Capítulo 27 - O Kazekage

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"As raízes de Sunagakure vem de suas tribos. E essas tribos valorizam laços sanguíneos. " – Foi uma das frases que Gaara teve de ouvir hoje e eu ainda estava em choque.

  Gaara me contou sobre sua reunião de hoje cedo, cuja a qual ele imaginara ser de qualquer assunto e não sobre uma cobrança dessas. Meu irmão parecia preocupado, era o Kazekage desde novo, cuidava de uma vila inteira, mas não entendia quando o assunto era sentimentos. Tenho plena convicção de que Gaara nunca havia beijado alguma garota nessa vida, e creio que nem pensava em fazer isso tão cedo.

  Suna é uma vila com valores e manias antigas. Nosso pai fora Kazekage, Gaara é o Kazekage agora e a vila está em paz. Tanto o conselho como os Daymious querem que essa paz continue e acham que mantendo a linhagem da nossa família no posto de Kazekage faria com que Suna continuasse a ser o que é agora.

  Sim, é algo idiota, mas temos essas coisas ainda aqui. Não somos iguais a Konoha ou a algumas outras vilas. Quando sofremos a influência de Orochimaru, no passado, e atacamos Konoha, o nosso povo teve a plena convicção que manter a nossa linhagem no posto do Kazekage seria o melhor. Tudo bem que Gaara é um excelente comandante e não temos do que nos queixar. Mas assim, tão rápido? Eu achava demais com o meu irmão.

  Kankuro, como irmão do meio devia casar-se primeiro, como manda os valores, mas tirou o seu da reta, não só com suas pretendentes, mas pelo o que Gaara havia me dito, ele já havia conversado com o conselho de Suna sobre isso, e não se achava no direito de casar antes do próprio Kazekage. Gaara poderia não entender, mas eu conhecia muito bem a lábia de Kankuro. Meu irmão mais novo era um Kazekage maravilhoso, mas extremamente literal. E Kankuro não perdoava Gaara por ser tão sucinto para entender certas coisas.

  Pelo o que Gaara dizia, já havia até sido escolhida a sua futura esposa, o que eu achava ultrajante, mas ele estava disposto a isso. Eu acho que Gaara tratava essa situação como uma missão mais do que como algo sério.

  Eu estava chocada com o fato de Gaara ter que passar por isso por minha causa, mesmo ele não vendo por esse lado, mesmo ele falando que entende sobre os motivos, mas eu, sinceramente, eu mesma não entendia e não queria que meu irmão passasse por um casamento arranjado.

- Você irá mesmo aceitar isso? – Perguntei perplexa a Gaara, aquilo não descia pela minha garganta.

- Acho que não é tão ruim assim, Temari. – Gaara dizia encarando a geladeira com os braços cruzados diante de seu corpo.

- Casamento arranjado? É sério isso? – Continuei mexendo a colher de pau na panela.

- O meu casamento é com Suna. – Eu olhava para Gaara que ainda estava na mesma posição.

- Você sabe que isso tudo é por conta de meu casamento, né? – Perguntei.

- Não se culpe, você precisa ser feliz. – Gaara se virou a mim. – Eu não posso querer menos para você do que sua felicidade. Você é noiva de Shikamaru, logo será uma Nara e eu tenho orgulho do que você se tornou, Temari.

  Larguei tudo o que fazia e abracei Gaara fortemente. Meu irmão demorou a me retribuir o abraço, com certeza ele levou um susto, mas eu estava emocionada demais para pensar em como ele agiria. Eu só queria abraça-lo e deixar as lágrimas de meus olhos rolarem até caírem nos ombros do ruivo.

  Eu amo meus irmãos, eu os amo mais que tudo. Eles são o meu alicerce, são a minha família, são as minhas forças e os motivos pelos quais eu lutei todos os dias da minha vida até agora. Tenho certeza que amava Shikamaru, amava aquele preguiçoso de um jeito que eu nunca pensei que amaria algum homem nessa vida. Mas Gaara e Kankuro eram mais que homens a serem amados por mim, eles eram partes de mim, eu os queria por perto assim como queria o meu noivo.

- Temari... – Gaara disse assustado quando me ouviu chorando. – O que há com você?

- Eu amo você Gaara, você e Kankuro. – Ele enxugava minhas lágrimas pesadas e eu continuava a falar. – Eu quero o melhor para vocês, não quero que se casem por minha causa, eu os amo demais e não tenho o poder para...

- Temari... – Gaara me cortou, sério. – Você não pode chorar por causa disso.

- Como não vou chorar? – Perguntei aflita.

- Eu irei fazer o que tem que ser feito e você também, assim como Kankuro. – Gaara ajeitava uma parte da minha franja que estava grudada em minha bochecha molhada devido ao choro. – Ele não pode se casar, não agora. Kankuro é da divisão Anti-Terrorista, ele não precisa de um casamento agora.

  Eu entendia o que Gaara estava fazendo, ele queria fingir que não tinha outro jeito.

- Gaara, o problema não é você casar e sim alguém ter que casar só por caprichos políticos. – Falei séria mesmo com o rosto ainda molhado. – Eu não quero isso para os meus irmãos.

- Entendo... – Meu irmão voltou a cruzar os braços.

- Quem não está entendendo muito o porquê de você estar aceitando tudo isso, sou eu. – Falei voltando a me concentrar no jantar. – Sinceramente, acho que não quero mais falar sobre isso e acho que você deve conversar com Kankuro também.

- Falarei com ele após o jantar, tudo bem? – O ruivo respondeu e eu assenti.

- Então arrume as coisas para o jantar, por favor e chame Kankuro, ele está em seu quarto, deve estar arrumando suas marionetes. – Pedi limpando as lágrimas que ainda estavam perdidas sobre meu rosto.

  O mais novo fez o que pedi sem falar nada. Comemos e não cogitamos mais sobre aquele assunto, eu preferi assim. Não aguentava pensar que tudo isso só foi colocado em pauta por conta do meu casamento.

  Após o jantar, Kankuro lavou a louça e assim que caminhei para o meu quarto, ouvi Gaara chamando o moreno para conversarem. Eu parei na porta do meu quarto, querendo ouvir o que eles falavam, mas achei que isso só iria me irritar mais. Então, fui ao meu banheiro e tomei um banho demorado.

  Coloquei uma roupa confortável e peguei a carta que Shikamaru havia me mandado mais cedo, falando sobre como estavam as preparações em Konoha e de nossa casa. Eu sorria para as letras pequenas e inclinadas no pergaminho, parecia que eu via como Shikamaru escrevia, lembrando de todas as vezes em que trabalhávamos juntos e o modo como ele sempre colocava os braços atrás do pescoço relendo tudo o que havia escrito.

  Eu estava ansiosa, feliz, agoniada e triste, tudo ao mesmo tempo. Não sei se isso era possível, mas era como eu realmente me sentia. Resolvi pegar um pedaço de papel e fui de encontro com a mesa que tinha em meu quarto, comecei a escrever para meu futuro noivo, não só como resposta a sua carta, mas também desabafando sobre tudo aquilo que Suna futuramente viveria. Eu estava nervosa, precisava falar com ele de alguma maneira, precisava desabafar sem pegar o meu leque e quebrar todas as casas que haviam pela vizinhança.

  A realidade é que eu precisava de um abraço de Shikamaru, um abraço relaxado, um abraço preguiçoso, um simples abraço dele.

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