sua inteligência para a guerra. O motivo era puro e simples, eles não tinham a mínima vontade de se desgastar em batalhas por gloria ou poder, preferiam comer peixe assado em uma fogueira sob a luz das estrelas.

O povo das conchas não tinha lealdade a nenhum rei, regente ou governante. Para eles, todas as pessoas eram igualmente capazes de definir seus próprios destinos, desde que pudessem lidar com as consequências que isso implicava e não interferissem na liberdade de outras pessoas. Contudo, entre eles, havia uma pessoa cuja qual era considerada sua líder. Seu nome era Paládia e o respeito que tinham por ela não era advindo de sua força, de suas posses ou de um berço nobre, mas sim de sua inteligência e carisma.

Paládia passava horas observando o mar e as estrelas. Conseguia ler tão bem o céu que muitos acreditavam que era dotada de poderes mágicos. No entanto, tudo se resumia a inteligência dela. Certa vez, observando os movimentos do céu, do vento e das nuvens, percebeu que algo grandioso e terrível estava para acontecer.

Enquanto Paládia observava os céus, os reis de Argon e Hélion, cada vez mais, voltavam seus olhos para o mar, para a mesma direção, a pequena Ilha das conchas. Orgulho e sede de poder contaminavam os corações dos dois povos, nutrindo ainda mais o ódio que um sentia pelo outro. Ambos já haviam reunido seus exércitos e preparado suas frotas para avançar em direção à Ilha das Conchas.

Paládia soube dessas notícias por meio de mercadores que visitavam a ilha frequentemente para trocar mercadorias. Eles lhe falaram sobre os desejos nefastos dos reis de Argon e Hélion, sobre os enormes exércitos que estavam reunidos, aguardando apenas o comando para partir em combate. Paládia soube então, que em breve a Ilha das conchas se tornaria o cenário de uma das batalhas mais sangrentas já vistas. Ela sabia que esse combate era inevitável, que seria impossível deter a ganância que cegava os reis ansiosos pela conquista de um novo território.

A Batalha das ConchasWhere stories live. Discover now