A demônia da minha sogra!

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Regina encostou-se na pia olhando para o chão. Sentiu o primeiro choque de realidade de seu relacionamento com Emma. Percebeu que teria que enfrentar vários obstáculos e que este era um mundo novo para ambas. Apesar de ter visto suas mães vencendo tudo sem medo, ela não sabia como era estar na situação de ter que esconder que ama alguém pela intolerância de outras pessoas.
O sorriso que antes era alegre, perdeu espaço para um olhar entristecido e cheio de reflexões.
- Você tem vergonha de mim? - perguntou com um nó na garganta.
Emma sentiu-se mal por ter passado essa impressão a Regina.
- NÃO! Jamais! Eu não tenho vergonha de você. Eu te adoro, Regina… Mas você não sabe como é a minha mãe, ela é capaz de… Sei lá, de nos matar e eu não quero que seja tão impactante, entende? Quero que ela saiba com calma… - explicou Emma tentando fazer com que a morena não se sentisse tão mal.
Regina soltou o ar dos pulmões.
- É tão ruim não ter liberdade para demonstrar carinho a uma pessoa que você gosta, sem ter que se preocupar com que os outros pensam… - disse Regina ainda triste.
Emma aproximou-se e a abraçou pela cintura olhando-a de forma doce.
- Por favor, Regi… - disse Emma com voz carinhosa encostando o seu rosto no da morena.
Regina sentiu-se totalmente desarmada quando ouviu aquela voz e viu aquele olhar terno, não poderia dizer não à aquele ser que ganhou espaço em seu coração em tão pouco tempo e de forma avassaladora. Sorriu e retribuiu o abraço.
- Tudo bem, Emma… Mas eu não quero ter que esconder isso a vida toda. - disse Regina.
Emma deu um selinho em Regina com um sorriso no rosto.
- Tem toda razão, obrigada por me entender… - disse Emma.
- Henry me ligou de novo. - disse Regina mudando de assunto.
- Sério? Você deve morrer de saudades dele, não é? - perguntou Emma.
- Eu pedi para que ele conversasse comigo pelo whatsapp quando o pai dele não estiver por perto e agora me sinto mais tranquila. - disse Regina suspirando.
- Eu queria entender o porquê de você não poder estar com o seu filho… - disse Emma.
- Eu prometo que te contarei, em breve, toda a minha história. É um pouco longa… - disse Regina. - Fico tão apreensiva de não saber o que está acontecendo com ele, de não poder estar com ele, de não poder educá-lo…
Emma olhou para o rosto de Regina com um sorriso bobo e foi como se o tempo tivesse parado ali.
- Por que está me olhando assim? - perguntou Regina sem desviar o olhar de Emma.
Emma suspirou.
É que eu acho tão lindo esse seu lado maternal, me encanta tanto! - disse Emma acariciando o rosto de Regina.
- Eu o amo tanto… - disse Regina fechando os olhos para lembrar-se do rosto do filho.
- Eu sei… - disse Emma abraçando Regina novamente.
- Eu amo quando você me olha assim… - disse Regina dando um beijo demorado no rosto de Emma.
O sabor do pecado estava em sua melhor fase. As vendas aumentaram desde que Regina está em sua gestão. Com o plano de fidelidade, que havia elaborado para a empresa, a cada trezentos reais em compras o cliente recebia um desconto de vinte por cento na próxima vez que escolhesse um produto e isso fez com que os antigos voltassem com mais frequência e consequentemente, houve o ganho de novos clientes.
Regina esperou por um momento em que a loja estivesse com menos movimento para que pudesse parabenizar à todos. Estava bastante feliz e satisfeita com os resultados…
- O que são essas coisas? - questionou Killian em relação aos objetos que Regina estava em mãos.
Estava com um sorriso no rosto.
- É um presente para todos vocês pelo esforço e comprometimento. Nós aumentamos as vendas em vinte nove por cento neste último semestre e gostaria muito de recompensá-los por isso… - disse Regina com boas intenções.
Fiona imitava Regina ao falar como forma de desdém e isso a estava irritando.
- E isso é Ferrero Rocher? - perguntou Zelena com um brilho no olhar.
- Sim! Eu sei que aqui todos adoram chocolate e então, não há forma melhor para agradá-los… - disse Regina entregando uma caixinha dourada, enfeitada com um laço marrom e oito chocolates em cada embalagem.
- Todo mundo vírgula, eu tenho intolerância a lactose! - disse Fiona não perdendo a oportunidade de alfinetar.
Regina soltou o ar dos pulmões e a fitou.
- Como gestora deveria pesquisar antes de fazer algo… Como poderia saber se o presente era viável se não se deu ao trabalho de investigar antes? - perguntou Fiona na intenção de perturbar Regina.
- Sério que você tem intolerância? Então mandarei fazer uma versão especialmente para você! - disse Regina com tom de voz irônico.
- Claro, é muito fácil querer concertar as cagadas depois de feitas! - retrucou Fiona.
Regina prendeu a respiração para não ter que ofendê-la naquele instante.
- Não quer? Então fique sem! - disse Regina dando às costas para a mulher.
Fiona rangeu os dentes.
- A culpa foi minha, eu que a ajudei a escolher o presente! - disse Emma defendendo Regina.
Regina sorriu para Emma.
- Ah, Regina… Isso é mais mérito seu do que nosso. Depois que você está aqui, tudo melhorou. - reconheceu Zelena.
- Nem é pra tanto! - disse Fiona cruzando os braços.
Regina estava bufando com as provocações de Fiona, perguntando-se o que havia feito para aquela criatura para sentir tanto ódio.
- Vinte nove por cento? É claro que é muito! - disse Killian rebatendo Fiona.
- Eu faria melhor, mas Gold preferiu escolher a aman… A queridinha dele! - disse Fiona corrigindo a primeira informação.
Emma a fitou.
- A o quê? - perguntou Regina irritada com a petulância de Fiona.
- Queridinha… - repetiu Fiona.
- Você ia dizer amante, só não completou a frase por não ter coragem! - disse Regina aumentado o tom de voz.
Fiona sentiu-se desafiada e falou sem pensar.
- A-M-A-N-T-E! - disse enfatizando cada letra daquela palavra.
Regina ficou possessa, sentiu vontade de bater na cara dela naquele momento, mas não poderia rebaixar-se a tanto e nem poderia correr o risco de receber um processo.
- Acha que vai me difamar com acusações infundadas e ficará por isso mesmo? Me aguarde! - disse Regina subindo as escadas apressadamente até a sua sala.
- Você é louca? Como pôde falar assim com ela? - perguntou Zelena indignada com tudo que havia ocorrido ali.
- Não se meta! - disse Fiona bufando.
Killian aproximou-se do ouvido de Fiona com uma cara de deboche.
- Agora você vai rodar!
Fiona deu de ombros, sentiu-se com a alma lavada por ter respondido Regina daquela maneira.
Emma preocupou-se com o que Regina poderia fazer e correu atrás dela para saber o que estava pensando. A encontrou digitando um documento e quase afundando os dedos nas teclas do computador.
- Não vai demiti-la, não é? - perguntou Emma encostando o seu queixo na cabeça de Regina, envolvendo-a com um abraço por trás.
- Está defendendo ela? - perguntou sem virar-se.
- Claro que não! Ela foi ridícula! - disse Emma acariciando a região do tórax de Regina, fazendo-a cerrar os olhos.
- Tá parecendo que quer defendê-la! - repetiu Regina com a voz mais calma devido ao toque de Emma.
Emma respirou fundo.
- Estou defendendo você! - explicou.
- Ela vai levar uma suspensão… - disse Regina terminando de formalizar o documento.
Emma encostou o peito nas costas de Regina para senti-la mais perto.
- Está tão tensa… - analisou.
- Ela está testando todo o meu limite da paciência que não tenho! - disse Regina irritada.
- Calma… Ela só tem inveja de você! - disse Emma.
- Meu amor, eu estou por aqui com essa mulher! - disse Regina indicando a altura de sua testa.
- Relaxa… - disse Emma apertando os ombros de Regina, fazendo-a descontrair.
Regina concentrou-se na massagem por um instante.
- Que mãos fortes… - disse Regina sentindo o seu corpo relaxar.
Emma riu.
- Está melhor? - perguntou.
- Estou… Mas ainda quero mandá-la tomar no cu! - disse Regina alterando o humor novamente.
- Ah, eu também mandaria no seu lugar, mas… Lá fora. - disse Emma ainda massageando Regina.
- Nossa…
- Te machuquei? - perguntou Emma parando por um instante.
- Não… Está muito bom! - disse Regina fechando os olhos.
Emma sorriu e finalizou a massagem. Regina virou-se em direção a Emma enquanto os papéis da suspensão de Fiona eram impressos.
- Só você pra me acalmar assim… - disse Regina abraçando a cintura de Emma sem levantar-se, encostando a cabeça em seu abdômen.
Emma envolveu o braço em Regina, acolhendo-a.
- Sempre que quiser eu estarei aqui... - disse Emma sorrindo.
Regina desceu junto com Emma e chamou Fiona para conversar em particular. A entregou a sansão disciplinar com gosto.
- Bom que eu descanso três dias… - disse Fiona parecendo não importar-se.
- Claro… E não receberá por três dias, perderá quinze por cento na comissão... Perderá o vale-transporte e alimentação também! - disse Regina com um sorriso de lado.
Fiona deu de ombros e assinou o papel.
- Se queria tanto esse cargo, era só ter se esforçado mais! – provocou.
Fiona sentou-se atingida, cerrou o punho, mas conteve-se para não arrumar um problema maior.
- Tchau!
- Cuidado, se continuar assim, você ganhará a JC... - provocou Regina fitando-a.
- JC? - perguntou.
- Justa causa. E emprego não está nada fácil! - disse Regina arqueando uma sobrancelha.
Fiona fingiu não ligar e deus às costas.
Regina não poderia ter agido de melhor forma. Só conseguia pensar no que poderia levar uma pessoa a sentir-se bem tentando diminuir o mérito de outra.
Emma levou Regina para sua casa. Mary Margareth estava curiosa em conhecê-la, pois a filha não parava de falar dela, do quanto Regina a ajudou e que era uma pessoa maravilhosa… E dizia com propriedade, com um sorriso involuntário e com olhos brilhando.
Regina estava um pouco tensa em conhecer a sogra que tinha fama de intolerante e nervosa. Emma havia falado bastante da mãe antes de chegarem em casa. Estavam todas presentes, Lily, Kristin, Lucy e Mary, sentadas á mesa farta retangular de mármore. Regina observava a cara pálida de Mary e não conteve-se em comentar.
- Você está doente? - perguntou inocentemente.
Mary fechou a cara e mexeu no cabelo tentando entender porque Regina estava perguntando aquilo.
- Não, só estou sem maquiagem! - respondeu sem graça.
Kristin gargalhou enquanto Emma segurou o riso.
- Eu falei pra você que sua cara estava pálida, mas você não me dá ouvidos! - disse Kristin.
- Ah, cale a boca mulher! - disse Mary irritada.
- Desculpe, eu não deveria ter falado nada! - disse Regina envergonhada por ter dito aquilo no primeiro encontro com a sogra.
Emma tossiu tentando conter o riso.
- A minha tia está largada, deveria se cuidar mais e arrumar um novo marido! - disse Lily.
- Concordo! - disse Kristin.
Mary revirou os olhos.
- Vá cuidar do seu! Fica enfurnada dentro da minha casa o tempo todo e quer falar sobre marido? Vá se lascar, Kristin! - disse Marry nervosa.
- Hum… Tá achando ruim? Eu vou embora! - disse Kristin virando o rosto e cruzando os braços.
- Já vai tarde! - disse Mary.
- Mãe! Comporte-se! - repreendeu Emma. - Tia, não ligue pra ela, está precisando de um psiquiatra. Ela ficou assim depois que a TV caiu na em sua cabeça … Acho que perdeu alguns neurônios!
Regina olhou para Emma desacreditada com aquela história.
- Me respeita, garota! Tá achando que está falando com as suas pariceiras?
- Parece minha vó falando! - disse Lily rindo da expressão da tia.
- Está tão velha e ranzinza quanto ela! - disse Kristin desdenhando.
- Ah, falou a novinha sensacional! - disse Mary.
Regina tentava segurar o riso.
- Quanto amor… - sussurrou Regina para Emma.
- Você não sabe o que eu passo… - sussurrou Emma.
Kristin pegou uma batata com as mãos e Mary bravejou.
- Não pegue com a mão, está cheia de bactérias!
- ESTÁ INSINUANDO QUE EU SOU PORCA? - gritou Kristin revoltada com a irmã.
- Ah, não precisa nem insinuar! - retrucou Mary.
Regina não conseguiu conter-se e soltou uma gargalhada.
- Nossa, vocês só me passam vergonha! Não se comportam quando estão conhecendo uma pessoa! - disse Emma irritada com a atitude da mãe.
- Relaxa, estou adorando! - disse Regina tranquilizando a loira.
- Mãe, a minha amiga Clara tem dois papais! - disse Lucy achando a situação inusitada.
- Dois pais? Gays? - perguntou Kristin.
- Quem é essa garota? Afaste-se dela! É por isso que aquele juiz autorizou tratar essa viadagem! Oh povinho sem noção! Onde já se viu criança conviver com isso? - disse Mary.
Emma fitou a namorada no mesmo instante. Regina sentiu o seu sangue ferver ao ouvir aquilo e não poderia deixar em branco.
- Como? Qual é o problema de um casal homoafetivo ter filhos? - perguntou Regina com o semblante sério.
- Você ainda pergunta? Imagine uma criança perceber que tem dois pais ou duas mães e ficar questionando a falta da outra figura? Imagine os amigos dessa criança? - perguntou Mary.
Lily suou frio, sabia que viria confusão.
- Eu não tenho nada contra, mas também nada a favor… Cada um com sua vida e eu com a minha! - disse Kristin retirando-se da conversa.
- Criança é inocente! Ela sabe reconhecer o que é amor… O preconceito vem dos pais alienados que nem ao menos procuram informarem-se do assunto antes de sair disseminando esse discurssinho de ódio! - disse Regina irritada.
- Você fala isso porque não é com você! É muito fácil olhar de fora e defender. Imagine um filho seu sendo gay? Isso pra mim é a pior ofensa! - disse Mary.
- E por acaso você já viveu essa situação? Se um filho meu fosse gay, não deixaria de ser meu filho e respeitaria sim a condição sexual dele! - disse Regina.
- Mãe, pare com essa idiotice! - disse Emma.
- Eu fico possessa em ver isso! Pra mim não passa de uma safadeza sem fim! - disse Mary.
- Você não pode falar sobre algo que não sabe! Não há argumentos em suas palavras, vejo apenas ódio! - disse Regina sentindo a sua veia da testar saltar.
- E o que você sabe sobre isso? - perguntou Mary irritada.
Emma soltou o ar dos pulmões.
- Eu sou filha de um casal… - disse Regina sendo interrompida por Emma.
- Regina, acho melhor irmos dar uma volta, quando minha mãe estiver mais calma, ela se comportará como um ser humano civilizado! - disse Emma levantando-se.
- Você está muito abusada hoje, Emma Swan! Não me trate assim! - disse Mary nervosa.
- Gente, eu não queria causar essa briga toda… - disse Lucy.
- Vamos procurar a mamãe, Lucy… - disse Lily tentando tirar a menina de lá.
Despediu-se de Regina levou a irmã.
- É difícil trazer uma pessoa aqui, você não sabe como tratá-la sem arrumar confusão! Respeite a opinião dos outros e não tente impor a sua! - disse Emma puxando Regina pelas mãos saindo de casa.
- Emma, me desculpe… Eu não queria discutir com a sua mãe desse jeito. Nossa… Que vergonha! - disse Regina com receio.
- Não é culpa sua… Eu te disse que ela não era fácil, por isso não conseguiria contar agora sobre nós. Imagine o escândalo? - perguntou Emma.
- Tem razão, mas um dia você terá que enfrentá-la. - disse Regina.
Emma assentiu, mas temia a reação de Mary. Sabia que não seria fácil e a mãe era extremamente controladora e as vezes não sabia como agir diante de algumas situações relacionadas a ela.
- Vamos tomar um sorvete? Preciso de doce para me acalmar! - disse Emma tentando recuperar-se.
Regina assentiu. Sentaram-se em um banco a poucos metros da sorveteria.
- Se eu a apresentando como amiga foi essa treta toda, imagine se eu chegasse falando que você é a minha namorada? É capaz dela expulsar nós duas a vassouradas! - disse Emma.
Regina soltou o ar dos pulmões.
- Ah, mas ela vai pagar a língua… - disse Regina.
Emma assentiu ainda chateada.
- Pistache é o melhor sorvete da face da terra! - disse Regina tentando fazer Emma esquecer de tudo.
A loira sorriu.
- Digo que é abaxi ao rum! - disse Emma deitando-se no ombro de Regina e fazendo-a sujar o canto da boca com sorvete.
- Aí! - exclamou Regina.
- Foi sem querer! - disse Emma levantando-se.
- Eu sei, amor! - disse Regina.
Lucy, Kristin e Lily saíram para não terem que aguentar o mal humor de Mary. Lucy também queria tomar sorvete e estava esperando a mãe e a irmã comprarem o delas.
- Deixa que eu limpo… - disse Emma beijando o canto da boca de Regina.
Lucy estava olhando naquela direção e percebeu que era a prima com a amiga.
- Mãe, a minha prima Emma é sapatão? - perguntou Lucy inocentemente.

O sabor do pecadoWhere stories live. Discover now